quarta-feira, janeiro 31, 2007

Para te dizer

- Estou?

- Quem fala?

- Sou eu.

- Não quero mais conversas contigo.

- Era só para te dizer...

(bip-bip-bip-bip. Telefone desligado.)

Era só para te dizer, só para te dizer, só para, só para te dizer, começou uma voz a ecoar no céu.

[Paulo Ferreira]

Poema

Um poema de João Cabral de Melo Neto no blogue, pensei.

João Cabral de Melo Neto

[Paulo Ferreira]

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Querer imenso

Tentou segurá-la com as mãos, para que o vento não a levasse para os braços do outro, mas não conseguiu.

[Paulo Ferreira]

Zero

Nem com um blog a conseguiu cativar. Era um zero.

[Paulo Ferreira]

domingo, janeiro 28, 2007

Old phone II

Procura-se pessoa X ou Y na lista telefónica. Mas os números não falam.

[Paulo Ferreira]

Old phone

A lista telefónica não respira.

[Paulo Ferreira]

Coisa II


Bip-bip-bip. Ninguém atende.

[Paulo Ferreira]

Coisa I


O mais antigo meio de procurar a solidão.

[Paulo Ferreira]

Da entrega total

Ele amava-a tanto que só descansou quando ela o mandou pastar.

[Paulo Ferreira]

Terceiros

No amor, certos indivíduos são como os sportinguistas: a culpa é de terceiros.

[Paulo Ferreira]

Frente-a-frente

O pior de um fente-a-frente é a mentira, ou o exagero.

[Paulo Ferreira]

Nostalgia


Ron Jeremy

[Paulo Ferreira]

Aplicação

Soube, há pouco, que determinado indivíduo costuma aplicar uma cachaporrada (mental) na sua esposa.

[Paulo Ferreira]

Ressurreição

Dizer que alguém morreu é igual a pensar numa certa eternidade, numa perda. Torna-se, por isso, estranho dizerem-nos que alguém morreu sem nunca ter morrido.

Vou-me mentalizar de que determinada pessoa está viva.


[Paulo Ferreira]

Beja

Não vale a pena pegar em finas ironias ou em construções elevadas para criticar o «doutor» primero-ministro. Basta dizer: aeroporto de Beja. Mértola seria melhor.

[Paulo Ferreira]

sábado, janeiro 27, 2007

Central Park


Para um bom fim-de-semana.

[Paulo Ferreira]

Óbvios ululantes, cabras vadias e outras observações

Já enjoa ver artigos começados com «Nelson Rodrigues dizia que toda a unanimidade é burra.» Faz-me lembrar os tempos em que me queria tornar num doutrinador.

[Paulo Ferreira]

My 2008



Rudolph W. Giuliani

[João Carlos Silva]

Antigas e novas andanças do demónio

Via Desesperada Esperança, um excelente artigo de Gerard Baker na Times Online sobre um dos meus ódios de estimação. Vale muito a pena a leitura. Um exemplo de que «lá neles», lá fora, afinal sempre há quem critique abertamente alguém, que não George W. Bush («nem os americanos gostam do Bush, pá!»), e daí resulte um belo pedaço de prosa. Fica um excerto:

«Fifteen years ago there was once a principled, if somewhat rebarbative and unelectable politician called Hillary Rodham Clinton. A woman who aggressively preached abortion on demand and the right of children to sue their own parents, a committed believer in the power of government who tried to create a healthcare system of such bureaucratic complexity it would have made the Soviets blush; a militant feminist who scorned mothers who take time out from work to rear their children as “women who stay home and bake cookies”.

Today we have a different Hillary Rodham Clinton, all soft focus and expensively coiffed, exuding moderation and tolerance.

To grasp the scale of the transfiguration, it is necessary only to consider the very moment it began. The turning point in her political fortunes was the day her husband soiled his office and a certain blue dress. In that Monica Lewinsky moment, all the public outrage and contempt for the sheer tawdriness of it all was brilliantly rerouted and channelled to the direct benefit of Mrs Clinton, who immediately began a campaign for the Senate.

