segunda-feira, janeiro 30, 2006
E eu a pensar na pobreza
[Paulo Ferreira]
domingo, janeiro 29, 2006
Aquecimento global (ou neve escatológica)
[Paulo Ferreira]
sábado, janeiro 28, 2006
sexta-feira, janeiro 27, 2006
O país das maravilhas
Portugal começa por ser uma vergonha logo no seu centro do poder. José Sócrates, por muito feminista que seja (sim, feminista, porque todo o homem que é histérico só pode ser feminista), não consegue convencer nem um cego a deixar de tentar de ler como as pessoas que podem desfrutar da dádiva que é a visão. Com efeito, a incompetência do nosso primeiro-ministro é demasiadamente grande para que possa ser descrita detalhadamente. Mesmo assim, fica a menção.
As eleições. Na semana passada, assistiu-se à maior parolice que se podia assistir num país supostamente civilizado como o nosso. As eleições presidenciais. Quem é que disse a Manuel Alegre que ficava bem a um trovador armar-se em Knight Rider dos fracos e oprimidos? Pelo que sei, andar pelas ruas a pregar a desagregação dos sistemas partidários ainda é a mesma coisa que dizer que a política é um grande, mas mesmo grande, monte de palha pronto a comer pelos burros famintos. Manuel Alegre não tinha uma sequer ideia para o país. Tinha ódio. Queria vingança. Ou o reconhecimento que nunca lhe deram. Por outro lado, as eleições presidenciais também serviram para se perceber que Portugal, apesar de já não ser um país às direitas, é um país onde qualquer labrosta pode advogar a santidade e a pureza da alma. Veja-se o caso do infame «Olhos nos olhos» de Francisco Louçã. Sinceramente, depois de olhar para o cartaz do Bloco de Esquerda, tive a sensação de que as forças do mal me queriam devorar a alma sem piedade ou misericóridia. Porém, apesar de todas as contrariedades, lá estava o homem, impávido e sereno, a dizer, sem qualquer tipo de vergonha na cara, que para ele é tudo olhos nos olhos. Finalmente, e para não se pensar que neste país só se vive de circo, tivemos o caso de um homem que ganhou as eleições presidenciais sem dizer uma palavra. Só por isso mereceu a maioria.
Fugindo um pouco da política, sabe-se que em Portugal as coisas não são melhores porque as pessoas não querem que nada melhore. Por exemplo, todo o mundo sabe que o melhor que aconteceu ao país nos últimos tempos foi Pedro Santana Lopes. Ora, Santana, o Breve, embora mal sabendo ler ou escrever, tinha jeito como poucos para divertir a malta. Nunca me esquecerei de um dos seus mais famosos discursos enquanto primeiro-ministro, que começava e acabava com as seguintes palavras: «O meu nome é Pedro Santana Lopes.» Saber de economia para quê? O país não melhora de qualquer maneira.
Quanto à burocracia, nem são precisas muitas palavras, já que também eu me começo a envergonhar. Sem mais demoras, deixo aqui um pequeno exemplo de como as coisas por aqui demoram tempo e dinheiro. No outro dia, precisei de contactar com um serviço de acção social qualquer, já não me lembro bem por que razão. Porém, para começar, a chefe de secção da burocracia, espantem-se, chamava-se Gina. Isso mesmo. Não é de imaginar que, com uma pessoa com esse nome, apareça uma actriz pornográfica a querer trocar um felácio por meia dúzia de tostões? É, não é? Pois é. Depois, a Gina tratou-me mal e disse que o Estado não chega para tudo, embora eu saiba que o Estado por aqui é tudo, o que me leva a pensar que há aqui qualquer tipo de contradição. Seguidamente, fui despachado para um corredor onde me disseram, horas depois, que a secção ia fechar. Fui para casa sem ter feito nada. Enfim.
Julgo que não serão precisos mais argumentos para que o leitor perceba que está a ler uma pessoa que tem de viver num país que é uma vergonha. Mas mais vergonha tenho eu, que nem dinheiro tenho para comprar um bilhete de avião.
[Paulo Ferreira]
Messias
[João Carlos Silva]
Algo que vale a pena
*muito embora os números «dedicados a» (algum artista), como hoje, sejam dispensáveis, pela repetição e saturação do espaço da revista.
