(Publicado no Setúbal na Rede a 13/11/2008)
Manuela Ferreira Leite perdeu, em definitivo, o «estado de graça» normal de um líder recém-eleito. Ao aceitar a hipótese de lançar Santana Lopes na corrida à Câmara de Lisboa, devolveu a este o condão de destruir o partido e voltou no tempo a 2005.
Pedro Santana Lopes tinha os seus dias contados. Eu mesmo, medindo as palavras e a ambiguidade da «aposta», apoiei a decisão da liderança de Menezes de escolher Santana para a liderança parlamentar. Era a escolha óbvia para líder parlamentar «daquele» PSD, com especial apetência para a «política-espectáculo», com fartura de fogo de artifício mas pouca obra feita. Embora com um estilo diferente, o tom de Santana Lopes é o mesmo do autarca de Gaia. Nunca o defendi como candidato a nada. Tal como não defendi Menezes. Pareceu-me salutar para todos que estes dois se «juntassem»: sucesso ou fracasso, preferi que a sua oportunidade fosse uma só, para o PSD e, eventualmente, o país não passarem por isto duas vezes. Daí eu ter tremido quando se falou no nome de Santana Lopes para Setúbal. A Distrital de Lisboa do PSD reabilitou agora este «dinossauro político» (é um dos políticos há mais tempo no activo). Parece-me que estamos a abrir um livro que já estava, na minha opinião, definitivamente fechado. Sem necessidade e sem qualquer prudência.
O problema de um «político profissional», nos dias que correm é que nunca se sentem derrotados. Isto podia ser algo louvável, pela putativa coragem de tentar remediar as coisas numa segunda oportunidade. Mas não. Estes nunca se sentem derrotados precisamente porque não podem ser derrotados. Não têm uma ocupação que os preencha fora do palco político. E Santana Lopes é o maior exemplo disto.
Atenção que eu não quero ver Santana Lopes na cova, como muitos que apenas contam com o mediatismo do homem para pôr o PSD na boca dos jornalistas (pensando que com isso conseguem resultados positivos). Pelo contrário, até simpatizo com ele. Não acho que ele seja um tipo execrável. Nem sequer acho que ele seja o tipo de personagem camaleónica que se permite tudo para se agarrar ao poder. Acredito, sinceramente, que o doutor Santana Lopes tem as melhores das intenções quando se envolve na política nacional. Escolheu fazer disto vida? Pois bem, aí entra uma outra questão: O Santana Lopes político.
Esteve na Câmara Municipal de Lisboa e foi o que se viu. Em termos estruturais, nada feito. Em termos orçamentais, o mesmo. A dívida acumulada de sempre. A Feira Popular nem vê-la. O Parque Mayer? Ainda estão por esclarecer os custos do projecto e os próprios contornos do negócio com a Bragaparques. Em 2004, saltou para um governo que se tinha comprometido em atravessar a tempestade (substituindo um Durão Barroso cujo abandono só por si fez o PSD merecer o castigo eleitoral). Tal foi a cegueira e o entusiasmo de se encontrar à frente dos destinos do país que se «esqueceu» de convocar eleições antecipadas, como devia ser sua obrigação. Paradoxalmente, continuo a acreditar que, se estas tivessem sido marcadas imediatamente – por si e não por Jorge Sampaio –, Santana Lopes ainda seria Primeiro-Ministro hoje em dia. Não o fez, acabou humilhado nas urnas.
Façam-se as contas: Pedro Santana Lopes representou uma oportunidade falhada na Câmara Municipal de Lisboa (o que não faz de António Costa um bom sucessor), marcando o início da autodestruição do partido; foi a face da maior derrota do PSD nacional dos últimos dez anos, convencendo apenas 29% dos portugueses que se deram ao trabalho de ir votar, e elegendo apenas 75 deputados em relação aos 105 (leu bem, uma diferença de 30 lugares) de 2002, num dos resultados mais catastróficos do partido; ajudou à destruição, com Menezes, de um partido sério, trabalhador e reformador sob a batuta de Marques Mendes; por fim, ajudou à própria queda de Menezes, ofuscando-o.