And so you had this irony, a woman who had carved out for herself a role as an icon of the feminist movement, launching her own political career, riding a wave of public sympathy over the fact that she had been treated horridly by her husband.
»

[João Carlos Silva]

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Enciclopédia do machista

- Bandarilheiro : sujeito com jeito para a algazarra, para o chinfrim;

- Escabeche: zaragata;

- Griso: frio;

- Grise: espécie de tecido antigo de cor pardacenta (significado comum). Forma de dizer frio em certas aldeias mais agricultadas;

- Tranca: os homens têm tranco. Parece que certas mulheres têm tranca;

- Amanhar: lavrar, agricultar, Amanha-te! ;

- Agadanhar: lançar o gadanho a, roubar, pôr as unhas;

- Pincel (molhar o): alguns homens ficam mais excitados ao aplicarem esta expressão em relação ao elemento feminino;

- Trincha: pénis, supostamente, grande;

- Faina: azáfama. Ando cá numa faina!;

- Descangalhar: arranjar;

- Espilrar: espirro de grande intensidade;

- Passarinho (ser): um homem dizer que outro homem não vale nada. Exprimir inveja. O gajo saiu-me um passarinho!;

- Berro (dar o): quem morre, dá o berro;

- Cantar: olha-me só o cantar do carro!;


- Bicho (tocar ao) : masturbar-se;

- Amortecer: implica uma certa violência. Amortecia-lhe o focinho!;


-
Pitéu: o petisco mais apetecido;

- Acepipe: manjar delicado;

- Langonha: sujeito mole. Visgo;

- Amargalhar: tocar ao bicho, mas de forma mais sentida, de acordo com o carpe diem;

- Amarfanhar: maltratar. Tens a fronha toda amarfanhada!;

- Fronha: cara;

- Mimo: rabo;

- Pacote: rabo;

- Veneno: indivíduo com tendências para manipular os mais fracos;

- Berbigão: peixe na costa, mulheres em grupo;

- Farfalho: pieira, limalha;

- Fanar: roubar;

- Cegar: perder a racionalidade durante um curto espaço de tempo. Naquele minuto em que a matei, estava cego!;

- Cagada: coisa fácil, o óbvio;

- Trinta e um: alhada, sarilho, salganhada, chouriçada;

- Malha (dar uma): murro, pontapé. Levei cá uma malha!;

- Estoiro (dar um): malha com mais intensidade;

- Chinfrim : algazarra;

- Pandã: o mesmo que chinfrim, mas mais refinado;

- Fandã: pequena variação da anterior. Chinfrim mais bravo;

- Rodízio: circo, palhaçada. Como é que fizeste esse rodízio? ;

-
Chavascal: barulho ;

- Chiqueiro: lugar imundo;

- Regueifa: fogaça.

[Paulo Ferreira]

Azar

O meu espelho partiu-se em seis bocados. Acreditando na superstição, enfrentarei quarenta e dois anos de azar, que, somados aos meus vinte e dois de existência, mais se parecem com um belo mas sempre triste sessenta e quatro. Com sorte, não sobreviverei até aos tempos de menor azar.


[Paulo Ferreira]

O estado das coisas



Marcel Duchamp, Fountain, 1917

[João Carlos Silva]

Música em tempos de guerra

Maria João Lopes Fernandes, no Insónia, recupera/reformula as velhas questões de George Steiner: «Como foi possível Josef Kramer, em Birknau, matar dezenas de pessoas num dia e tocar Schumann no piano a seguir? Poderá qualquer amante de música ser um criminoso?». Num excelente post ensaístico, a ler, sobre o respeito que a música e a arte exigiam mesmo no contexto do Holocausto. E, sobretudo, o respeito que Alma Rosé exigia: «Será que Alma Rosé acreditava que a música poderia tornar os seres humanos melhores, mesmo aqueles monstros no campo de concentração? (...) Nunca o saberemos; sabemos apenas que se algum SS se ria ou fazia um julgamento durante uma actuação, ela parava a música, dizendo que não se podia tocar naquelas condições e nunca foi punida por isso».

[João Carlos Silva]

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Uma abelha na chuva



Até no escuro se bate com a cabeça na verdade.