[João Carlos Silva]
A bondade de um escritor
Costumo dizer a amigos mais próximos que Namora foi um escritor sem maldade. Embora isso seja, normalmente, afirmado em conversas de café, não deixo de pensar que talvez a coisa tenha o seu sentido. Vejamos: quando me refiro à ausência de maldade na obra de Namora, refiro-me, por exemplo, à preocupação extrema que por vezes trespassa do autor para as suas personagens. Assim, mesmo a mais nauseabunda das personagens é sempre dotada de um cariz humanista ou, se se preferir, de um cariz dotado daquilo a que muitas vezes se dá o nome de piedade. Dir-se-ia que Namora, em vez de expor as suas personagens à humilhação, expõe-as a um sofrimento piedoso. As suas personagens sofrem de fome ou de doença mas nunca deixam de ser pessoas. É essa a memória que me fica dos livros de um médico que, antes de ser escritor, já era homem.
[Paulo Ferreira]
O monstro
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Hamas no poder (primeira declaração de intenções)
Conferência do partido político recentemente eleito na Palestina
Durante algum tempo, em alturas de «decisão para o Iraque», tive sempre algumas reticências em relação às operações militares. A minha dúvida - que, para ser justo, é antes uma crença pessimista, mas firme - era a de que um sistema democrático (electivo, ocidental) «implantado», mesmo que virtualmente, num país muçulmano com pouca tradição de liberdade, paz ou contacto com outra cultura que não a do Corão armado, falharia. Ou seja, que a guerra justa para retirar Saddam, ditadorzinho petulante da região, do poder político do Iraque, e consequentemente retirar-lhe o poder pessoal sobre as armas que teria ao seu dispor, só seria «feliz» pela iniciativa e pelos resultados a curto prazo. Ainda assim, apoiei a decisão. Pela acção. Mesmo que o planeamento estratégico e político (para o território iraquiano) tenha sido um fracasso. Ainda que, surpreendentemente, o povo iraquiano tenha mostrado sinais, mais que louváveis, de maturidade e inteligência, ignorando os ortodoxos islâmicos, continuo com a crença de que eleições em países povoados por políticos fundamentalistas ou alucinados são uma faca de dois gumes. E esse pessimismo foi «correspondido» hoje: o Hamas ganhou na Palestina.
Enquanto Jesus Cristo se sentava numa pedra e falava de amor a todos (mesmo romanos), Maomé, num dos seus famosos ataques epilépticos, entrou num estranho transe no qual contactou com o arcanjo Gabriel, que lhe ordenou a pregação. A pregação, é claro, teria de implicar expansão. Pela espada. Ora, o Profeta Maomé escolhera a espada, e na História não se pode mexer na raiz das «coisas». Essa foi a via escolhida para os seus seguidores, segundo expresso no Corão.
Por isto, poder-se-ia dizer que um muçulmano moderado é alguém que não quer ser muçulmano, ainda que acredite num Deus único. Também por isto, chamar fundamentalista a um ortodoxo não é, de facto, um insulto. Os fundamentos estão lá desde o séc. VII. E, como é óbvio, o Corão não prevê qualquer coexistência pacífica com qualquer povo que interfira no devir muçulmano.
Kofi Annan, como sempre, falou de negociações de paz e de desarmamento, mas como negociar com um governo que acredita ainda no que referi? Sobretudo, como falar de acordos com um governo terrorista agora legitimado pelos próprios palestinianos? Algo está errado, é verdade, mas apenas para os ocidentais. Porque não há, decerto, anormalidade nos projectos (do Hamas) para os tempos que se seguem.
Diz Joel C. Rosenberg hoje na National Review Online: «In the end, while Sharon won widespread international plaudits by retreating from Gaza, he also sent the dangerously destabilizing message to the Palestinian people that terror, not negotiations, is the only way to regain territory. Was this not precisely the opposite of the message Mr. Bush has been trying to communicate in the War on Terror? [...] Specifically, President Bush should greet the Hamas victory with a policy of "Three No's" — no recognition, no negotiations, and no funding».
Rosenberg tem a visão correcta sobre o assunto, ainda que reticente quanto à capacidade do governo americano de segurar mais um «ponto quente» no Médio Oriente. Esse, parece-me, é a circunstância mais grave dos tempos actuais. Com um líder alucinado no Irão e com um partido como o Hamas no poder na Autoridade Palestiniana, o mundo parece estar a dar uma grande volta. E, porque esta é uma altura de decisões, há que definir o que cada um quer, o que cada um de nós está disposto a dar pelas escolhas. Porque, a menos que se queiram converter ao Islão ou tenham um burguês repúdio pelo Estado livre de Israel, só há um lado a escolher. E eu há muito que escolhi o meu.
