Das pessoas que lêem os artigos e o blog de José Pacheco Pereira, um número muito menor estará a par da sua produção escrita na área historiográfica (salvando-se daí, é claro, a mais que conhecida biografia de Álvaro Cunhal). E uma minoria ainda mais reduzida terá lido as obras vintage que JPP tem em relação ao movimento operário e às origens dos partidos de extrema-esquerda em Portugal. No entanto, esta faceta é fonte de algumas das mais interessantes investigações e reflexões em redor daquela camada social e daquela fracção do espectro político.
Uma obra nesse conjunto é Questões Sobre o Movimento Operário Português e a Revolução Russa de 1917, uma edição de autor publicada em 1971 no Porto, aparentemente com o apoio da Livraria Júlio Brandão. Não é uma obra prima, e muito menos um volume intensivo sobre o tema. Mas as reflexões aí contidas são centrais para a historiografia dos últimos anos que trata o PCP e a extrema-esquerda. E em especial a tese principal: a de que a Revolução Russa caiu como uma espada no seio do movimento operário, cortando as lutas operárias e sindicalistas (à esquerda da República) em dois grandes grupos, contribundo para o afastamento decisivo entre Bakuninistas e Marxistas, originando o grupo dos chamados «bolchevistas», fortemente influenciados pelo sucesso da Revolução Russa.
A fundamentação ideológica dessa facção vai-se fundamentar na especificidade do caso português, e em especial na participação de Portugal na Grande Guerra, ou, como o JPP de então se referia à mesma, a «guerra imperialista de 1914-18». Ou seja, o movimento operário já de si se opunha «ao serviço militar, ao recrutamento, e à própria existência do exército permanente». Em segundo lugar, as greves que já se haviam multiplicado antes de Sidónio Pais, mas que então se intensificavam sob a «Vida Nova» sidonista. A crise social (por exemplo, com os abastecimentos, problema que já vinha da monarquia) e a agitação operária abalam a estrutura da República e os sindicatos revolucionários ganham um novo fôlego.
Por fim, e nisto JPP vai mais longe do que uma enorme massa de historiadores, Questões Sobre o Movimento Operário... realça a reformulação ideológica dos revolucionários, obrigando à transição de uma unicidade flexível para a cisão profunda entre os «possibilistas» e os «maximalistas» (agrupados na Frente Maximalista Portuguesa), que defendiam precisamente a «máxima força» na luta contra os Republicanos. Já não se defendia a mera luta por melhores condições sociais, mas a total destruição do regime republicano, «injusto» e «burguês» na sua origem, estrutura e reprodução, logo incompatível com qualquer acção política integrada com os operários.
A pequena antologia que JPP inclui é até maior do que o corpo do texto, que é mais um artigo do que um «livro» na verdadeira acepção do termo. Curiosamente, e embora politicamente comprometido (não esquecer que este texto é escrito em 1971, com Pacheco Pereira inspirado pela visão maoísta do mundo), é um interessante texto acerca da Revolução Russa e do movimento operário português sem cair no cliché da dissertação acéfala em redor das «conquistas operárias». No mínimo, é, como eu disse, uma obra vintage que ganha valor com a idade.
Uma obra nesse conjunto é Questões Sobre o Movimento Operário Português e a Revolução Russa de 1917, uma edição de autor publicada em 1971 no Porto, aparentemente com o apoio da Livraria Júlio Brandão. Não é uma obra prima, e muito menos um volume intensivo sobre o tema. Mas as reflexões aí contidas são centrais para a historiografia dos últimos anos que trata o PCP e a extrema-esquerda. E em especial a tese principal: a de que a Revolução Russa caiu como uma espada no seio do movimento operário, cortando as lutas operárias e sindicalistas (à esquerda da República) em dois grandes grupos, contribundo para o afastamento decisivo entre Bakuninistas e Marxistas, originando o grupo dos chamados «bolchevistas», fortemente influenciados pelo sucesso da Revolução Russa.
A fundamentação ideológica dessa facção vai-se fundamentar na especificidade do caso português, e em especial na participação de Portugal na Grande Guerra, ou, como o JPP de então se referia à mesma, a «guerra imperialista de 1914-18». Ou seja, o movimento operário já de si se opunha «ao serviço militar, ao recrutamento, e à própria existência do exército permanente». Em segundo lugar, as greves que já se haviam multiplicado antes de Sidónio Pais, mas que então se intensificavam sob a «Vida Nova» sidonista. A crise social (por exemplo, com os abastecimentos, problema que já vinha da monarquia) e a agitação operária abalam a estrutura da República e os sindicatos revolucionários ganham um novo fôlego.
Por fim, e nisto JPP vai mais longe do que uma enorme massa de historiadores, Questões Sobre o Movimento Operário... realça a reformulação ideológica dos revolucionários, obrigando à transição de uma unicidade flexível para a cisão profunda entre os «possibilistas» e os «maximalistas» (agrupados na Frente Maximalista Portuguesa), que defendiam precisamente a «máxima força» na luta contra os Republicanos. Já não se defendia a mera luta por melhores condições sociais, mas a total destruição do regime republicano, «injusto» e «burguês» na sua origem, estrutura e reprodução, logo incompatível com qualquer acção política integrada com os operários.
A pequena antologia que JPP inclui é até maior do que o corpo do texto, que é mais um artigo do que um «livro» na verdadeira acepção do termo. Curiosamente, e embora politicamente comprometido (não esquecer que este texto é escrito em 1971, com Pacheco Pereira inspirado pela visão maoísta do mundo), é um interessante texto acerca da Revolução Russa e do movimento operário português sem cair no cliché da dissertação acéfala em redor das «conquistas operárias». No mínimo, é, como eu disse, uma obra vintage que ganha valor com a idade.
2 comentários:
Essa obra foi publicada numa altura em que nada se sabia sobre o movimento operário e o PCP e com as enormes dificuldades da censura. Foi aliás proibida pela censura e apreendida nas livrarias. À data não existia uma única obra publicada desde os anos trinta que falasse do PCP a não ser edições clandestinas.
Sem dúvida. Das obras portuguesas sobre o tema foi uma das primeiras a surgir após vários anos. Apesar do distanciamento crítico possível de JPP aqui, não deixou de figurar nos «livros proibidos» do Estado Novo. Apenas uma nota: praticamente não fala do PCP (a não ser nas suas origens) nem de outro regime político português que não seja o republicano. Texto curto, mas muito interessante. E importante.
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