- Carlos de Oliveira

[João Carlos Silva]

Referendos #4

Lobo lobo lobo! Habituados a falsos alarmes, já ninguém acreditava na honestidade de Pedro. É lobo, gritava o rapaz, para salvação de todos, mas deixaram-no morrer sozinho.

[João Carlos Silva]

Referendos #3

Abraçados, corriam para o comboio europeu. Mas corriam a pé, de chinelo sonhador.

[João Carlos Silva]

Referendos #2

Sim. Mas quem diz que sim tem de saber porque diz que sim, diziam os que diziam sim. O homem dizia que sim por gosto. Mas tiraram-lhe todo o paladar da boca.

[João Carlos Silva]

Referendos #1

Procurava-se a modernidade como quem procura a felicidade. «É possível se todos acreditarmos. É possível».

[João Carlos Silva]

Steve Vai



E ele foi.

[João Carlos Silva]

Enciclopédia (curta)

- Chinfrim : algazarra;

- Pandã: o mesmo que chinfrim, mas mais refinado;

- Fandã: pequena variação da anterior. Chinfrim mais bravo;

- Rodízio: circo, palhaçada. Como é que fizeste esse rodízio? ;

-
Chavascal: barulho ;

- Chiqueiro: lugar imundo;

- Regueifa: fogaça;

continua..

[Paulo Ferreira]

terça-feira, janeiro 23, 2007

De coisa antiga

Rasurado não é arrumado.

[Paulo Ferreira]

Idiota

Bastaria assinar por baixo. Querem ver?

[Paulo Ferreira]

Da palavra

Como se fará a guerra pela palavra?

[Paulo Ferreira]

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Perfume do indivíduo


To be or not to be


[Paulo Ferreira]

O não-eleitor 4

Não votava, ponto, não queria mais conversas sobre o assunto. Porém, se insistissem muito para que se explicasse sobre aquilo que o levava ao silêncio, ele falava. Mas pouco.

[Paulo Ferreira]

sábado, janeiro 20, 2007

O não-eleitor 3

Para que serve um parlamento, quando uma questão como a do aborto vem para a votação dos 100 melhores portugueses?

[Paulo Ferreira]

O não-eleitor 2

Aborto sim ou não talvez, qualquer coisa que diga que uma resposta pode alterar a ordem das coisas.

Mas nada rebenta, nada rebenta. Se ao menos me dessem uma granada.

[Paulo Ferreira]

O não-eleitor

Nunca tinha votado, nunca tinha olhado para a política com olhos de quem pode transformar o mau em bom, o péssimo em óptimo. Chamavam-lhe frustrado mas ele não se importava.

[Paulo Ferreira]

Fiama: 1938-2007



A ler esta súbita notícia.

[João Carlos Silva]

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Erudição

Karkai, erudito, afirma não ver televisão. Nem um programa? «Nenhum!». Agora, apenas interpreta os astros, diz Karkai.

[João Carlos Silva]

Coleccionismo II

Nota: Gil Vicente em 83º e António Lobo Antunes em 82º. Hélio Pestana em 79º. Quem?

[João Carlos Silva]

Coleccionismo

Não perdi o sono por causa dos «Grandes Portugueses». E estas brincadeiras valem o que valem. Mas admito que é uma das melhores formas de recenseamento que já vi no nosso país, digna dos tempos prósperos de velho Marquês. À falta de meios e pessoas para conhecer Portugal, põe-se a televisão, e a massagem no ego que é poder votar no quer que seja, a trabalhar para a nossa apetência para rir de nós mesmos.

Um exemplo: gostaria de tentar encontrar as pessoas que puseram Maria do Carmo Seabra a meio da tabela. Não só é notável o número de pessoas que se devem ter lembrado de votar nela, como é ainda mais notável o número de pessoas que simplesmente se lembraram dela.

[João Carlos Silva]

Trimalquião

Petrónio bem sabia que um homem rico, que expele ventosidades sonoras pelo ânus, não pode ser um bom líder.

[Paulo Ferreira]

Aquiles

Poderá o homem perfeito morrer pelos calcanhares?

[Paulo Ferreira]

Helena (de Menelau)

Dizer que a história dos troianos começou em mito não mais é do que fazer uma bela abordagem ao tema mulher.

