sexta-feira, janeiro 27, 2006

O país das maravilhas

Esta manhã, ouvi uma senhora peixeira gritar, com todas as suas forças, que este país é uma vergonha. Eu, que de manhã não costumo ouvir nada nem ninguém, fiquei espantado. Só passadas umas horas é que comecei, com a ajuda de um valente café, a pensar nas palavras da senhora peixeira. Portugal é uma vergonha, Portugal é uma vergonha. Já estou a ficar envergonhado. Mas, para que não me comecem a insultar, passo a explicar as razões que me levam a concordar com a peixeira, que é uma grande senhora, como já referi.

Portugal começa por ser uma vergonha logo no seu centro do poder. José Sócrates, por muito feminista que seja (sim, feminista, porque todo o homem que é histérico só pode ser feminista), não consegue convencer nem um cego a deixar de tentar de ler como as pessoas que podem desfrutar da dádiva que é a visão. Com efeito, a incompetência do nosso primeiro-ministro é demasiadamente grande para que possa ser descrita detalhadamente. Mesmo assim, fica a menção.

As eleições. Na semana passada, assistiu-se à maior parolice que se podia assistir num país supostamente civilizado como o nosso. As eleições presidenciais. Quem é que disse a Manuel Alegre que ficava bem a um trovador armar-se em Knight Rider dos fracos e oprimidos? Pelo que sei, andar pelas ruas a pregar a desagregação dos sistemas partidários ainda é a mesma coisa que dizer que a política é um grande, mas mesmo grande, monte de palha pronto a comer pelos burros famintos. Manuel Alegre não tinha uma sequer ideia para o país. Tinha ódio. Queria vingança. Ou o reconhecimento que nunca lhe deram. Por outro lado, as eleições presidenciais também serviram para se perceber que Portugal, apesar de já não ser um país às direitas, é um país onde qualquer labrosta pode advogar a santidade e a pureza da alma. Veja-se o caso do infame «Olhos nos olhos» de Francisco Louçã. Sinceramente, depois de olhar para o cartaz do Bloco de Esquerda, tive a sensação de que as forças do mal me queriam devorar a alma sem piedade ou misericóridia. Porém, apesar de todas as contrariedades, lá estava o homem, impávido e sereno, a dizer, sem qualquer tipo de vergonha na cara, que para ele é tudo olhos nos olhos. Finalmente, e para não se pensar que neste país só se vive de circo, tivemos o caso de um homem que ganhou as eleições presidenciais sem dizer uma palavra. Só por isso mereceu a maioria.


Fugindo um pouco da política, sabe-se que em Portugal as coisas não são melhores porque as pessoas não querem que nada melhore. Por exemplo, todo o mundo sabe que o melhor que aconteceu ao país nos últimos tempos foi Pedro Santana Lopes. Ora, Santana, o Breve, embora mal sabendo ler ou escrever, tinha jeito como poucos para divertir a malta. Nunca me esquecerei de um dos seus mais famosos discursos enquanto primeiro-ministro, que começava e acabava com as seguintes palavras: «O meu nome é Pedro Santana Lopes.» Saber de economia para quê? O país não melhora de qualquer maneira.


Quanto à burocracia, nem são precisas muitas palavras, já que também eu me começo a envergonhar. Sem mais demoras, deixo aqui um pequeno exemplo de como as coisas por aqui demoram tempo e dinheiro. No outro dia, precisei de contactar com um serviço de acção social qualquer, já não me lembro bem por que razão. Porém, para começar, a chefe de secção da burocracia, espantem-se, chamava-se Gina. Isso mesmo. Não é de imaginar que, com uma pessoa com esse nome, apareça uma actriz pornográfica a querer trocar um felácio por meia dúzia de tostões? É, não é? Pois é. Depois, a Gina tratou-me mal e disse que o Estado não chega para tudo, embora eu saiba que o Estado por aqui é tudo, o que me leva a pensar que há aqui qualquer tipo de contradição. Seguidamente, fui despachado para um corredor onde me disseram, horas depois, que a secção ia fechar. Fui para casa sem ter feito nada. Enfim.


Julgo que não serão precisos mais argumentos para que o leitor perceba que está a ler uma pessoa que tem de viver num país que é uma vergonha. Mas mais vergonha tenho eu, que nem dinheiro tenho para comprar um bilhete de avião.

[Paulo Ferreira]

1 comentário:

Anónimo disse...

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