1- a principal derrota do PCP está na incapacidade, por alguns dos seus mais destacados militantes, de se distanciarem das experiências comunistas actualmente em vigor no mundo. Independentemente de se achar que em Cuba, Vietname, China, Laos ou Coreia do Norte há comunismo ou não - já que, ao constatar a tragédia, a defesa ideológica é a de dizer que nunca se «deixou chegar» ao comunismo e por isso falha -, apontar estes regimes como modelos assusta quem, por momentos, decide «dar uma hipótese» ao Partido Comunista (o que nunca seria o meu caso, lembro). Atenção que não invento isto, os ditos «modelos» estão nas teses do XVIII Congresso do PCP. Rejeitar a «tirania» do poder supranacional da UE não pode ser a base de uma defesa da tirania ideológica, e nisto o PCP perde sempre a oportunidade de aplicar alguma subtileza;
2- no entanto, e como diz o Bruno muito bem, «o desprezo [dos jornalistas] pelo PCP apenas leva a não se perceber como Jerónimo de Sousa é eficaz na transmissão da sua mensagem ao eleitorado, e como o PCP irá lucrar com isso nas próximas eleições». E é mesmo, a excelente organização que este Congresso teve (como aliás, costuma ter) e a estratégia inteligente de concentrar intervenções e declarações numa grande «demonstração de força» serão cruciais para a mobilização não só de um eleitorado historicamente fiel mas, sobretudo, de uma nova geração que amadureceu eleitoralmente e politicamente nos últimos 4 anos e já não vê uma «esquerda social» no PS. Acrescento mesmo: os recentes problemas públicos que o Bloco de Esquerda teve com o seu antigo cabeça de lista em Lisboa, José Sá Fernandes, poderão afastar algumas pessoas que não voltarão a «arriscar» votar BE para tentar, desta vez, apostar na agressividade política do PCP. Também acredito que o próximo ano é ano de crescimento eleitoral do PCP;
3- tudo isto é agravado por outra questão: a suposta «crise do capitalismo». A ideia de que a liberdade, e em especial a liberdade económica, tem dado mau resultado nos últimos anos espalhou-se por todo o lado. E, com isto, perdeu-se a memória das experiências comunistas por esse mundo fora. Ainda recentemente, um Colóquio Internacional sobre Karl Marx decorreu na Universidade Nova de Lisboa, não inocentemente aproveitando o recente e eventual «crescendo de interesse» no marxismo. Ou, como se afirmava na apresentação do dito colóquio, era um «debate tanto mais actual, quanto a presente crise financeira e económica do capitalismo global iniciada nos EUA, a mais grave desde o crash de 1929, recoloca a pertinência das abordagens marxistas sobre a economia, a sociedade, as ideologias e a política nas sociedades capitalistas». O que aí virá em 2009, não sei. Que a sorte nos proteja a todos.
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