[Paulo Ferreira]

Biografia literária



Francisco Rodrigues Lobo (Leiria, 1580 — Lisboa, 1622) morreu afogado no Rio Tejo.

[Paulo Ferreira]

Frente

Da frente para a frente, dos lados para a frente, das voltas, dos círculos para a frente, da alucinação para a frente, da obsessão para a frente, das frentes para a frente. Tudo na obra-prima-à-frente.

A frente é uma trincheira, uma nulidade insidiosa. O AMOR (poderia ser poema). A frente como sentimento não-pensante. Tu (pedra que não fura mas fere).

[Paulo Ferreira]

Anagrama

Todos os caminhos vão dar a Roma.

[Paulo Ferreira]

terça-feira, janeiro 16, 2007

Mãos ( breves notas)

1. Observando as mãos se compreende o vício. Por cima dos ossos, na pele, cai o fumo do prazer, da droga nicotina (alcatroada).

2. Observando as mãos se verifica que o cigarro tem a mesma capacidade de encarquilhar que o banho demorado.

3. Observando o que parece mas não é, as mãos, se compreende a erudição da não-vida, da morte. Lá está o livro, ou a sua marca nos dedos, a indicar que tantas falhas estão por suprir.

4. Através das mãos, ou da sua observação, se vê e se cega. O olhar é um autêntico não ter jeito para nada que vá para além do vago, do inseguro, da palavra-ideia.

[Paulo Ferreira]

Loucura

Uma mulher, que se queixava do peso dos seus seios, foi ao médico pedir para que lhe fossem colocadas duas mãos nas suas paredes ondulantes. Uma loucura.

[Paulo Ferreira]

Desinspiração

Escrever duas páginas e não acertar numa única linha.

[Paulo Ferreira]

O «anjo pornográfico» revisitado

A ler os pequenos contos de Luís Vernando Veríssimo no último Expresso, do dia 13. A ver se não lhe soará a algo familiar. Não tivesse já existido um Nelson Rodrigues e um Miguel Esteves Cardoso (inconfundíveis, respectivamente, na ficção e na crónica), eu diria que Veríssimo era ambos:

Justino. Todos o chamavam de «Justo». E ele era. Um homem sério, ponderado, um paradigma moral. Tanto que Gelson, um dos seus admiradores, toda vez que o via na rua, gritava:
- Paradigma! Paradigma!


[João Carlos Silva]

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Processo de Bolonha

Criança que está na escola é criança que não está a trabalhar.

[Paulo Ferreira]

sábado, janeiro 13, 2007

Mal IV

«Sermos ignorância» é uma bonita forma de explicar às crianças que a culpa é dos genes, que, no fundo, o acto de nascer já é, em si, um acto falhado.

[Paulo Ferreira]

Mal III

O mal não é apenas resultado da vontade de bater, do ódio visceral. É também uma soma de ignorâncias que se vão acumulando e multiplicando, até se tornarem vida e corpo.

[Paulo Ferreira]

Chave

Ignorância + corpo = transubstanciação?

[Paulo Ferreira]

Moleskine:

Objecto demasiado caro, que apenas serve para riscar (e apagar) sonhos.

[Paulo Ferreira]

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Humor + metáfora = greguería

Quando a navalha do barbeiro apara a nuca, o cliente guarda um minuto de silêncio.

É na maneira de esmagar a beata no cinzeiro que se reconhecem as mulheres cruéis.

O cego mexe a sua bengala como se tirasse a temperatura à indiferença humana.


- Ramón Gómez de La Serna, Greguerías

[Paulo Ferreira]

Amor quilométrico

Ela padecia de um amor anacrónico: Savonarola era todo o seu sentir.

[Paulo Ferreira]

Mal II

Quando saía à rua, vestia um impermeável, já que acreditava que a natureza do Homem era eminentemente má e, por conseguinte, contagiante.

[Paulo Ferreira]

Mal I

O mal pega-se como a peste.

[Paulo Ferreira]

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Bilhete postal (versão «I wonder why»)

Poderias ter tido um pequeno mundo neste grandioso universo sentimental, mas preferiste um Golf Tdi equipado a la latagão.

