domingo, março 29, 2009

Coincidências



Há coincidências boas no dia-a-dia, como esta: ir comprar a GQ de Abril por causa do Kill Bill vol. 2 e da entrevista ao Fernando Lopes (juro) e ficar também, por acréscimo, com a Cláudia Borges seminua na mesa da sala.

Debbie Harry



Debbie Harry tem 64 anos. Mas não muda. Para mim, será sempre a voz sensual e desvairada dos Blondie, uma das melhores coisinhas dos anos 80 (tendo em conta que, na música, os anos 80 começam em finais de 70). Os Blondie conseguiam reunir alguns tiques dos anos 80, misturá-los com um dos motores mais criativos da pop da altura, destacar-se sempre de todas as outras bandas de pop-rock, ser um (modesto) bastião da música punk e ainda oferecer ao mundo uma figura como Debbie Harry, uma grande vocalista que é também uma gaja boa - e não há nada melhor do que ter à frente de uma banda uma gaja boa que é também uma voz inesquecível. Enfim, uma encruzilhada coesa e coerente de várias influências e experiências musicais. A voz de Debbie é forte, sexual, ofensiva, intimidatória, convidativa. Tudo isso e mais qualquer coisinha. Os Blondie acabaram por volta de 1983 e voltaram no final dos anos 90, mas nunca voltaram a ser o que eram: a magia dos eighties estava morta e, como quase todos, não se conseguiram renovar. No entanto, houve algo que continuou a brilhar: a voz de Debbie Harry. Se os Blondie não foram uma das melhores bandas (e agradeço as influências que trouxeram aos também excelentes Garbage) de sempre, e uma das grandes referências da música pop, então não sei que magia fazer para convencer as pessoas disso senão dizer estas duas palavras: Debbie Harry.

domingo, março 22, 2009

Mais uma aula dos Coen



Burn After Reading (2008), dos irmãos Ethan e Joel Coen

Em forma

A Maria da Paz Soares. Uma que escreve. Todos os anos publica um livro de poemas e todos os anos muda de amante que é para manter os cornos do marido em forma. É público, não há quem não saiba.

José Cardoso Pires, O Delfim

O estado das coisas

sexta-feira, março 20, 2009

Medo de dormir

Há pessoas que não gostam do sono, que têm medo de ir dormir. Tal como as crianças. São infantis? Não... longe disso. Repare-se que é uma das mais básicas associações com o medo da morte, que só a inteligência da infância compreende. Tal como o sono, a morte é indesejável mas inevitável, e está coberta de um grande véu negro de mistério (quem consegue realmente estar consciente durante o sono?). E, para dizer a verdade, não há nada mais saudável do que ter medo da morte.

É como aquela velha máxima em defesa do medo de andar de avião: se Deus quisesse que o Homem voasse, tinha-lhe dado asas.

Another man down

O Insónia (a.k.a. antologia do esquecimento) acaba hoje, por decreto-lei do Henrique Fialho. E ainda dizem que o Sócrates não anda a dar cabo deste país. Vede, incréus!

Ficam os votos de quem acompanhou o blogue por muitos e bons anos. Poucos poder-se-ão gabar de tão duvidosa mas honesta honra. Com esperança: até já.

quinta-feira, março 19, 2009

Do apelo do sangue



We Own The Night (2007), realizado por James Gray

terça-feira, março 17, 2009

Lévi-Strauss e a defesa do individualismo



Claude Lévi-Strauss é figura académica que, logo pelo facto de ser francês/belga (qual delas a pior proveniência), sempre causou a um anglófilo como eu a maior das desconfianças. Daqueles lados, assim num primeiro pensamento rápido, só aproveitava Camus e o Astérix de cada país respectivamente, e jurar-me-ia morto antes de me dar ao trabalho de ler estruturalistas.

Mas, de facto, nem tudo é lixo vindo daquelas bandas, e Lévi-Strauss, na sua abordagem antropológica do lugar de cada sociedade no mundo, faz o seu sentido. Em Raça e História, por exemplo, desconstrói a ideia de «progresso» tal como vista pela sociedade ocidental desenvolvida. Diz ele:

«Os progressos realizados pela humanidade desde as suas origens são tão claros e tão gritantes que qualquer tentativa para os discutir se reduziria a um exercício de retórica. E, no entanto, não é tão fácil, como se pensa, ordená-los numa série regular e contínua. Há pouco mais ou menos cinquenta anos, os sábios utilizavam para os representar esquemas de uma simplicidade admirável: a idade da pedra lascada, a idade da pedra polida, as idades do cobre, do bronze e do ferro. Tudo isto é muito cómodo. Hoje supomos que, por vezes, o polir e o lascar da pedra coexistiram, quando a segunda técnica eclipsa completamente a primeira, isto não acontece como resultado de um progresso técnico espontâneo saído da etapa anterior, mas como uma tentativa para copiar em pedra as armas e os utensílios de metal que possuíam as civilizações mais «avançadas» mas, de facto, contemporâneas dos seus imitadores. Inversamente, a olaria, que a pensava solidária da «idade da pedra polida», está associada ao lascar da pedra em algumas regiões do Norte da Europa».