[João Carlos Silva]
O caso do prefácio
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, janeiro 25, 2006
A coluna de JAD
[João Carlos Silva]
Retaliar
Ora, Chirac, ao dizer tal cretinice, não se apercebera disto: abrira um precedente. Mas não me refiro ao facto de sugerir às organizações e mecenas terroristas uma nova arma - precedente desnecessário porque já aberto no dia em que a própria arma nuclear surgiu, ao dispor dos mesmos. Nem me refiro sequer, se tivesse um laivo de antiamericanismo, à possibilidade de «abrir caminho» para as outras potências terem a mesma posição.
Não, refiro-me, é claro, a um problema bem mais simples. Bem mais «nosso». Logo, bem mais grave. Ou seja, o impacto que aquelas declarações tiveram em Portugal. Ao dizer que responderia com martelo a uma violenta picada de alfinete, Chirac deu, aos portugueses mais castiços, uma nova visão de defesa do país.
Tomemos como exemplo o senhor Joaquim, do café (e aproveito aqui, num instante, para lhe mandar um abraço). Agora, é vê-lo responder, à menor desconfiança, da forma mais violenta. De facto, à semelhança dos gauleses, também nós não queremos que mexam no que é nosso, no qual está incluído está incluído o nosso corpo (o senhor Joaquim sublinha este ponto) e a nossa «terra». E esta é demasiado pequena para correr esse risco.
Ora, ainda outro dia, o senhor Joaquim, ao ver surgir na televisão a face carismática do senhor presidente do Irão, bradou de imediato: «Ah, pantomineiro! No meu Portugal não te atrevas a mexer! Aqui é que não vais rezar...». E atirou uma colher de café ao écrã.
Mas este fervor defensivo também acontece a nível pessoal. Agora, ao menor sinal de calote, o senhor Joaquim, bem haja, não hesita, no seu café, em usar dos mais surpreendentes meios de retaliação para contornar o hábito de crédito ultraesticado dos clientes. Isto é, não hesita, no seu café, em tirar, de trás do balcão, um pau de marmeleiro enrolado no 24 Horas: «Na minha casa não! Ai isso é que não!», sendo casa o termo afectuoso, de levar às lágrimas, para se referir ao seu café.
De facto, até Portugal se tornou um país demasiado pequeno para não se dar ao luxo de se defender a todo o custo, com tudo o que tem. E, para além de se defender com tudo o que tem, de retaliar com mais do que tem. Aliás, quando Durão Barroso, herói homérico dos subsídios da União Europeia, promete um futuro melhor para os portugueses, o senhor Joaquim não perdoa. Em cada coçar do interior da orelha há um pensamento subentendido, ressabiado com a caridade dos «outros» para com a nossa humilde mas esforçada terriola: «Não perdes pela demora...».
Aliás, acerca de nós, não deixa de ser revelador que, de um português que emigre, por exemplo, para Paris ou Salamanca, nós digamos que «foi trabalhar para a Europa». Então e nós? Ficámos no Norte de África?
E porque Portugal é tão pequeno, o senhor Joaquim protege-o agora contra tudo e contra tudos. Para mais, graças ao exemplo de Chirac, sonha fazê-lo com um poderio militar dos tempos áureos dos Descobrimentos. Isto num país europeu que já era, ele mesmo, limítrofe, alheio. A ser protegido a martelo. E, ao contrário do caso francês, esta adorável pequenez deve ser protegida, defendida e retaliada. E, já que vem aí o choque tecnológico, não tardará que o senhor Joaquim, assim como outros compatriotas, exija, também, o choque tecnológico. Até porque no outro dia, enquanto armava o pau de marmeleiro à cintura, a sua crença, dizia, era esta: «Votei Cavaco porque ele nos prometeu a todos um Portugal Maior. Até que enfim. Vem aí outra vez a expansão portuguesa!».