[Paulo Ferreira]

Abelhas

Zunzum?, perguntou uma abelha a outra. Zunzum, respondeu a outra. O menino, que cheirava as flores, nem tempo teve para correr.

[Paulo Ferreira]

Kamasutra III

Quem nada poupa, tudo entrega.

[Paulo Ferreira]

Kamasutra II

Violenta existência simultânea.

[Paulo Ferreira]

Kamasutra I

Consciencialização de que é impossível aniquilar o outro.

[Paulo Ferreira]

Uma política, digamos, europeia

Os táxis vão parar uma vez por semana.

[Paulo Ferreira]

«Giorgio loves Carolina»

Uma coisa: só deveriam escrever cartas de amor aqueles que as sabem escrever e esconder.

[Paulo Ferreira]

Falo

Não sabia o que significava «falo» e perguntou ao professor: falo, o que é? Apesar de ninguém lhe ter respondido, todos se riram. Certos lexemas levantam vontades.

[Paulo Ferreira]

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Jorge Costa e Aloísio


Grandes eram os amigos que faziam de parede contra exércitos de lata. Se João de Barros fosse deste tempo, provavelmente, colocaria os amigos no maravilhoso mundo da (imaginária) glória imperial portuguesa. Mas nem nos livros ficarão, nem sequer nos registos de contabilidade de um qualquer empregado de escritório. Vitórias contra exércitos de lata têm como resultado o esquecimento dos heróis.

[Paulo Ferreira]

Clássicos modernos #3



João Miguel Fernandes Jorge foi para mim, por muito tempo, apenas mais um nome de poeta português a ler em tempos próximos. Tempos próximos que foram sempre adiáveis, adiáveis, adiáveis. A espera foi negligente, até ter pegado em A Pequena Pátria, e descobri, num livro (de antologia, penso) que muito provavelmente nem será um dos melhores do poeta, mas que ainda assim reúne excelentes poemas de alguém que sabe escrever poesia, sem sombra das dúvidas. Miguel Esteves Cardoso dizia que João Miguel Fernandes Jorge era o melhor poeta português vivo. Pensei que era a amizade a falar mais alto. Mas não era.

Breve questão do ser português

António nunca chegou a triunfar.
Miguel foi banido. Pedro morreu
pleno de bondosa sabedoria.
Carlos assassinado e os jovens
príncipes pereceram
apesar de Manuel ter sido rei
dois anos lhe chegaram de experiência
fértil e clara.
Eis o teatro das acções humanas, a
vida portuguesa: um campo
de paixões
forças brutais
artes sem qualquer finalidade duradoira.


[João Carlos Silva]

Relógio

Não anda, o relógio. O tempo pára em momentos importantes, que acabam por não ser assim tão importantes, uma vez que não se dá a devida atenção àquilo que, apesar de ser tudo, acaba por ser nada. Só depois, no nada, no esgotamento dos segundos que já não restam, é que o tempo se move. Mas, aí, já é demasiado tarde.

[Paulo Ferreira]

Clássicos modernos #2



Philip Roth. É difícil parar de ler o homem. A dada altura, diz isto sobre a escrita: «It would be nice, particularly in the presence of the needy, to have pure disinterested motives like everybody else, but, alas, that isn't the job. The only patient being treated by the writer is himself.» (The Anatomy Lesson)

[João Carlos Silva]

Clássicos modernos #1



Fez 60 anos na segunda-feira.

[João Carlos Silva]

terça-feira, janeiro 09, 2007

Ricardo Rocha

Mudou de penteado e achou-se bonito. Mas era quase tão feio quanto a palavra edredão. E limpava, e arrepiava e arreliava. Limpa! É minha! Golo para o adversário do pequeno figo.

[Paulo Ferreira]

Elliott Smith

Pac-pac foi a sua última canção. Nunca ninguém a ouviu mas ela estava lá. Pac-pac no boom-boom. Foi assim que a arma branca lhe bateu à porta. Pac no coração.

