sábado, novembro 08, 2008

Uma nota sobre os «políticos modernos»

Um dos elogios que se tem feito a Barack Obama é o de que ele é um «político moderno», de uma suposta «nova América», uma América diferente da que elegeu Bush. Tudo isto é verdade, mas preocupa-me, sobretudo, o epíteto de «político moderno». Porque isto não me parece naturalmente positivo. Veja-se em Portugal o maior exemplo de um «político moderno». Quem é? Exactamente, é José Sócrates.

O «político moderno» não se caracteriza pela ideologia nem pelo conteúdo, mas sim pela forma. O seu grande trunfo é a preparação da imagem, a aposta exaustiva na imagem como «cara» de um regime ou de um conjunto de políticas. Tenta aceder a todos os meios de comunicação para defender a sua imagem e evangelizar seguidores e incréus, e infiltrar aos poucos os contra-poderes para minar a sua oposição ao governo. Se possível, tenta controlar ambos, comunicação e contra-poderes.

Por estas razões, e por muitas outras, é aconselhável repensar esse elogio do «político moderno». Pelo menos, se ainda tivermos esperança nos intervenientes políticos do futuro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida. O 'político moderno' é o messias. É o Sarkozy, o Sócrates, o Putin...o Obama. O testa de ferro com imagem messiânica. O líder total. A imagem que sempre esteve banida dos US, e estava banida da Europa há mais de 60 anos; e com bons motivos. Não porque estas figuras decidam algo por si próprias. Mas sim porque, quando cumprem as suas agendas, têm o poder carismático de levar as massas atrás em histeria colectiva. E isso dá sempre maus resultados.

Quanto aos programas "de" Obama e Joe-CFR-Biden, não serão mais do que a continuação das políticas dos neocons:
- o enriquecimento corporate via bail-outs e nacionalizações de dívidas tóxicas; com consequências na transferência contínua de riqueza, da economia real para a economia fictícia dos banqueiros;
- A continuação do cerco sobre as liberdades civis e sobre o estado constitucional; estes senhores *querem* o Patriot Act, o Military Commissions Acts, o NSPD 51, o FISA Act, e o John Warner Defense Authorization Act;
- O apelo de Obama à militarização da sociedade, via uma "civilian security force", tão bem financiada e equipada como o US Army, tem de ser encarado como a proposta perigosa e totalitária que é;
- E é claro, a guerra não vai parar. Esta administração vai continuar a agenda exposta pelo Project for the New American Century, em "Rebuilding America's Defenses", e por Zbigniew Bzrezinski, em "The Grand Chessboard" - a dominação imperial da NATO na Eurásia central. E os comentários de Obama e Biden sobre Síria, Paquistão, Irão, Rússia, e Sudão, são testemunhos dessas mesmas intenções.

João Carlos Santana da Silva disse...

Rui,

Eu daí destaco o Putin. Isto é, retiro-o do «grupo» que mencionaste. Acho que o Putin é, não só, um político «old school» como, por outro lado, é um produto especificamente russo. A sua maneira de actuar é herdeira da tradição política russa, e não da nossa imagética ocidental (isto excluindo a Rússia do Ocidente nesta equação) de um «messias político». Mas numa coisa se assemelha ao paradigma Sócrates: em termos institucionais, faz lembrar um polvo, cujos tentáculos parecem estar sempre a par de tudo o que o rodeia.

Em relação às várias propostas do Obama, de facto há uma que intriga acima de todas, até pelo conteúdo em si mesmo. É a da «national civilian force». Será que ele disse aquilo sem pensar ou tem mesmo uma noção do que isso implica?