quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Violências



A propósito de uma notícia do DN sobre o aumento da violência doméstica em Portugal no ano de 2005, lembro-me de um senhor de província que batia na sua esposa por antecipação. Passo a explicar: o senhor, sempre perspicaz, batia na sua mulher antes que esta pudesse ter pensamentos. Ou seja, caso a pobre mulher quisesse ponderar sobre a hipótese de vir a pensar, o marido empregava-lhe um valente murro no lombo. Porquê? Segundo António Manuel, autor deste modo de actuar violentamente absurdo, a mulher é um bicho perigoso que, se não for domado, arrisca-se a enfiar um nobre par de «cornos» no marido. É como na Grécia, apenas com a diferença de personagens como Penélope não terem direito a se divorciarem por justa causa.

António Manuel, mais conhecido por «Nega», sempre foi assaz original no seu modo de pensar. Talvez se possa considerar este homem um pertencente da classe das mentes pragmáticas. Talvez se possa considerar este homem um grande bronco. Não sei. O certo é que a pobre da Cidália, de cada vez que suspirava um pouco mais alto, via-se sujeita a ficar com um olho negro. Já os filhos de António Manuel não corriam o risco de sofrer qualquer tipo de caução física, já que o perigo de adultério não perpassa da mulher para a criançada. Mesmo assim, sabe-se que o «Neguinha» mais novo já sentiu a arte babilónica de fazer leis nos ossos. Um dia, quando renegou o clube do pai em frente aos amigos deste, a criança, esperta, ganhou um valente estalo nos dentes como prémio. Acrescente-se que António Manuel é do Sporting. Pelo menos é a essa conclusão a que chego após muito estudar a tatuagem que o homem empunha no braço. «Sporting 3 ; Benfica 0», é o que se desenrola pelos braços de «Nega».

Pelo que atrás escrevi, é fácil perceber-se que a situação de António Manuel e de Cidália muito me diverte. Pela situação caricatural, é claro. Todavia, o aumento de casos de violência doméstica em Portugal não me deixa de perturbar. Partindo de uma premissa um tanto ou quanto politicamente correcta, dir-se-ia que a violência não é solução para nada. Muito menos para o esclarecimento de querelas conjugais. Bem sei que, por vezes, a violência serve como arma masculina de submissão do sexo forte. Isto é, à semelhança de António Manuel, muitos são os homens que batem nas suas mulheres para as dominar. Arriscando uma chalaça, diria que estamos perante casos de «amor forçado». Mas é triste que, num país que se pensa desenvolvido, continuem a surgir frequentes casos de dominação conjugal pela força. É, de igual modo, triste que se continuem a procurar respostas absurdas para casos sérios. Antes vale parodiar com os abstrusos casos da facada matinal do que dizer, por exemplo, como Elza Pais, que a violência é o resultado do "enraizamento sócio-cultural da desigualdade de género".

[Paulo Ferreira]

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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