[Paulo Ferreira]


Simão Sabrosa

O rato corria que nem um louco atrás do queijo que sempre foge. Mas só tinha cassetes para mostrar no estrangeiro. E um peito esticado. O queijo sempre fugia. Sempre fugia. Adeus, que me embora vou, dizia por vezes o pitéu. Ai.

[Paulo Ferreira]

Costinha

Um goleiro não se conseguir fixar à linha de baliza, deixando a bola sempre redonda entrar, entrar e entrar. A culpa é do cigarro, que queima. Apre!

[Paulo Ferreira]

Bandarilha

Já não sou quem era. Quem nunca fui, nunca serei. Mas é mentira, tudo mentira, porque sou quem era, um nunca ter sido.

[Paulo Ferreira]

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Vida breve

Escreveu um livro, plantou uma árvore e fez um filho. Depois, foi viver a vida.

[Paulo Ferreira]

Trono

Um homem, que se queria casar com uma bonita rainha, teve azar na vida: foi morto por um rei.

[Paulo Ferreira]

domingo, janeiro 07, 2007

Circulação

Um erudito do século XVII, Duarte Ribeiro de Macedo, diz-nos algo: A circulação de dinheiro no reino deveria ser como a circulação de sangue no corpo.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 13

Pangloss acaba a concluir que vive num belo mundo.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 12

No final, Cândido resigna-se a um mundo violento (ao lado da sua feia mulher).

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 11

Que prazer pode haver em nada apreciar? (Voltaire, Cândido ou O Optimismo)

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 10

Inglaterra. Choque com a gratuitidade da violência, com as loucuras da guerra entres ingleses e franceses.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 9

Ao dizer ao Padre barão que se deseja casar com a sua irmã, este revolta-se e Cândido vê-se obrigado a matá-lo.

O melhor dos homens levava três homens mortos. Dois deles eram padres.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 8

Cândido, o puro, mata um prelado e um judeu.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 7

Depois do terramoto (Lisboa, 1755), assiste-se a um Auto-da-fé. Pangloss é enforcado, Cândido é açoitado.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 6

Naufrágios. Mortos.

Pangloss: Se um universo existe, é necessariamente o melhor dos universos. (Voltaire, Cândido ou O Optimismo)

[Paulo Ferreira]

A ler

O que o Bruno tem escrito nos últimos dias.

[Paulo Ferreira]

Conversa

Um amigo disse-me que nunca fui centro de conversas. Apesar de me ter parecido bom sinal, não fiquei contente.

[Paulo Ferreira]

sábado, janeiro 06, 2007

Sobre optimismo 5

Na Holanda, Cândido pede esmola. O Barão Thunder-ten-Tronckh está na miséria. Os Búlgaros têm mau feitio.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 4

Visões de Cândido: miolos espalhados pelo chão, braços e pernas cortadas.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 3

Entre os Búlgaros, Cândido leva quatro mil bastonadas.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 2

Pangloss demonstrava que neste melhor dos mundos, o castelo do senhor Barão era o mais belo dos castelos.

Tendo tudo sido feito para um fim determinado, tudo se dirige para o melhor dos fins. (Voltaire, Cândido ou O Optimismo)

Cândido acreditava.

[Paulo Ferreira]

Sobre optimismo 1


Juízo recto, espírito limpo. O nome Cândido é exemplo disso.

[Paulo Ferreira]

Sobre prémios

Dr. House: Nobel invented dynamite. I won't accept his blood money.

[João Carlos Silva]

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Disposição mental:

Na orla do boato político, da piada fácil, da insensibilidade literária.

[João Carlos Silva]

Determinismo

Ele era um homem atinadinho, lendo os Renascentistas como mandam os sábios. Por descuido seu, ou ingenuidade típica da tenra idade, deixou-se dormir. Ao acordar, viu-se na idade moderna. «Ficarei por cá», disse, «evoluirei de novo».

[João Carlos Silva]

Proposta de manchete 24 Horas #3

José Sócrates é um grande beijoqueiro

[João Carlos Silva]

Proposta de manchete 24 Horas #2

Carolina Salgado comove-se: «No Calor da Noite tornei-me uma mulher fria»

[João Carlos Silva]

Proposta de manchete 24 Horas #1

Ana Gomes revela: «Há espiões anónimos a circular na Europa»

[João Carlos Silva]

The Royal Tenenbaums



Sei que o timing é péssimo, mas não resisti.