Vejamos as coisas de outra forma: Santana fez má obra em Lisboa e arrastou Carmona Rodrigues (que frustrou as minhas esperanças pessoais) consigo; arrastou o PSD para uma expressão ridícula quando se pensa na responsabilidade de oposição que este tem; puxou Marques Mendes para fora, permitindo o surgimento de Menezes; e arrastou Menezes para o seu previsível desaparecimento. Aliás, quando Luís Filipe Menezes escolheu Santana para seu líder parlamentar, acabou o seu «estado de graça». Perdeu o mediatismo, logo – como político de TV que é – perdeu o seu impacto. Manuela Ferreira Leite, ainda que tenha uma visão diferente do que deve ser o trabalho de um líder e de um partido políticos, corre o risco de ir pelo mesmo caminho.
Não tenhamos dúvidas, a escolha que a Distrital de Lisboa, encabeçada por Carlos Carreiras, fez é o espelho de um PSD que existe e sempre existirá. Esta é uma realidade que, legitimamente ou não, existe. O que é importante aqui é reflectir sobre os resultados que um partido «à maneira de Santana» teve nos últimos quatro anos. Foram péssimos e Marques Mendes percebeu isso. Manuela Ferreira Leite também parecia ter percebido isso. Agora está em risco de deitar todo o trabalho feito para a sarjeta se Santana Lopes for o candidato a Lisboa. É voltar a 2005 e mostrar que, afinal, não se está a construir aquela «vida nova» para a Câmara de Lisboa e para o PSD, de que Pacheco Pereira falava na Quadratura do Círculo.
E, por fim, é preciso não menorizar a importância de Lisboa. As fraquezas que o PSD demonstrar nesta corrida a Lisboa são as fraquezas que, nem que seja por «efeito de espelho», serão associadas ao PSD nacional e a Manuela Ferreira Leite.
É que Santana Lopes, por ele próprio, não tem muito a perder. Já perdeu várias vezes e parece voltar sempre em grande, levado em braços, para a surpresa de todos nós, e para o terror de alguns de nós que apenas querem uma gestão pacífica e contida por parte de um governo. Aliás, a vida política do doutor Santana Lopes parece ser sempre uma «win-win situation», na qual ele nunca sai derrotado. Tal como Ronald Reagan dizia: «Politics is not a bad profession. If you succeed there are many rewards, if you disgrace yourself you can always write a book». Eu preferia que ele se ficasse pelo livro.
Manuela Ferreira Leite perdeu, em definitivo, o «estado de graça» normal de um líder recém-eleito. Ao aceitar a hipótese de lançar Santana Lopes na corrida à Câmara de Lisboa, devolveu a este o condão de destruir o partido e voltou no tempo a 2005.
Pedro Santana Lopes tinha os seus dias contados. Eu mesmo, medindo as palavras e a ambiguidade da «aposta», apoiei a decisão da liderança de Menezes de escolher Santana para a liderança parlamentar. Era a escolha óbvia para líder parlamentar «daquele» PSD, com especial apetência para a «política-espectáculo», com fartura de fogo de artifício mas pouca obra feita. Embora com um estilo diferente, o tom de Santana Lopes é o mesmo do autarca de Gaia. Nunca o defendi como candidato a nada. Tal como não defendi Menezes. Pareceu-me salutar para todos que estes dois se «juntassem»: sucesso ou fracasso, preferi que a sua oportunidade fosse uma só, para o PSD e, eventualmente, o país não passarem por isto duas vezes. Daí eu ter tremido quando se falou no nome de Santana Lopes para Setúbal. A Distrital de Lisboa do PSD reabilitou agora este «dinossauro político» (é um dos políticos há mais tempo no activo). Parece-me que estamos a abrir um livro que já estava, na minha opinião, definitivamente fechado. Sem necessidade e sem qualquer prudência.
O problema de um «político profissional», nos dias que correm é que nunca se sentem derrotados. Isto podia ser algo louvável, pela putativa coragem de tentar remediar as coisas numa segunda oportunidade. Mas não. Estes nunca se sentem derrotados precisamente porque não podem ser derrotados. Não têm uma ocupação que os preencha fora do palco político. E Santana Lopes é o maior exemplo disto.
Atenção que eu não quero ver Santana Lopes na cova, como muitos que apenas contam com o mediatismo do homem para pôr o PSD na boca dos jornalistas (pensando que com isso conseguem resultados positivos). Pelo contrário, até simpatizo com ele. Não acho que ele seja um tipo execrável. Nem sequer acho que ele seja o tipo de personagem camaleónica que se permite tudo para se agarrar ao poder. Acredito, sinceramente, que o doutor Santana Lopes tem as melhores das intenções quando se envolve na política nacional. Escolheu fazer disto vida? Pois bem, aí entra uma outra questão: O Santana Lopes político.
