quarta-feira, junho 25, 2008

Catch me if you can

Será que quando Vale e Azevedo chegar a Portugal, escoltado pela Polícia Judiciária, também se irá interromper uma entrevista televisiva, em directo, de José Mourinho?

terça-feira, junho 24, 2008

Velhos

- Nesta guerra, os miúdos matam por ódio contra o velho que vão ser. Um ódio bastante assustado..

Adolfo Bioy Casares, Diário da Guerra aos Porcos

segunda-feira, junho 23, 2008

O estado das coisas

terça-feira, junho 17, 2008

O país emancipado

A minha humilde contribuição no Sempre a Produzir:

Deve ser um dos maiores lugares-comuns de sempre dizer que o futebol é o entretenimento dos burros, dos analfabetos, e que, como se costuma dizer, «não dá para perceber o interesse de ver vinte e dois tipos a correr atrás de uma bola durante uma hora e meia».

Pois eu, como humilde célula constituinte desta nação de burros e analfabetos, considero-me um devoto do futebol, esse «desporto sem interesse». Gosto de golos, fintas, craques, mascotes, tácticas perfeitas, jogadores conflituosos, santos, pecadores, guarda-redes elásticos e anões que, ao correr, fazem lembrar o Pepe Rápido.

Gosto de tudo isto e até do público português que enche as bancadas. Mas não gosto, desde o malogrado ano de 2004, dos adeptos portugueses.

Não gosto, dizia eu, de adeptos portugueses de futebol desde 2004, desde que Scolari «criou», a partir da sua cadeira do poder, uma nova raça de gente desmiolada que é capaz de atropelar cães e gatos para chegar depressa ao Parque das Nações, onde poderá ter uma oportunidade única na vida de – tal qual o eclipse do Sol, o cometa Haley, um beijinho do Papa ou um bom filme português – ver o jogo da selecção, em directo, juntamente com centenas de pessoas a cheirar a suor estival, a cerveja e a solas de sandália com mijo pisado, ao som de uma banda sonora que, de forma tão portuguesa, passa samba e música de discoteca às cinco da tarde de um dia solarengo.

Adeptos que não concebem outra coisa que não a vitória e que, ainda há poucos anos, apenas conheciam o Figo de vê-lo na Caras, abraçado ao Paulo China num obscuro bar do Algarve, ou, vá lá, o Secretário, por este ter andado a espancar prostitutas e a saltar janelas nos estágios da equipa nacional.

Ah, velhos tempos. Ainda me lembro de 1998, quando eu saía da escola, sem pêlos na cara ou quase em lado nenhum, a correr para ir ver o Croácia-Alemanha ou o Espanha-Nigéria e alguém me perguntava onde é que ficava a Croácia e a Nigéria, logo rindo de seguida (como se o PIB de um país fosse directamente proporcional à qualidade futebolística dos seus jogadores).

Lembro-me de gostar de futebol de selecções quando todos só se interessavam pelos jogos entre os «três grandes» portugueses. Tenho saudades de Mundiais desses, como o de 1998, em que só interessava o futebol, não o fervor nacional de cada um medido à régua (até porque Portugal nem foi apurado), e assim era, graças a Deus, cada um por si.

Ando, por isso, um pouco enjoado da loucura em redor da Selecção Nacional, com direito a novos censores do patriotismo de cada um de nós.

Petróleo a subir até aos píncaros? Crise.
Greves de professores? Sinal do estado das coisas.
Estradas bloqueadas, camiões parados, maternidades encerradas? Este país vai de mal a pior.

Mas quando entra a selecção em campo, para o melhor ou para o pior, o português esquece tudo, chama a Cristiano Ronaldo «o orgulho de todos nós», a Scolari «o representante máximo da nação» (juro que ouvi um jornalista português dizer isto) e obriga o vizinho a pintar a cara de verde e vermelho, sob risco de ser excomungado para sempre do bairro caso não o faça.

Este é daqueles Europeus que tenho visto com atenção, com entusiasmo e até com uma vontade secreta de ver Portugal chegar longe.

Mas ver jogos nos parques integrado na «comunidade», para isso deixem-me de fora. Deixo aos outros essa difícil tarefa de, pela simples vontade, levar um país falhado a emancipar-se por 90 minutos.

domingo, junho 15, 2008

Coisas que não sabia

In the first primaries where Reagan did exceptionally well, he condemned both Ford and Kissinger for their mistaken policy of détente and represented their subservience to the Soviet Union as threatening to make the United States a "second-rate power." Though Reagan failed to take the nomination away from the president, and never considered running as an Independent, repeating the political mistake Roosevelt had made in 1912, he helped give the presdency to Jimmy Carter, the former governor of Georgia. It is impossible to knowwhether Carter's slim majority of a million and a half would have been secured in the absence of the immensely wounding primary battles waged by Reagan against Ford.

