quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Levar jeito II

Levar jeito para determinada coisa não é fácil, embora muita gente afirme que leva muito jeito para múltiplas coisas. Eu, por exemplo, não sou sujeito que se envaideça com essas coisas. Sou muito humilde, como Rousseau. Mas, como digo, existem pessoas que, apesar de não levarem jeitinho nenhum para a coisa, se vangloriam por pensarem que têm muito jeito para a dita coisa. Por exemplo, conheço indivíduos que nunca jogaram futebol dizerem que fazem passes à Hugo Viana. Como é que se explica a uma pessoa que nunca jogou futebol que é impossível fazerem-se passes iguais a um jogador de futebol profissional, quando nunca se jogou futebol? Conheço ainda criaturas que dizem que escrevem da mesma forma que Pulido Valente. Enfim, conheço pessoas que se dizem capazes dos feitos mais audazes.

Das pessoas que sempre se consideraram muito talentosas para realizar determinados tipos de actividades, destaco umas: aquelas que se acham mestres do sexo e do engate.
Existe um tipo um tanto ou quanto anormal que, de cada vez que vê uma mulher passar por si, exclama um sexy bum-bum para os seus amigos. Outras vezes, esse mesmo tipo, quando se vê acompanhado por uma nobre representante do sexo feminino, trata logo de passar pelos seus amigos, para que estes o vejam como a criatura divina e omnipotente em tudo o que diga respeito a sexo. Mas, este sujeito, como disse, um tanto ou quanto anormal, revela-se melhor nas suas conversas. Em primeiro lugar, porque é fanhoso e nunca se apercebeu desse inexorável facto. Em segundo lugar, porque, quando alguém levanta o tenebroso assunto das relações sexuais, este indivíduo, que boceja antes de falar, diz coisas como «Meu amigo, se soubesses como estou cansado de mulheres. Ainda ontem a Audrey (cidadã australiana imaginária que também poderia ser a Monica Bellucci) me sugou até ao tutano!» Preciosidades, portanto.

Por outro lado, existem criaturas muito dotadas para certas coisas, mas que nunca o admitem. Por exemplo, o «corno manso», que é uma criatura muito universal, nunca revela aos outros que é uma pessoa extremamente capacitada para se deixar tourear. Infelizmente, diga-se. Se estes indivíduos dotados de capacidade natural para se deixarem trair se revelassem ao mundo, as coisas seriam completamente diferentes. Dostoievski nunca teria escrito o Eterno Marido e muitos pais de família nunca se teriam deixado afundar pela bebida. Além disso, a verdade é que estes eternos maridos levam jeito para a coisa. Levam mesmo.

[Paulo Ferreira]

1 comentário:

Anónimo disse...

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