Esteve na Câmara Municipal de Lisboa e foi o que se viu. Em termos estruturais, nada feito. Em termos orçamentais, o mesmo. A dívida acumulada de sempre. A Feira Popular nem vê-la. O Parque Mayer? Ainda estão por esclarecer os custos do projecto e os próprios contornos do negócio com a Bragaparques. Em 2004, saltou para um governo que se tinha comprometido em atravessar a tempestade (substituindo um Durão Barroso cujo abandono só por si fez o PSD merecer o castigo eleitoral). Tal foi a cegueira e o entusiasmo de se encontrar à frente dos destinos do país que se «esqueceu» de convocar eleições antecipadas, como devia ser sua obrigação. Paradoxalmente, continuo a acreditar que, se estas tivessem sido marcadas imediatamente – por si e não por Jorge Sampaio –, Santana Lopes ainda seria Primeiro-Ministro hoje em dia. Não o fez, acabou humilhado nas urnas.
Façam-se as contas: Pedro Santana Lopes representou uma oportunidade falhada na Câmara Municipal de Lisboa (o que não faz de António Costa um bom sucessor), marcando o início da autodestruição do partido; foi a face da maior derrota do PSD nacional dos últimos dez anos, convencendo apenas 29% dos portugueses que se deram ao trabalho de ir votar, e elegendo apenas 75 deputados em relação aos 105 (leu bem, uma diferença de 30 lugares) de 2002, num dos resultados mais catastróficos do partido; ajudou à destruição, com Menezes, de um partido sério, trabalhador e reformador sob a batuta de Marques Mendes; por fim, ajudou à própria queda de Menezes, ofuscando-o.
Vejamos as coisas de outra forma: Santana fez má obra em Lisboa e arrastou Carmona Rodrigues (que frustrou as minhas esperanças pessoais) consigo; arrastou o PSD para uma expressão ridícula quando se pensa na responsabilidade de oposição que este tem; puxou Marques Mendes para fora, permitindo o surgimento de Menezes; e arrastou Menezes para o seu previsível desaparecimento. Aliás, quando Luís Filipe Menezes escolheu Santana para seu líder parlamentar, acabou o seu «estado de graça». Perdeu o mediatismo, logo – como político de TV que é – perdeu o seu impacto. Manuela Ferreira Leite, ainda que tenha uma visão diferente do que deve ser o trabalho de um líder e de um partido políticos, corre o risco de ir pelo mesmo caminho.
Não tenhamos dúvidas, a escolha que a Distrital de Lisboa, encabeçada por Carlos Carreiras, fez é o espelho de um PSD que existe e sempre existirá. Esta é uma realidade que, legitimamente ou não, existe. O que é importante aqui é reflectir sobre os resultados que um partido «à maneira de Santana» teve nos últimos quatro anos. Foram péssimos e Marques Mendes percebeu isso. Manuela Ferreira Leite também parecia ter percebido isso. Agora está em risco de deitar todo o trabalho feito para a sarjeta se Santana Lopes for o candidato a Lisboa. É voltar a 2005 e mostrar que, afinal, não se está a construir aquela «vida nova» para a Câmara de Lisboa e para o PSD, de que Pacheco Pereira falava na Quadratura do Círculo.
E, por fim, é preciso não menorizar a importância de Lisboa. As fraquezas que o PSD demonstrar nesta corrida a Lisboa são as fraquezas que, nem que seja por «efeito de espelho», serão associadas ao PSD nacional e a Manuela Ferreira Leite.
É que Santana Lopes, por ele próprio, não tem muito a perder. Já perdeu várias vezes e parece voltar sempre em grande, levado em braços, para a surpresa de todos nós, e para o terror de alguns de nós que apenas querem uma gestão pacífica e contida por parte de um governo. Aliás, a vida política do doutor Santana Lopes parece ser sempre uma «win-win situation», na qual ele nunca sai derrotado. Tal como Ronald Reagan dizia: «Politics is not a bad profession. If you succeed there are many rewards, if you disgrace yourself you can always write a book». Eu preferia que ele se ficasse pelo livro.
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