Stephen Graubard, The Presidents

Produção

Em resposta ao simpatiquíssimo convite do João Gonçalves, do Sempre a Produzir, escrevi um ressabiado e, nos tempos que correm (no próprio dia de hoje), profano artigo. Está integrado no «ciclo» Outros Bloggers no Sempre a Produzir, para onde já JCS, do Lobi do Chá, escreveu. A minha tese d'O país emancipado está aqui.

Saramago

Gostei da entrevista que José Saramago deu ontem ao Diga Lá, Excelência. E, embora desfasadas da realidade, até mesmo as considerações políticas que Saramago fez têm «direito» a existir. Não precisamos todos de apanhar a mesma frequência. À medida que o tempo passa, vou aprendendo isso. Uns vivem com a cabeça na Lua, outros em Marte, não faz mal: é o planeta deles.

sábado, junho 14, 2008

Homem modelo

Volta pra cama que vou fazer o café.
Servi café com leite, torrada, biscoitos, queijo, mel, iogurte, mamão e tangerina. Desjejum de hotel da serra.
Se eu fosse a titular você ia fazer isso tudo para mim, sempre?
Não sei lavar nem passar roupa.
Basta me foder sempre desse jeito.


Rubem Fonseca, Secreções, Excreções e Desatinos

É proibido proibir a confusão

Gosto do protesto dos camionistas porque há uma parte de mim que gosta de confusão, de anarquia, de encostar o poder às cordas. Pena é a perda da ordem pública e a noção de que as mudanças políticas se fazem à força, nas ruas. Pode valer a pena para abanar Sócrates e os deputados - que muito se entretêm a receber a máfia portuguesa com pompa e circunstância na Assembleia -, mas não deixa de ser perigoso aplaudirmos este tipo de acontecimentos.

sexta-feira, junho 13, 2008

O Método

Homem que escreva ficção mais decadente sem tomar banho não é porco, é um utilizador do Método.

Dividir a unidade em dois

EDDIE: Bem, sabes... o nosso pai apaixonou-se duas vezes. Foi principalmente por causa disso. Uma vez pela minha mãe e outra vez pela mãe dela.

VELHO: Era o mesmo amor. Mas dividiu-se em dois, foi simplesmente isso.


Sam Shepard, Loucos por Amor

Da escrita



A escrita. Uma das profissões mais difíceis do mundo quando levada a sério. Pode, é claro, ser uma das mais desejadas por muitas pessoas. Qualquer homem ou mulher, de criança a velho, que já escreveu com algum afinco, chegou a acomodar a ideia de um dia ser escritor, de ser um autor que alimenta os seus livros com letras mas que é alimentado pelos próprios livros. Pelos lucros, portanto.

Mas não são só as ideias e as letras que alimentam a escrita. É a própria vida do autor que alimenta o livro. A escrita pode sugar toda a vida de quem escreve. Os livros pouco dão ao autor. É uma relação disfuncional, uma relação unilateral em que um dos amantes se dá - e dá mesmo tudo - ao outro e acaba levando tabefe todos os dias, ao fim da noite, quando pensa que dá por encerrada a sua missão diária. Amou e derramou sabedoria, suor, lágrimas e sangue. Falou com, declamou para, gritou a. Mas não teve resposta. O manuscrito não fala de volta. Nem os livros já publicados, nas estantes, nas livrarias, na feira do livro em destaque, numa conferência literária em estudo, numa puta de feira de estação de Metro a um euro, dizem seja o que for ao escritor. O livro, a história, é um produto de uma mente com problemas a resolver, que decide resolvê-los, por experimentação, assim, escrevendo. Escreve-se porque não se tem mais onde pôr estas ideias, estas coisas que nos atormentam. Escreve-se porque se ouve e não se quer esquecer. Porque se pensa e se quer guardar um pensamento para sempre.

Porque a escrita não é mais do que isso. É o sinal da dupla incapacidade humana de conseguir guardar todos os pensamentos rápidos que se tem e de conseguir levar todos os segredos e ideias para a cova. Quando se morre é para sempre, e é por isso que, até lá, se põe tudo o que vale a pena - que passou pela nossa cabeça - em papel, numa escrita que não nos envergonhe nem à nossa língua. Caso se escreve apenas porque é bonito e porque fica bem juntar palavras sem sentido, então não se passa de um artista plástico esteticamente obcecado. É por tudo isto e mais que quem escreve se dispõe a esta relação de amor não correspondido com a folha em branco, uma relação que, muitas vezes, mata como qualquer outra em que «amante deixa amante». É por isso que escrevo. É por isso que todos escrevem e deviam escrever. Mas é por isto, sobretudo, que admiro os escritores profissionais.