[João Carlos Silva]
Blogs
[João Carlos Silva]
terça-feira, janeiro 24, 2006
Paus & pedras
[Paulo Ferreira]
Espera-se por 9 de Março
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Cavaco Silva
Por outro lado, muito se tem discutido a questão dos poderes presidenciais. Ora, sabendo-se, à partida, que os poderes do Presidente variam sempre, consoante o homem em funções, seria de bom tom referir-se que, independentemente do nosso sistema ser semi-presidencialista, não se pode esperar «obra» de um homem que não a pode fazer. Isto vai de encontro à ideia de que o Presidente não deverá servir para travar reformas comprometedoras de um hipotético governo. Porquê? Em primeiro lugar, porque o Presidente da República não deverá desempenhar o papel de polícia governamental. Se existe lugar para esse policiamento ser feito, esse lugar está precisamente nas bancadas parlamentares que dizem respeito à oposição. É, pois, a oposição que deverá ser a voz ameaçadora e não o Presidente. Fica mal a um Presidente que, por hábito ou costume, se costuma sentar à mesa com o primeiro-ministro, dizer constantemente que está preocupado. Então, admitir-se que o Presidente da República serve para vigiar ou minar os passos do Governo, é admitir-se que se desconfia do regime político em que estamos inseridos, neste caso, do regime democrático. Depois, já se viu que o estoicismo fica mal a um presidente. O General Eanes, com a sua inflexibilidade moral, nada de bom fez por Portugal ou pela política portuguesa. Pelo contrário.
Assim sendo, espera-se que Cavaco Silva tenha confiança e maturidade suficientes para exercer o seu mandato sem grandes movimentações. Espera-se uma boa articulação com o Governo e com a oposição, sem qualquer tipo de policiamento ou de ameaça a pairar no ar. Espera-se, enfim, que exista um Presidente da República paciente, sereno e disposto a melhorar a imagem do país.
[Paulo Ferreira]
domingo, janeiro 22, 2006
A vitória
[Paulo Ferreira]
Sócrates & Vitorino
[Paulo Ferreira]
Sobre o discurso de Jerónimo
[Paulo Ferreira]
Falta de educação II
[Paulo Ferreira]
Falta de educação
[Paulo Ferreira]
Reflexão
[Paulo Ferreira]
Gordos e gordas
- Pedro Mexia, Notícias Sábado, 21/01/2006
[João Carlos Silva]
Referências criativas
Johnny Cash
When I was just a baby, my mama told me, "Son,
Always be a good boy; don't ever play with guns."
But I shot a man in Reno, just to watch him die.
When I hear that whistle blowin' I hang my head and cry.
(Folsom Prison Blues)
[João Carlos Silva]
sábado, janeiro 21, 2006
Ai Jesus, apaga a luz !
[Paulo Ferreira]
Agradecimento
[Paulo Ferreira]
De um só fôlego
Muitos são os que afirmam que Pedro Paixão é um autor light. Devido a algumas circunstâncias que me são alheias, chego, por vezes, a concordar com tal ideia. De facto, desde o cinzento prateado a dar cor às capas de alguns dos seus livros a títulos escolhidos como Nos Teus Braços Morreríamos, existe toda uma ambiência que leva o leitor comum a pensar que Paixão possui um não sei quê de leve. No entanto, a verdade é que Paixão possui uma escrita fluida, corrida, que faz com que a maior parte da sua ficção não necessite de um conteúdo muito aprofundado. O estilo de escrita ligeiro, cheio de silêncios e de frases por dizer, é o que faz com que Pedro Paixão seja, neste momento, um autor português que vale a pena ser lido. Nem que seja pela piada. É por isso que leio sempre Pedro Paixão de um só fôlego.
[Paulo Ferreira]
Sentido inverso
- Pedro Paixão, Saudades de Nova Iorque
[João Carlos Silva]
Democracia
[João Carlos Silva]
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Mundo velho
Há 73 anos, um megalómano anti-semita foi eleito chanceler da Alemanha. Seis anos depois começou a Segunda Guerra mundial. No intervalo, apesar do megalómano ter escrito um livro em que anunciava o que faria se tomasse o poder, as outras potências europeias da altura – o Reino Unido e a França – foram encontrando razões para não o confrontarem e foram cedendo aos seus ímpetos expansionistas, sacrificando de caminho a Checoslováquia, convencidos de que assim assegurariam para si paz e sossego. Só no verão de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polónia, perceberam que, para sua própria sobrevivência, teriam de liquidar Hitler.
[Paulo Ferreira]
Cavaco
Mas a simpatia não resvalou para a parte política, e aí vence o «menos mal». Ao contrário do que dizia uma senhora num telejornal ontem, Cavaco Silva não é um «homem frio e calculista» (sic). Se prestassem mais atenção às entrevistas mais informais do senhor, descobririam algo mais sobre ele. Foi uma campanha pensada, de facto (bem antes da campanha real começar), mas o «homem» mesmo é muito mais simples do que isso.
Talvez por isso eu seja obrigado a concordar com Cavaco quando ele diz que «não é um político». De facto, não é. É demasiado honesto e bem-intencionado para tal. Não no sentido mole, como Jorge Sampaio. Mas no sentido do trabalhador de escritório, dedicado, física e moralmente, ao trabalho. E ao país. E é por essa dedicação que mantenho a minha convicção e opção de Outubro.