Lévi-Strauss defende, assim, uma «não-linearidade» do «progresso», ou da ideia de «progresso». Para além do conceito implícito de relativismo, e do perigo da perda dos padrões morais de cada sociedade em nome do convívio de todas, o que resulta (em parte) desta realidade com múltiplas faces é a defesa do individualismo das sociedades, que é um reflexo de uma possível defesa do individualismo humano contra as ditaduras da maioria, sejam políticas, sociais, culturais ou outras. Ou seja, se «o «progresso» (...) não é nem necessário nem contínuo» mas, ao invés, «procede por saltos, ou, tal como diriam os biólogos, por mutações», então o indivíduo tem o direito de ficar estático na sua concepção e participação social face ao «progresso» da sua sociedade, tal como as culturas primitivas têm o direito de fazer a sua evolução segundo padrões culturais próprios, desde que não interfira com o livre desenrolar das outras.

Claude Lévi-Strauss até poderia perder as estribeiras ao ouvir isto, mas se estas ideias não são «primas» das bases teóricas do individualismo então o que serão?

domingo, março 15, 2009

Um pensamento profundo: Clint Eastwood

O vampiro

A minha descoberta deste fim-de-semana foi saber que, para além de um sujeito esotérico que dá pelo nome de Lauro Trevisan, também há um escritor brasileiro chamado Dalton Trevisan (n. 1925), que aliás é um pseudónimo. A descoberta seria banal, se não fosse Dalton ser um bom escritor e, para além disso, uma figura rodeada de uma certa mística: o escritor é conhecido em Curitiba (onde vive, no Brasil) pela sua aversão a qualquer exposição pública, escolhendo resguardar a privacidade e o anonimato que só esse isolamento permitem. Para mais, ganhou mesmo a alcunha de «Vampiro de Curitiba» por essa aversão ao contacto com jornalistas. Uma atitude respeitável, fascinante e muito parecida com a de Herberto Helder. Um mistério que, deva-se dizer, até pode ajudar a vender livros. Eis um excerto do anacoreta de Curitiba em Cemitério de Elefantes:

José desfez o compromisso - como sustentar a família se nada quer com o trabalho? - e não mais se falaram. A moça casou com outro, asinha se apartou. José em voz alta que o pai ouvisse lá da sala:
- Aqui do bichão ela não esquece!

De uma constatação subjectiva

Após mais um programa do interessante A Torto e a Direito, na TVI24 (um canal que é, de longe, melhor, mais profissional e mais sério que a sua «estação-mãe»), fiquei com a certeza: Fernanda Câncio é mesmo muito má, e até surpreendentemente previsível. Visita os clichés todos da «mulher de esquerda socialista», desde as vénias ao (invisível) combate deste governo ao desemprego até ao elogio das leis fascistas de redução do sal no pão. E o pior é que ainda se ofende com as opiniões dos outros - como se fosse possível ela estar errada sobre o quer que seja.

Normalmente, espero muito pouco das pessoas. Logo, não me desiludo. Agora imaginem o que é alguém superar essas «expectativas» pela negativa. Ao ver e ouvir Câncio na TVI24 apercebo-me de que ela é ainda pior do que eu pensava, o que não deixa de ser trágico.

Se a representatividade da senhora era ter uma socialista de jeito, eu podia dar-lhes uma melhor mesmo aqui ao virar da esquina da minha casa. Se a ideia era ter as mulheres inteligentes representadas, a Constança Cunha e Sá já ocupa facilmente essa tarefa e até é bem ofensivo representar essa população com aquele espécime. Agora, se o objectivo era ter ali um jornalista inteligente, cumprem bem o objectivo: a inócua e irritante Fernanda Câncio talvez seja das melhores jornalistas portuguesas da actualidade. O que mostra bem a trampa a que chegou o jornalismo neste país.

A ressurreição de Downey Jr.



Kiss Kiss Bang Bang (2005), realizado por Shane Black

Lex Luthor também pede um bailout



O video é caricato, mas o conceito é brilhante. O que só prova a minha teoria de que a comédia é o mais certeiro e mais profundo dos géneros dramáticos, já que «em nome do riso» toda a gente baixa as defesas (por outro lado, os efeitos nefastos dessa «eficácia» verificam-se com a grande aceitação dos abjectos «documentários» trocistas de Michael Moore). Este video, a que cheguei via The American Scene, suscita várias questões: e se Lex Luthor desse emprego a muita gente? e se Lex Lutho fosse importante para a economia? é importante saber como Lex Luthor perde dinheiro?