Porque sempre estive isolado, Sofia, durante a escola, o liceu, a Faculdade, o hospital, o casamento, isolado com os meus livros por demais lidos e os meus poemas pretensiosos e vulgares, a ânsia de escrever e o torturante pânico de não ser capaz, de não lograr traduzir em palavras o que me apetecia berrar aos ouvidos dos outros e que era Estou aqui, Reparem em mim que estou aqui, Oiçam-me até no meu silêncio e compreendam, mas não se pode compreender, Sofia, o que se não diz, as pessoas olham, não entendem, vão-se embora, conversam umas com as outras longe de nós, esquecidas de nós, e sentimo-nos como as praias em Outubro, desabitadas de pés, que o mar assalta e deixa no baloiçar inerte de um braço desmaiado.

António Lobo Antunes, Os Cus de Judas

quinta-feira, junho 12, 2008

Minicontos no Rio

quarta-feira, junho 11, 2008

O estado das coisas

Continuo a correr atrás do mundo, que parece andar sempre mais rápido do que eu. Mas apanhá-lo-ei um dia destes.

António Lobo Antunes



Homenagem ao escritor português cuja escrita mais representa Portugal.

quinta-feira, junho 05, 2008

Notas rápidas acerca da Feira do Livro



1- voltei a estoirar balúrdios em livros que lá estão todos os anos;

2- o espectáculo que o grupo LeYa fez por causa das suas barraquinhas não corresponde ao recinto vulgaríssimo que têm no Parque Eduardo VII, cheio de agentes dos serviços secretos a guardar as entradas;

3- andar na Feira do Livro de Lisboa continua a ser cansativo.

Taxitramas



Descobri, recentemente, uma versão bem mais simpática de Taxi Driver, das histórias nocturnas dos confins das grandes cidades. Esta versão, sem desejos de matar o Presidente (digo eu), é Taxitramas. Mauro Castro, o autor do blog, é um taxista de Porto Alegre que põe no papel as mil e umas histórias que passa por si, ou pelo banco traseiro do seu táxi, no dia-a-dia. O resultado é um dos melhores e mais originais blogs que tenho encontrado na blogosfera.

quarta-feira, junho 04, 2008

Ferreira Leite e o regresso da confiança

Muito se tem discutido os dotes políticos e financeiros (dotes, no entanto, indiscutíveis por princípio) de Manuela Ferreira Leite, as rugas e a cara da senhora e o passado da mesma, nomeadamente na Educação e nas Finanças. Mas o mais importante com a escolha de Ferreira Leite para liderar o PSD nas próximas eleições - e nas que se seguirão, espero - não tem sequer a ver com os dotes pessoais da senhora. Tem, sobretudo, e isto é o mais importante desta viragem política, a ver com a confiança que trouxe ao partido, a credibilidade de um projecto que não vem preconcebido para a Rua de São Caetano, mas sim sujeito à apreciação e a desvios que dependerão do contexto socio-económico e não da vontade popular. É esta credibilidade que, por fim, permitirá regressar ao partido figuras que não dependem de funções no governo para ter reformas gordas, que não querem a oportunidade política para manter a posição no governo para depois da próxima eleição, mas que querem, isso sim, aplicar a experiência e a leitura que fazem dos tempos que correm.

Seja dito que eu não tenho ilusões com este PSD que agora se tenta reconstruir, mas tenho, no mínimo, confiança num projecto que se vai desenhando. E se isso me anima a mim, imagine-se a vontade de «voltar» que crescerá em muito boa gente - que nos faz falta há alguns anos na política.

terça-feira, junho 03, 2008

Feira do Livro

Francisco José Viegas agitou-me a consciência por causa deste texto magnífico, uma declaração de amor incondicional. Lá terei eu de ir hoje à Feira do Livro, porra. Transcrevo o texto para aqui, à descarada:

Gosto da Feira do Livro com as barraquinhas. Gosto de ir lá à tarde e de encontrar amigos, gente que não vejo há muito tempo, trocar «notícias» por «notícias». Gosto de ir às barraquinhas de livros velhos, stocks, obras completas de Mao, Escritos Escolhidos de Lenine, A Cozinheira Ideal ou os John Le Carré em hardcover. Gosto de comprar Rex Stouts repetidos. Não gosto de novidades na Feira; prefiro livros de há anos, são esses os que procuro, os que perdi e que quero repor na estante. Gosto de comprar livros por 1€, 3€, 5€. Gosto de encontrar amigos a dar autógrafos e de ir para as filas pedir-lhos. Gosto de churros com chocolate (este ano estão a 2€, o que é um assalto). Gosto das cores das barraquinhas. Gosto dos grupos que se sentam ao sol, na relva do Parque. Gosto de encontrar editores que vão sempre à Feira. Gosto de gente que atravessa a Feira assinalando títulos nos catálogos. Gosto da Feira com ar saudável e relativamente anárquico, com cadeirinhas na calçada onde autores se sentam perto de quem passa, com ar desprotegido (por isso é que se reconhece um editor; é ele que está lá, ao lado, a fazer companhia). Gosto de ir à Assírio & Alvim perguntar se tem o Equador. Gosto da Feira com sol, gosto quando chove. Gosto quando o MJM me telefona a dizer que encontrou um livro meu com uma fotografia que nem vista se acredita. Gosto das sacolas pretas da Tinta-da-China e de ficar por ali. Gosto das cores da Oficina do Livro. Gosto de ir à Guimarães Editores, à Relógio d'Água ou às bancas da Vampiro. Sinto-me um provinciano feliz que está onde quis ir. À Feira.