[João Carlos Silva]
Post mortem
«Palavreado. Como julgar-me para depois de morto se então não estarei vivo? Depois de morto estou morto mesmo, e isso é que eu tenho de pensar, enquanto respiro. Morrendo, não penso em mim. Os outros também não pensam. Que é para nós a luta dos que morreram ignorados? Nada. Nem uma tabuleta. E que é positivamente para eles a mesma luta, agora que são terra? Nada, caramba. Ao menos esses pensariam que a morte os poderia liquidar: mas não às certezas que os habitavam.»
- Vergílio Ferreira, Mudança
[João Carlos Silva]
A economia niilista
[João Carlos Silva]
quinta-feira, janeiro 19, 2006
O cidadão do mundo
Trabalha, trabalha.
Perdido na multidão, agora é apenas um homem como os outros. E sofre...
- Blaise Cendrars, Rum
[Paulo Ferreira]
A juventude
Numa outra perspectiva, podemos dizer que a juventude sempre se relacionou mal com a política. Isto, apesar de se saber que são os jovens que mais se interessam pelo mundo político. Porém, a política a sério, aquela que é feita por pessoas sérias, decentes e informadas, não se aplica aos jovens. É por isso que afirmo que a juventude sempre se relacionou mal com a política. Os jovens nem sempre têm a noção exacta do que é ser-se um actor político, com responsabilidades e obrigações. Na maior parte dos casos, para os jovens a política é uma fonte de hipotético rendimento, é um contrato que se tem que tomar com o futuro. Veja-se o exemplo das juventudes partidárias, veja-se o caso do sempre medíocre João Almeida, um imberbe que, antes de ter terminado a sua licenciatura, preferiu integrar-se no «letrado» mundo da política. Tanto João Almeida como os seus companheiros das juventudes partidárias são pessoas desprovidas de qualquer tipo de sentido de orientação. Não têm sentido de posição no mundo. Falta-lhes massa cinzenta. Falta-lhes livros. Falta-lhes vergonha.
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Eco-Eco
- Blaise Cendrars, Contos negros para os filhos dos brancos
[Paulo Ferreira]
Aurora
Se há realizador onde o Mal tem cara, onde a face mais escura do Homem tem expressão física, é F.W. Murnau. E Aurora (ou Sunrise - A Song Of Two Humans) é um exemplo extremamente «humano» dessa tentativa de mostrar o Mal. Na verdade, um dos elementos subtis que surgem neste filme são os impulsos obscuros que perturbam o espírito do pilar central do filme: o «homem» (George O'Brien). Este «homem» sofre, permanentemente, o assédio moral da corrupção, personificada pela «mulher da cidade» (Margaret Livingston). Por outro lado, a beleza apolínea da «mulher», da «esposa» (Janet Gaynor), traz um certo horizonte positivo ao equilíbrio moral da personagem principal. Esta beleza revela-se, no momento do crime anteriormente perpetrado, uma muralha contra a maldade motivada no «homem».
De facto, ao longo do filme, é excepcional o trabalho de Murnau, mas com enorme mérito também de O'Brien e de Gaynor, em realçar as alterações físicas que o estado de espírito de cada personagem (personagens universais, note-se - sem nomes) efectua. Há, de facto, uma «continuidade absoluta» na acção, como dissera em tempos Vinicius de Moraes. Murnau tenta, pois, reduzir os cortes de cenas quase ao mínimo possível. Nota-se uma quase ausência dos momentos de day after, de quebras de ritmo. O pensamento do «homem» (e do Homem também) é, portanto, algo contínuo, embora com evoluções diferentes. A face de George O'Brien sofre alterações radicais, desde a barba feita e cabelo penteado enquanto em pleno dia na cidade com a esposa, até à grande desolação dos seus olhos quando julga a sua mulher afogada no lago. De um estado de espírito/expressão física para outro vai uma longa mas contínua evolução. E a emotividade desta evolução parece-me apenas ter sentido, e realmente grandiosidade na época e tipos de filmes de 1927. Para mais, é preciso ver este filme na grande tela para realmente nos rendermos ao sublime tratamento que Murnau ali dá ao filme. E aos humanos.
[João Carlos Silva]
Três nomes
Anda por estas bandas, uma discussão assaz interessante sobre os três nomes. Nomeadamente sobre os meus três nomes: «Tiago Apolinário Baltazar».
