terça-feira, agosto 26, 2008

Madness

Por razões semi-profissionais, ou por amizade, tive de passar pelo Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. É um sítio estranho, devo dizer. As pessoas que se podem ver por ali, a passear, a observar ou, simplesmente, a aguardar não se sabe bem o quê, todas têm uma história misteriosa por detrás, que esconde, sem dúvida, as causas dos comportamentos curiosos que têm. Umas pedem cigarros a todas as pessoas que encontram, outras simplesmente olham o vazio, outras fitam-nos de forma ameaçadora (mas sem consequência), outros fazem pequenas cerimónias satânicas, enquanto outros caminham pelos corredores da instituição escolhendo apenas as lajes escuras, evitando pisar o branco sujo dos mosaicos do chão. É um sítio estranho, como dizia, mas que nos diz mais sobre as nossas próprias possibilidades emocionais e psicológicas (entre elas, a possibilidade de desvio) do que dos «problemas» dos outros. O que mais assusta numa visita ao Miguel Bombarda é saber que todas aquelas pessoas, internadas, são iguaizinhas a nós. E faz-me perceber o porquê de muitos «tiques» na escrita de António Lobo Antunes, que, sem dúvida, já viu desfilar centenas de pessoas pelos jardins desta instituição.

1 comentário:

Pedro Afonso disse...

Já lá estive também por razões "semi-profissionais" e acho que, felizmente, para o Lobo Antunes aquele ambiente só lhe fez bem para a escrita visto que para a sua cabeça ...já tenho dúvidas.