quinta-feira, novembro 20, 2008

Do pessimismo antropológico



Emil Cioran é uma figura peculiar. Um dos mais proeminentes pessimistas antropológicos do século XX, e, quem sabe, de toda a História. Um pessimismo que ultrapassa a questão existencial do sentido da vida mas que, ao mesmo tempo, traz um forte elemento de «fuga», psicologicamente falando. Nesse sentido, Cioran é uma personagem freudiana, cuja origem (a mãe preferia ter abortado), mais do que a importância do destino, o marcou profundamente. Politicamente, a identidade andou mais à deriva do que a própria procura de sentido na escrita. No entanto, acima de qualquer outra coisa, Cioran tem uma qualidade que aprecio de forma apaixonada: está-se pouco lixando para isto tudo. Para «isto», a existência. Aliás, a interrogação dele devia estar numa parede em todas as cidades, para que se reflectisse acerca do que cá estamos a fazer: «Será possível que a existência seja o nosso exílio e o nada a nossa casa?».

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