Aparentemente existe um vasto, pequeno, consenso de que eu deveria apresentar-me apenas como «Tiago Baltazar». Afirmam-me, juram-me, que, «Apolinário», de certo modo, não conjuga entre «Tiago» e «Baltazar».
Lembro-me ainda dos tempos em que, pedindo-me as senhoras para que revelasse o meu nome completo, o simples trauteamento do nome «Apolinário» era sinónimo de risada geral, vai-se lá saber porquê. Agora, a risada, deu lugar a um simples olhar esbugalhado, seguido de uma simples pergunta: «Apolinário?», como que, repetindo a injúria, ela pareça menor. Santo Deus.
Vejamos uma coisa, o nome é aquilo que somos. Sem nome não somos nada. Não existimos. Já os índios das Américas – antes da chegada dos Europeus – sabiam isto, ora não preferissem eles chamar-se «tipo com cara de cu», a não terem qualquer tipo de nome.
Renegar o nosso nome, é a coisa mais triste que existe. É como renegar a nossa casa. Pode ser a maior merda a cair de podre. Pior, pode estar cheia de familiares a ver a TVI. Mas é a «nossa» casa. E só por isso, é a melhor do mundo. Eu, pessoalmente, tenho o maior orgulho do meu nome. Ora não fora a minha mãezinha que mo dera.
Gente que é gente, tem três nomes. Basta abrir o jornal para ver que é mesmo assim. Que diabo, se até, repito, se até, o Eduardo Prado Coelho e a Clara Ferreira Alves têm direito a três nomes, porque não o deverei eu ter também?
Vamos por partes: «Tiago» é nome famoso. Quem não se lembra dos Apóstolos? Existia um Tiago, pois claro. Pregador incansável, a quem ninguém ligou puto, excepto no dia em o decidiram matar; «Apolinário», a quem não traz à memória o grande Guillaume Apollinaire, poeta Francês, mas que afinal nascera em Itália? Ou então, quem não ouviu já falar dessa grande empresa portuguesa de transportes de seu nome «Apolinário»? Se não conhecem é porque andam distraídos, porque ela passeia-se por ai; Por fim, «Baltazar», esse grande Rei Mago que ofereceu ao menino Jesus uma prenda que, visto bem as coisas, nem interessava ao menino Jesus. Felizmente, não era o preto, só e apenas, porque, naquela zona, eram todos monhés.
O meu nome tem história. «Tiago Apolinário Baltazar». Nome de apóstolo. Nome de poeta. Nome de Rei. De tudo isso, só tenho nome. E até já isso me querem tirar. Cruzes.
[Tiago Apolinário Baltazar]
terça-feira, janeiro 17, 2006
Fatalidades
- Max Jacob, O copo dos dados
Não querendo cair na patetice de escrever de forma demasiado azul-bebé, vou divagar um pouco sobre a minha ideia de amor. Pois bem, a ideia de amor, já muito discutida por vários autores, é uma ideia antiga, que sempre inquietou as mentes mais sensatas. Por exemplo n' O Banquete de Platão, encontramos, da primeira à última página, várias e diferenciadas definições para este sentimento abstruso mas sempre inquietante. Na literatura, não poucos são os autores que passam a vida a discorrer sobre assunto tão melindroso. Na música, então, perde-se a conta aos inúmeros jovens sofredores que cantam para compreender a busca de determinada perfeição sentimental.
Da minha parte, a questão processa-se de modo bastante simples: o amor, embora seja um sentimento de difícil compreensão (enquanto conceito), é, para mim, já não uma forma pré-adolescente de negação existencial, mas um sentimento que faz com que o indivíduo se sinta humano, vivo, útil. Trocando isto por miúdos, o amor, se na adolescência era para mim algo que pertencia aos pobres e oprimidos, tornou-se, agora, num objecto máximo de perseguição (para não dizer de contemplação). É como se também eu me sentisse um desses fracos e oprimidos que precisam de algumas (nem que sejam poucas) migalhas de pão para envaidecer o estômago. O pão é necessário, mas o amor não o é menos. É essa a ideia principal.
Há uns tempos, dizia-me um vetusto senhor que só se apaixonara um única vez na vida. Eu, imberbe, tentei compreender a mensagem da melhor maneira possível. E, sinceramente, acho que a compreendi extraordinariamente bem. Também eu só me apaixonarei uma vez na vida, já que o amor é isso mesmo, o único, o verdadeiro.
