Porque sempre estive isolado, Sofia, durante a escola, o liceu, a Faculdade, o hospital, o casamento, isolado com os meus livros por demais lidos e os meus poemas pretensiosos e vulgares, a ânsia de escrever e o torturante pânico de não ser capaz, de não lograr traduzir em palavras o que me apetecia berrar aos ouvidos dos outros e que era Estou aqui, Reparem em mim que estou aqui, Oiçam-me até no meu silêncio e compreendam, mas não se pode compreender, Sofia, o que se não diz, as pessoas olham, não entendem, vão-se embora, conversam umas com as outras longe de nós, esquecidas de nós, e sentimo-nos como as praias em Outubro, desabitadas de pés, que o mar assalta e deixa no baloiçar inerte de um braço desmaiado.
António Lobo Antunes, Os Cus de Judas
sexta-feira, junho 13, 2008
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