Gosto deste tipo de prosa, perfeita, que me faz querer ir aos sítios.

segunda-feira, junho 02, 2008

Sem fuga

Está em todo o lado. Não há como fugir. O que ainda não consegui perceber é se sou eu que não consigo tirar os olhos das mamas da Nereida Gallardo, se são as mamas da senhora que pululam por todos os jornais, sites, revistas e esquinas conhecidas.

Mugir e pastar

Acerca de um texto em Word, pediram-me para fazer copy e depois «pastar». Até senti os cornos a brotarem-me das têmporas.

Promessa

Fica desde já prometido que, um dia destes, faço um post como deve ser.

True story

Disse a alguém que agora gostava de Agualusa. Esse alguém perguntou-me, surpreendido, se só agora é que tinha descoberto a água do Luso. Eu disse que sim, só agora.

Agualusa

Comprei hoje a revista LER de Junho, pela primeira vez após anos de separação. Um dos primeiros que me calhou ler foi José Eduardo Agualusa, numa rubrica chamada O Lugar do Morto. Torcia o nariz aos livros de Agualusa, é certo, sobretudo após a leitura de algumas coisas de Mia Couto, que, tirando a simpatia pela linguagem popular das suas personagens, pouca ou nenhuma paixão me despertou. Não sei porquê, associava um escritor a outro. Mas, depois de ler esta rubrica, tive esta outra ideia: Agualusa é bom.

Dois excertos da crónica do homem:

Obama declama e Hillary ri. Não tem de que rir, a hilária (...).

Agrada-me em Obama algo que me aborrece em Hillary - a virilidade. São dois machos alfa em competição, o que estaria muito bem não se desse o caso de um deles ter como marido um outro macho alfa. Por outro lado, tenho de confessar que quase m comove em Hillary a sombra simpática de Bill, o saxofonista. Não há como olhar para ela sem que nos venha à memória o burlesco episódio da sala oral.

Pais e filhas



Para animar a política, e com algum trabalho, até se punha Meghan, a roliça filha de John McCain, na Casa Branca a ajudar o pai. Eu, por exemplo, nem me importava muito.

Vertigo



Agora que menos tempo tenho passado em Setúbal, noto a ausência de alguns locais importantes para a minha sanidade. Um deles é o forte de São Filipe. Do alto das muralhas, olhando lá para a baixo, um homem sente simultaneamente uma terrível e vertiginosa vontade de se atirar no vazio e um medo enorme de ser empurrado. A morte e a omnipotência misturam-se de forma perigosa naquela altura mais do que épica. E, depois, é um óptimo sítio para desaparecer da civilização de vez em quando, em alternativa à casa ser trancada a sete chaves.

domingo, junho 01, 2008

Directos, especiais e afins

Eu, que adoro futebol, chego quase a perder toda a vontade de ver jogos da selecção nacional assim que as estações televisivas começam com a festarola da grossa em redor dos estágios e da «festa do futebol». Toy e companhia começam a encher os fins-de-semana, nos quais eu esperava ver um pouco de futebol aqui e ali, e logo se estraga um dia de descanso. Saber que o Quaresma hoje estava de intestinos presos ou que o Miguel Veloso disse, quando acordou, que «estava feliz», enquanto a tragédia nacional (com notícias sobre a especulação petrolífera) passa em rodapé, é o retrato de uma miséria de país. Parece cliché dizer isto, mas já não há mesmo paciência para os «especiais» e os «directos» com a selecção e a partir do local do estágio dos «incríveis» em Viseu, na Áustria ou no cu de Judas.

Work in progress

Ainda com Aron

O sistema francês «desnacionaliza», como que apaga a tradição original dos imigrantes; o sistema americano, esse, sobrepõe ao fundo cultural dos imigrantes os valores e os modos de conduta tipicamente americanos. O sistema francês sofre, em contrapartida, duma grande fraqueza, pois cria intelectuais em vez de cidadãos.

Raymond Aron, A Revolução Inexistente