Ontem ouvi o discurso de Barack Obama dirigido à Convenção Democrata e não consegui deixar de torcer o nariz à retórica messiânica. É que há tanta coisa que cheira mal naquele discurso, naquela atitude, que nem sei muito bem por onde pegar. Para começar, fala-se muito em «políticas do passado», em esquecer «a política do passado» e pensar no «futuro», ou seja, a presunção de que a política vai ser mudada para melhor assim que o homem pisa a Casa Branca.
Depois, é a hipocrisia do «esta campanha não é acerca de mim [Obama] mas acerca de vós [povo americano]», que é como quem diz «estamos todos contra McCain e o Partido Republicano, eu simplesmente sou o resultado da vontade do povo». Ao menos Hillary Clinton, uma das figuras políticas americanas mais inteligentes e capazes - logo, mais manipuladoras, ambiciosas e intolerantes -, admitia que a campanha era sobre ela e sobre a sua caminhada até este ponto, em que podia concorrer à Casa Branca. A retórica desresponsabilizadora de Obama iliba-o, é claro, de todos objectivos pessoais e políticos. A sua campanha baseia-se no facto de ele poder chegar à Presidência, e não no que pode fazer depois de lá chegar. Se se analisar bem os últimos meses e os seus discursos, vai-se chegar, facilmente, a esta conclusão.
Finalmente, tentando ser sucinto, é toda a promessa global e oca de uma «mudança» para melhor. Mas não apenas uma mudança estratégica. Não. Obama promete, repare-se, mudar a moral americana, a maneira como os americanos olham uns para os outros, baixar os impostos, investir na energia doméstica e abandonar a dependência de fornecedores externos, uma política de saúde melhor, o fim da guerra no Iraque (ao mesmo tempo que proseegue a «guerra ao terrorismo, à al-Qaeda e aos Talibãs»), o fim da gravidez indesejada nas adolescentes, o fim da fome, da pobreza, da doença, da negligência ambiental, da chuva ácida e da maldade humana. Barack Obama, no fundo, promete isto: antes do galo cantar três vezes, há-de separar as águas no Mar Vermelho e caminhar no seu fundo.
Por muito que eu tenha alguma simpatia pelo simbolismo que consegue criar e pela inspiração que dá a muitos americanos, a verdade é que, substancialmente, Barack Obama não existe enquanto futuro Presidente. Ele existe, apenas e só, enquanto símbolo. E isso é das coisas mais perigosas que pode acontecer a um país. Especialmente a um país como os Estados Unidos da América. O candidato democrata ainda não se apercebeu foi do seguinte: este é o seu momentum. Se Obama não ganhar estas eleições, duvido que alguma vez volte a ter a mesma preponderância e as mesmas hipóteses na corrida à Casa Branca. O que é pena, porque depois da caminhada pelo deserto, haveria a hipótese remota de ele voltar com mais bagagem, mais moderação e, sejamos francos, mais humildade.
Depois, é a hipocrisia do «esta campanha não é acerca de mim [Obama] mas acerca de vós [povo americano]», que é como quem diz «estamos todos contra McCain e o Partido Republicano, eu simplesmente sou o resultado da vontade do povo». Ao menos Hillary Clinton, uma das figuras políticas americanas mais inteligentes e capazes - logo, mais manipuladoras, ambiciosas e intolerantes -, admitia que a campanha era sobre ela e sobre a sua caminhada até este ponto, em que podia concorrer à Casa Branca. A retórica desresponsabilizadora de Obama iliba-o, é claro, de todos objectivos pessoais e políticos. A sua campanha baseia-se no facto de ele poder chegar à Presidência, e não no que pode fazer depois de lá chegar. Se se analisar bem os últimos meses e os seus discursos, vai-se chegar, facilmente, a esta conclusão.
Finalmente, tentando ser sucinto, é toda a promessa global e oca de uma «mudança» para melhor. Mas não apenas uma mudança estratégica. Não. Obama promete, repare-se, mudar a moral americana, a maneira como os americanos olham uns para os outros, baixar os impostos, investir na energia doméstica e abandonar a dependência de fornecedores externos, uma política de saúde melhor, o fim da guerra no Iraque (ao mesmo tempo que proseegue a «guerra ao terrorismo, à al-Qaeda e aos Talibãs»), o fim da gravidez indesejada nas adolescentes, o fim da fome, da pobreza, da doença, da negligência ambiental, da chuva ácida e da maldade humana. Barack Obama, no fundo, promete isto: antes do galo cantar três vezes, há-de separar as águas no Mar Vermelho e caminhar no seu fundo.
Por muito que eu tenha alguma simpatia pelo simbolismo que consegue criar e pela inspiração que dá a muitos americanos, a verdade é que, substancialmente, Barack Obama não existe enquanto futuro Presidente. Ele existe, apenas e só, enquanto símbolo. E isso é das coisas mais perigosas que pode acontecer a um país. Especialmente a um país como os Estados Unidos da América. O candidato democrata ainda não se apercebeu foi do seguinte: este é o seu momentum. Se Obama não ganhar estas eleições, duvido que alguma vez volte a ter a mesma preponderância e as mesmas hipóteses na corrida à Casa Branca. O que é pena, porque depois da caminhada pelo deserto, haveria a hipótese remota de ele voltar com mais bagagem, mais moderação e, sejamos francos, mais humildade.
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