[Paulo Ferreira]
domingo, janeiro 15, 2006
Referências criativas
David Bowie
What are we coming to
No room for me, no fun for you
I think about a world to come
Where the books were found by the Golden ones
Written in pain, written in awe
By a puzzled man who questioned
What we were here for (...)
(Oh! You Pretty Things)
[João Carlos Silva]
Yskor Elohim
- Saul Bellow, A Organização Bellarosa
[Paulo Ferreira]
Uma história das mil e uma noites
Até à data, todas as diligências diplomáticas tidas, quer pela União Europeia, quer pelos Estados Unidos, falharam. Aclama-se por uma acção da ONU. Boa sorte.
Ahmadinejad sabe isto. Tal como sabe que o petróleo Iraniano é um bem que nenhuma nação está disposta a dispensar.
Para juntar a cereja ao bolo, em Israel, vivem-se tempos conturbados sob um, aparente, nevoeiro de acalmia. Sharon está morto politicamente. Todos já o disseram. O Kadima poderá sobreviver sem ele. Mas, Israel viverá tempos difíceis (com uma Palestina à beira de eleições, onde não é de excluir uma vitória ou, pelo menos, uma demonstração de força, por parte do Hamas) sem um líder carismático.
Por tudo isto, o Irão sabe que pouco tem a perder. E, apesar de, internamente, Ahmadinejad parecer não reunir um total apoio (há quem fale, até, de um apoio minoritário), o facto de o Irão bater o pé às potências ocidentais, não deve desagradar totalmente às fanáticas criaturas peregrinas de Meca.
[Tiago Apolinário Baltazar]
sábado, janeiro 14, 2006
A inocência das alcunhas portuguesas
No entanto, há que, urgentemente, analisar a conversa destes dois amigos. Repare-se que o português não é um homem especialmente racista - nem é uma personagem tipicamente xenófoba. Em primeiro lugar, antes de mais, colonizámos os índios do Brasil de forma violenta mas honestamente isenta. Ou seja, se massacrávamos os nativos ou esmagávamos a resistência era para o bem de um povo pré-civilizado. Pela cabeça do português, já então citadino mas de complexo rural, nunca passou a ideia de superioridade racial, mas sim uma sincera vontade de expandir território. Em segundo lugar, tivemos um ditador sui generis. Ora, não só Salazar achava que África era um sítio especialmente agradável para os portugueses (ao contrário da petulância republicana), como Marcello tinha em grande conta as tradições e valores dos nativos das colónias. Ou seja, nem Salazar, homem do campo, sabia ser racista. Em terceiro lugar, Portugal gosta de sair de Portugal. Ao contrário do que muitas vezes dizemos, a verdade é que não só gostamos de receber estrangeiros, como o nosso mais íntimo desejo é deixar o país entregue (e bem entregue) aos brasileiros, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos e por aí fora, enquanto nós nos mudamos para os países deles.
Dito isto, só se pode depreender que quando o português chama «Cigano» a alguém, não é, decerto, com malícia. Provavelmente, no contexto do local de trabalho, a palavra «Cigano» surgirá para classificar um colega delator ou um outro que tenha métodos de trabalho mais obscuros, com grande probabilidade de esse «Cigano» ser, portanto, um da mais clara e lusitana tez possível - só assim se perceberia a genética do bandido.
Já em relação ao «Maluco», duvida-se que seja uma opinião médica devidamente fundada em exames psicológicos. O mais provável é que o «Maluco» seja o rapaz mais trabalhador da vizinhança do escritório. Que é como quem diz: «Aqui ninguém trabalha e vou eu pôr-me a trabalhar para eles, não? Mas julgas que eu sou como o Maluco? Está bem sim, trabalhar é bom para o Preto» (note-se aqui que os que trabalham perdem a identidade para serem uma alcunha). Sendo assim, o «Maluco» será o mais são, que ganhará mais no fim do mês.
Já o «Cego» é alguém mais complexo. Quando o português chama a alguém «Cego» é preciso uma grande afeição, ou uma grande compaixão. Ainda assim, muitas serão as hipóteses: o que não vê; o que não vê bem; o que vê não lá muito bem; o que perdeu uma boa oportunidade de ser alguém na vida; o que não gosta da mulher que tem; o fiscal enganado; o cobrador mais velho do estádio; o árbitro sem jeito; o míope; o adepto de um mau clube de futebol; um sindicalista honesto; etc. Muitas serão as hipóteses de ser «Cego». Por todas elas, tem o português uma profunda compaixão.