[João Carlos Silva]

Mesopotâmia

A propósito de um post com erro, um sabichão disse-me que fosse eu dar uma volta à Pérsia já que da Pérsia é o Irão e o Saddam foi executado na Mesopotâmia. Em país totalitário, já nem o direito ao erro está salvaguardado. Tenha vergonha, Sr. Bruno Alves.

[João Carlos Silva]

O cego

Ele lia tanto, mas tanto, que ficou cego. O estranho é que, depois de cego, ele acreditava ver mais do que os outros.

[Paulo Ferreira]

Leitura


Se perguntarem por mim, digam que estou com João Cabral de Melo Neto a vasculhar as pedras.

[Paulo Ferreira]

Craque

Acabado o treino, foi para casa. Encontrou a mulher na cama com outro. Fechou os olhos e, quando tudo apontava para que uma revolta se desse a mostrar, disse: «Há que levantar a cabeça.»

[Paulo Ferreira]

CTT

Foi pelo correio que recebeu o maior gesto amoroso da sua vida. Uma carta. Queres casar comigo? Foi, de igual modo, pelo correio que enviou a mais pesada das palavras. Sim.

[Paulo Ferreira]

Goa, 1510

O pior de todos era o Hidalcão, que causava grande destruição.

[Paulo Ferreira]

Farmácia

Cinco comprimidos de Benurom equivalem a um copo de água mal lavada.

[Paulo Ferreira]

Nota solta

Tinha uma única palavra escrita no caderinho preto: Florbela. Não relaciono com nada. A menos que seja Espanca. Mas, nesse caso, continuo a não relacionar com nada.

[Paulo Ferreira]

História



Muitas vezes se tenta encontrar o que se esconde dentro da História que nos é contada pelos livros. Mas só se encontra ficção.

[Paulo Ferreira]

Eusébio

Sem o tremoço, não teria sido ninguém.

[Paulo Ferreira]

Barbas

Quando todos os Barbas do desporto rei se finarem, estará tudo acabado.

[Paulo Ferreira]

Jogador da bola

Marcava os cantos directamente para a baliza. Cuspia nos adversários. Gozava com os árbitros. Não corria. Pouco transpirava. No balneário, era o capitão. Chamava-se Leviatã e impunha respeito com os seus gritos públicos.

[Paulo Ferreira]

Poste

Abriu o vidro do carro e meteu a cabeça de fora para exprimir felicidade. Acabou com a referida cabeça a rolar no alcatrão (e com um poste a rir de maldade).

[Paulo Ferreira]

Novela

Ana mudou de penteado para agradar a Manel. Infelizmente, Manel gostava pouco de mudanças e começou a afastar-se de Ana. Mas Ana amava tanto Manel que acrescentou umas folhas de papel ao seu cabelo, para retornar (metaforicamente) ao seu antigo penteado.

[Paulo Ferreira]

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Ano novo, vida nova



A gerência do blogue agradece aos primeiros leitores de 2007

[João Carlos Silva]

Ver com os olhos

António Variações escreveu. David Fonseca cantou.

Já vejo com os meus olhos
Já vejo sem me deslumbrar
Já vejo as limitações
Já vejo com os meus olhos
Já vejo sem enganar
Perdi as ilusões
Conheço as limitações


- Humanos,Já Não Sou Quem Era

[Paulo Ferreira]

Alpista

E um dia ele afirmou: enquanto nada me disserem, em nada acredito.

[Paulo Ferreira]

A causa das causas

O pensamento invadiu-lhe o dia a dia, em forma de sufoco: Zé Pistolas deixou a tropa e fez-se aos livros.
Sem pensar em mais nada, Zé prometeu desafiar os factos tal como nós os conhecemos. Ou seja, tornou-se historiador apenas para esclarecer ao mundo que Cristóvão Colombo, no fundo, não era mais do que um artista de variedades.

[João Carlos Silva]

Rocco

Pela primeira vez ouvi falar de Mário Esteves. Permaneço, no entanto, sem saber de quem se trata. Mas isso sempre aconteceu em relação às minhas incursões pela pornografia.

