sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O caminhante solitário



Há um ano atrás, quando li o brilhante Intellectuals de Paul Johnson, fiquei fascinado com os retratos que o historiador britânico fazia sobre algumas ilustres personagens, entre as quais se destacava a proeminente figura de Jean-Jacques Rousseau. Agora, depois de ler Os Devaneios do Caminhante Solitário de Rousseau, mais fascinado fico. Pela negativa. Se Paul Johnson descrevia Rousseau como um homem sem escrúpulos, falso, hipócrita, agora, depois de ler a obra póstuma do «pensador» francês, fico com a sensação de que o nobre Jean-Jacques terá sido, efectivamente, um dos maiores fingidores de sentimentos que alguma vez terá existido.

Ninguém no seu perfeito juízo abandona os seus filhos num orfanato, quando tem dinheiro para os criar. Mas Rousseau fê-lo. Abandonou os filhos num orfanato. Mais: Rousseau abandonou os filhos num orfanato e negou-o sempre, pelo menos até ao dia em que decidiu confirmar a verdade nos seus escritos. Depois, Rousseau, pelo que leio, tinha uma capacidade inata para se vitimizar perante o mundo. Aqui fica um exemplo: «Eis-me sozinho na terra, sem irmão, parente próximo, amigo, ou companhia a não ser eu próprio. O mais sociável e o mais afectuoso dos homens foi proscrito da sociedade por um acordo unânime.» Vê-se, pelo excerto transcrito, que, realmente, Rousseau, o caminhante solitário, era uma vítima deste inóspito mundo. Como todos nós, aliás.

Rousseau afirmava, não poucas vezes, que ele próprio devia ser das pessoas que menos mentia no mundo. Com efeito, ele era a verdade, a bondade do mundo. Por outro lado, o resto da sociedade representava o mal. Luta injusta, aquela que é feita por um indivíduo contra o resto da sociedade. Quando mentia, Rousseau dizia que era para evitar males maiores, como o bom Ulisses da Odisseia. Porém, não nos esqueçamos de que até Ulisses se fingiu de louco para não combater em Tróia ao lado dos seus companheiros. Rousseau mentia como poucos e, como se isso não bastasse, fingia pertencer a um mundo santo que, de facto, não era nem nunca poderia ser o seu.

Os Devaneios do Caminhante Solitário, não sendo um livro de excepção, como nenhum livro de Jean-Jacques em geral, é um livro que permite compreender muito daquilo que foi o homem do contrato social no seu tempo. Permite que se compreenda que, muitas vezes, a mentira serve como apologia da verdade. E é esse o Rousseau que nos chega hoje através dos livros, o mentiroso apologista da verdade.

[Paulo Ferreira]

9 comentários:

Anónimo disse...

Excellent, love it! accutane side affect Spam and spyware filter free Xanax bar addiction stories Antispam isa server Prozacdefinition prozac

Yehonala disse...

Excelente texto. Meus parabéns!
Vou colocar nos favoritos e passar mais vezes por aqui.

Anónimo disse...

Há muito o que aprender com Rousseau, especialmente com sua história de vida e seus escritos sobre educação. Quem não comete erros na vida?
O próprio Jean-Jacques Rousseau diz: "Não escrevo para desculpar meus erros, mas para impedir meus leitores de os imitar".

Anónimo disse...

Boa Tarde,

Antes de mais nada peço minhas sinceras desculpas pelo comentário que se segue. Apenas gostaria de enfatizar que para falar ou mesmo citar o nome de Rousseau deveria ter mais respeito. Até porque o seu texto é insignificante diante da obra deste filósofo.
Só psso dizer que este homem de quem você se aventura falar, não foi compreendido no seu tempo e ainda hoje também.
Porém, pode ficar tranquilo, pois se talvez ele (Rousseau) pudesse ler o seu texto não daria tanta atenção.

Cordialmente,
Marcello Merli

Marcelo Corrêa da Silva disse...

Eu ia endossar as palavras precisas do senhor Marceloo Merti, mas quando as li desisti por razões óbvias.

Cordialmente
Marcelo Corrêa da Silva

Marcelo Corrêa da Silva disse...

Eu ia endossar as palavras precisas do senhor Marceloo Merti, mas quando as li desisti por razões óbvias.

Cordialmente
Marcelo Corrêa da Silva

Marcelo Corrêa da Silva disse...

Desculpe, Marcello Merli.

Anónimo disse...

TEm cada idiota nesse mundo.
Apelam a autoridade ilegítima do mentiroso para defendê-lo. Gentinha burra...

Belo texto, não se preocupe com as críticas infantis desses rousseaunianos.

Dirceu disse...

cAROS AMIGOS:

Sou estudioso de Rousseau. Vejo que há injustiças sendo cometidas em relação a um dos maiores personagens do século XVIII. Rousseau combateu a opulência que cria cada vez mais os esfomeados desvalidos. Culpa dos pobres? Não sei. Só sei que até hj a desigualdade é um dos maiores males a ser combatido. Minto também??

Att.........Dirceu.