terça-feira, agosto 26, 2008

Tropa de Elite e o narcotráfico



Tropa de Elite (2007), de José Padilha, é um bom filme. Mas atenção, não tem o humor de Cidade de Deus (de Fernando Meirelles) nem uma visão optimista das «áreas cinzentas» da moral humana. Ou seja, as pessoas não são vilões com consciência social ou inocentes apanhados no fogo cruzado. Na sua maioria, as pessoas que se cruzam «acidentalmente» no caminho das missões do BOPE (unidade especial e paramilitar da polícia brasileira) são cúmplices do maior crme colectivo do Brasil: o tráfico de droga. Na visão do Capitão Nascimento (um papel brilhante de Wagner Moura), o narcotráfico e a miséria nas favelas são ambos alimentados pela própria «solidariedade social» de uma certa classe média que consome o produto de figuras como o Baiano, manda-chuva do morro dos Prazeres que deixa a ONG de Maria assentar na zona e tem uma «amizade» interesseira com Edu, estudante que, no fundo, é um traficante menor que consome e vende alguma da droga de Baiano ao mesmo tempo que marcha contra a violência policial.

Contrariando as acusações de fascista, Tropa de Elite é, no fundo, apenas uma visão desiludida, zangada e crítica do mundo da droga no Brasil, trazendo o narcotráfico - e a consequente guerra - dos morros e das favelas para a porta das classes médias, mostrando o exemplo dos consumidores que alimentam a máquina de gente como Baiano. No fundo, a droga existe para estes consumidores mais ricos, que na sua maioria revelam a hipocrisia de acusar a polícia antes sequer de pensarem em acusar-se a eles mesmos.

A história de Neto e Matias, hipotéticos substitutos do Capitão Nascimento (Neto o agente corajoso a quem falta inteligência, Matias o racionalista que hesita em arriscar tudo), só vem dar um enredo mais atraente e mais ficcional, abrilhantando no argumento um filme que já é forte na mensagem. Mas se fosse só pela mensagem, não valia assim tanto o tempo passado em frente ao écrã. Neste caso, vale: é um filme muito bem construído.

3 comentários:

Pedro Afonso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Afonso disse...

Concordo e já vi também o filme. Gostaria apenas de acrescentar que é pena que em Portugal não se façam filmes com este nível de qualidade. A falta de dinheiro não serve de desculpa uma vez que, ao que julgo saber, o orçamento da "Tropa de ELite" não foi assim tão alto.

João Carlos Santana da Silva disse...

Caro Inimputável,

Em qualquer contexto que não seja o de Hollywood, um filme destes, que consegue entreter e não se ficar por uma mensagem (ou uma «visão»), é de louvar, quase caído dos céus. Não se pode esperar ver o melhor filme de sempre da história do cinema, mas pela minha experiência não estava à espera de algo tão bom. Nota dada a quente? Cinco estrelas.