terça-feira, março 17, 2009

Lévi-Strauss e a defesa do individualismo



Claude Lévi-Strauss é figura académica que, logo pelo facto de ser francês/belga (qual delas a pior proveniência), sempre causou a um anglófilo como eu a maior das desconfianças. Daqueles lados, assim num primeiro pensamento rápido, só aproveitava Camus e o Astérix de cada país respectivamente, e jurar-me-ia morto antes de me dar ao trabalho de ler estruturalistas.

Mas, de facto, nem tudo é lixo vindo daquelas bandas, e Lévi-Strauss, na sua abordagem antropológica do lugar de cada sociedade no mundo, faz o seu sentido. Em Raça e História, por exemplo, desconstrói a ideia de «progresso» tal como vista pela sociedade ocidental desenvolvida. Diz ele:

«Os progressos realizados pela humanidade desde as suas origens são tão claros e tão gritantes que qualquer tentativa para os discutir se reduziria a um exercício de retórica. E, no entanto, não é tão fácil, como se pensa, ordená-los numa série regular e contínua. Há pouco mais ou menos cinquenta anos, os sábios utilizavam para os representar esquemas de uma simplicidade admirável: a idade da pedra lascada, a idade da pedra polida, as idades do cobre, do bronze e do ferro. Tudo isto é muito cómodo. Hoje supomos que, por vezes, o polir e o lascar da pedra coexistiram, quando a segunda técnica eclipsa completamente a primeira, isto não acontece como resultado de um progresso técnico espontâneo saído da etapa anterior, mas como uma tentativa para copiar em pedra as armas e os utensílios de metal que possuíam as civilizações mais «avançadas» mas, de facto, contemporâneas dos seus imitadores. Inversamente, a olaria, que a pensava solidária da «idade da pedra polida», está associada ao lascar da pedra em algumas regiões do Norte da Europa».

Lévi-Strauss defende, assim, uma «não-linearidade» do «progresso», ou da ideia de «progresso». Para além do conceito implícito de relativismo, e do perigo da perda dos padrões morais de cada sociedade em nome do convívio de todas, o que resulta (em parte) desta realidade com múltiplas faces é a defesa do individualismo das sociedades, que é um reflexo de uma possível defesa do individualismo humano contra as ditaduras da maioria, sejam políticas, sociais, culturais ou outras. Ou seja, se «o «progresso» (...) não é nem necessário nem contínuo» mas, ao invés, «procede por saltos, ou, tal como diriam os biólogos, por mutações», então o indivíduo tem o direito de ficar estático na sua concepção e participação social face ao «progresso» da sua sociedade, tal como as culturas primitivas têm o direito de fazer a sua evolução segundo padrões culturais próprios, desde que não interfira com o livre desenrolar das outras.

Claude Lévi-Strauss até poderia perder as estribeiras ao ouvir isto, mas se estas ideias não são «primas» das bases teóricas do individualismo então o que serão?

2 comentários:

Anónimo disse...

aí que está...se a base do individualismo é cada um fazendo e vivendo sua própria evolução isso é o quê? capitalista? Não...não é não porque eu sou massacrado por não querer ter o carrão do ano e simbolizar o homem carro casa financiamento no nosso processo evolutivo. Mas também não é socialista onde todos precisam pensar igual, ter tudo igual, comer igual, a não ser que eu seja do governo, é claro, vou comer um pouco (muito mais) melhor.
Mas eu não quero ter um carro porra!)

Anónimo disse...

T'es con quoi? Fais chier, merde! Tu te la mets où je le pense, ok?