Portanto, não há que ter preocupações ao deparar com alcunhas ofensivas. Pelo que vejo, o mais provável é que seja o português a praticar um vasto e natural conhecimento da riqueza dos vocábulos portugueses. Ou isso ou inveja do vizinho.
[João Carlos Silva]
O espírito provinciano
Sem puxar muito pela memória, consigo encontrar três ou quatro nomes de pessoas que, embora possam nem saber ler ou escrever, têm perfeita noção de que o que Portugal gosta é de festa, de coiratos e de tiro ao prato (não esquecer o jogo da malha). Refiro-me, por exemplo, a personagens como Ruth Marlene, Claudisabel, Emanuel ou Graciano Saga. Todas estas figuras trabalham para comer. Todas estas figuras gostam de entreter. São portuguesas. Vivem para os portugueses (embora muitas vezes sejam rejeitadas por esses mesmos portugueses, que, mal vêem um sinal europeísta vindo de Bruxelas, desatam a pensar que são ricos e, por conseguinte, cultos). Não sei qual será o caminho de Portugal nos próximos anos, no entanto, estaria para apostar que o caminho, se não for rochoso, será enevoado. Assim sendo, para que os portugueses ganhassem uma nova consciência do que é ser português integrado na União Europeia, deveríamos todos voltar as costas ao novo-riquismo que nos tem contaminado a alma. Quando falo de novo-riquismo, falo, concretamente, do português que não tem dinheiro para comer mas que se encalacra de forma abrupta para comprar o palácio dos seus sonhos; falo do português que enche as estantes de sua casa com volumes e volumes de Camões e de Herculano para depois ir jogar uma sueca com os amigos e emborcar umas cervejas no bar de alterne da freguesia («O Canhoto», por exemplo, seria um bom nome, não seria?).
No final, chega-se à conclusão de que os portugueses são, na sua maioria, envergonhados, medrosos, pois nem conseguem admitir que o que gostam mesmo é de pão com presunto. Desenvolvimento? Só mesmo na Inglaterra.
[Paulo Ferreira]
sexta-feira, janeiro 13, 2006
O carnaval
Tanto Mário Soares como Cavaco Silva sabem muito bem em que país vivem. Por conseguinte, ninguém se espanta por andarem ambos a fazer campanhas pouco valorizadoras no sentido cívico. Dando mais um exemplo, Cavaco Silva, durante todo o período de pré-campanha esforçou-se por ser politicamente correcto ao máximo. Chegou, até, a dizer que não revelava o nome do autor do último livro que lera porque não competia a um candidato a Presidente da República fazer juízos de valor. Uns dias depois, Cavaco Silva, o homem que não comia nem bebia em público, não fosse parecer mal, aparece na Madeira de Alberto João a dançar um bailinho nhó nhó (pois é, habituei-me a ler Nuno Galopim) com a rapaziada. Ora, estes pequenos acontecimentos não deixam de ser reveladores do país que temos (ou do país que não temos). Afinal, num país hipoteticamente civilizado, já não se fazem campanhas políticas baseadas em tão grande carnaval.
[Paulo Ferreira]
Cinquenta e seis anos de vida
Lord, here comes the flood
Here we'll say goodbye to flesh and blood
If again the seas are silent
In any still alive
It'll be those who gave their island to survive
Drink up, dreamers, you're running dry.
- Peter Gabriel, Here Comes The Flood
[Paulo Ferreira]
Leituras
- Ernst Jünger, O Coração Aventuroso
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Sofrer
[Paulo Ferreira]
Foi o destino
[Paulo Ferreira]
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Rousseau e Outros Cinco Inimigos da Liberdade
Os homens podem ser divididos entre os que são a favor da vida e os que são contra ela. Entre aqueles que se lhe opõem, encontram-se indivíduos inteligentes, sensatos e perspicazes, demasiado magoados e desanimados com a imperfeição da espontaneidade, com a falta de ordem entre os seres humanos e que desejam viver as suas próprias vidas, não obedecendo a qualquer padrão comum. Entre eles encontra-se Maistre.No seu conjunto, não possui qualquer doutrina positiva e se tiver de escolher entre a liberdade e a morte, rejeita a liberdade.
[Paulo Ferreira]
Descrença crónica
Vergílio Ferreira, Até Ao Fim
[João Carlos Silva]
terça-feira, janeiro 10, 2006
Famous Blue Raincoat
your little house
deep in the desert
you're living for nothing now
I hope you're keeping
some kind of record.
- Leonard Cohen, Famous Blue Raincoat
[Paulo Ferreira]