O truque é, simplesmente, fazer este exercício: trocar o nome da LexCorp por outro qualquer representado nas economias actuais, e lembrar que este é dinheiro dos contribuintes. No mínimo, ajuda a pensar.

A idealização de Soljenitsyne



Alexander Soljenitsyne é, no Ocidente, vítima das apropriações e expropriações mais livres e arrojadas possíveis. Para uns, um traidor e um dissidente. Para outros, um mártir e um ídolo. Ambos se perdem na representação do homem e se esquecem de ler com atenção o que ele escreve e o que ele diz acerca das sociedades contemporâneas - em especial, a sua ideia de Rússia. Ou sejam, ambos estão errados, pelo menos nma boa parte.

Soljenitsyne era um dissidente, sim. Mas não um traidor. Embora já tivesse nascido «soviético», nunca deixou de ser um russo antes de tudo o resto, e o nacionalismo presente na retórica do PCUS não eram suficientes para patriotismo avassalador de Soljenitsyne, que acreditava numa Rússia maior do que o comunismo, maior do que qualquer ideologia ou objectivo, maior do que o próprio homem.

E aqui está uma das características que muitos, na sua ânsia de idealizar o «inimigo dos nossos inimigos», esqueceram: Soljentsyne acreditava na pátria acima do homem, como entidade espiritual imortal e etérea. Ou seja, era um mártir dos gulags, sem dúvida, mas não devia ser um ídolo para o comum dos ocidentais, confortável (e com razão) na sua sociedade de consumo. Soljenitsyne acreditava que era pelo espírito que o homem poderia encontrar a sua razão de ser e que o materialismo destruiria o homem - como, supostamente, na segunda metade do século XX já havia destruido o Ocidente.

Tenho dúvidas em afirmar, como a voz do consenso afirma, que Soljentsyne fosse um «verdadeiro liberal», ou mesmo um «herói da liberdade». O escritor tinha as suas razões para não gostar da URSS, que eram as mesmas que o Ocidente liberal tinha. Tinha a sua visão da decadência espiritual do Ocidente. E até tinha a sua razão quando dizia, em discursos em Harvard em 1978 (publicados, sugestivamente, com o título O Declínio da Coragem), que os países ocidentais, e em especial os EUA, compactuaram com o fortalecimento da União Soviética sob a batuta de Lenine. Mas Soljenitsyne também acreditava que a Mãe-Rússia, e um verdadeiro nacionalismo russo, seriam bons motivos para erguer um Estado com mão de ferro. Razões essas que, num acaso histórico, não encontrou na União Soviética.

A forma mais saudável de admirar um escritor é apreciar a sua obra escrita e respeitar a sua visão da história ou do seu tempo. Definitivamente, não é santificar um homem e dizer dele o que nós queremos que seja, e não o que ele é.

quinta-feira, março 12, 2009

Cadeia alimentar acima

You follow drugs, you get drug addicts and drug dealers. But you start to follow the money and you don't know where the fuck it's gonna take you.


Lester Freamon, em The Wire, Ep. 9 da 1ª Temporada

O estado das coisas

terça-feira, março 03, 2009

Shit rolls, piss trickles



DANIELS - Gotta go upstairs

KIMA - What's up?

DANIELS - Deputy's throwing some kind of piss-fit.

KIMA - Major know?

DANIELS - He's up there now.

CARVER - With a mouthful of piss, probably.

HERC - Like our major don't know what that tastes like? It's the chain-of-command, baby. The shit always rolls downhill.

CARVER - Motherfucker, we talking about piss.

HERC - Piss does too, think about it.

CARVER - Shit rolls, piss trickles.

HERC - Downhill, though.



(The Wire, Ep. 1, Season 1)

No leitor de DVD



À custa de muita propaganda, juntei-me ao clube de fãs.

O Magalhães na vanguarda da teconologia

Socialização do Magalhães

É impressão minha ou José Sócrates, no discurso final do Congresso do PS (ambos, discurso e congresso, foram vazios e infantis) juntou, na mesma frase, «computadores Magalhães» e «socialização»? Fui procurar ao dicionário os significados possíveis da suposta socialização: acto ou efeito de socializar; desenvolvimento do sentimento colectivo da solidariedade social e do espírito de cooperação nos indivíduos associados; processo de integração mais intensa dos indivíduos no grupo.

A pergunta impõe-se: será que o engenheiro Sócrates acha mesmo que um computador datado vai ajudar à «cooperação» ou «integração» dos alunos na sociedade? Ou, para ser mais directo, será que o engenheiro Sócrates acha que as pessoas são assim tão fáceis de convencer?

segunda-feira, março 02, 2009

XVI Congresso do PS



Foi um Congresso com grande discussão de ideias e muita diversidade de opiniões. Ou não.