[Paulo Ferreira]

Dacosta

Fernando Dacosta escreveu um livro, no qual se refere que Salazar nunca caiu da cadeira. Um grande poeta, está visto. Mais que visto. Ora essa.

[Paulo Ferreira]

Stop

Farroupilha não entra.

[Paulo Ferreira]

Violão no Piauí

Questão existencial: Piauí, existe? Nelson Rodrigues não esclareceu.

[Paulo Ferreira]

A causa da maquilhagem

Em Sobral de Monte Agraço, uma septuagenária sai revoltada do velório. «O morto está mesmo com cara de morto», gritava a mulher, resoluta, à porta da capela.

[João Carlos Silva]

A causa dos anos

Uma vénia a Guilherme Roesler e Henrique Fialho, por serem os primeiros a felicitar os aninhos deste blog quando nem eu, ultimamente meio perdido, me lembro.

[João Carlos Silva]

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A causa das cordas

Aproveitando a época festiva, penduraram Saddam numa corda lá para os lados da Pérsia. Fizeram-no quase às escondidas, enquanto o comum ocidental comia a sua filhós. Ora, mesmo sendo um opositor algo decidido à pena de morte, não posso deixar de ignorar esta morte em específico, tal como se ignora o toiro que morre na arena. Justifica-se bem: há pessoas melhores em quem pensar.

[João Carlos Silva]

Definir um país

Ele andava atrás delas como um bandarilheiro. Quando elas passavam, é toira linda, dizia ele.

[Paulo Ferreira]

Objectos

Ela dizia que estava gorda, mas continuava nos chocolates. Ela dizia que precisava de perder peso, mas o franguinho assado tirava-a do sério.

Vendo que nunca conseguiria abdicar dos seus prazeres da boca, ela tomou uma decisão: perderia peso no cérebro. Deixou de ler, deixou de pensar.

Embora desse à boca, parecia uma morta.

[Paulo Ferreira]

Sócrates


De grande categoria, esse Sócrates.


[Paulo Ferreira]

Estrume

O senhor André costuma dizer que somos ilhas rodeadas de estrume. O senhor André vende livros e conversa com os seus clientes sem dar um passo para onde quer que seja. O senhor André, para vender livros, não pode andar. Olha o estrume, cheira mal.

[Paulo Ferreira]

Gato miau

Ao gato deu o nome de Salazar.

Com medo do nome a si atribuído, o gato escondeu-se debaixo de uma cadeira. Para sempre.

As sete vidas eram para guardar.


[Paulo Ferreira]

terça-feira, janeiro 02, 2007

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Um agradecimento especial a Eva Angelina, mulher que tornou tudo isto possível.

[Paulo Ferreira]

A lenda


Comecei a olhar para blogues quase ao mesmo tempo que comecei a acabar de ler os teus livros. Contigo aprendi que crustáceo decápode marítimo também pode ter o nome de lavagante. Essa foi, aliás, das maiores lições que recebi. Nunca me esquecerei do lavagante. Também não me esquecerei dos adeptos benfiquistas num avião e de muitas outras coisas cheias de piada. Já toda a gente te leu e comentou e tem doutoramentos à conta da tua obra. Parece que gostas de ser o MEC e que eles te gostam de chamar de MEC. São tão carinhosos, todos eles. Eu e o meu amigo, olha, nós roubámos-te o nome e ficámos a vomitar coisas para esta causa, que não é nenhuma. Confesso, no entanto, que me sinto humilhado por nunca me ter aplicado o suficiente para que o nome do teu livro aqui fizesse sentido. Com efeito, nunca vim para aqui com o objectivo de perder a cabeça, de ser sério, político, crítico, etc. Nunca me esforcei por este blogue. Nunca achei que valesse a pena vir para aqui publicitar tudo aquilo que sei em relação a, ou tudo aquilo que consigo escrever num determinado estilo. A literatura é mais do que isto. A propósito, devorei o Amor é Fodido há três anos. Dezanove anos, na altura. Logo se vê a razão da minha obsessão por certas coisas que envolvem camas. Não interessa. Antes vale colocar uma fotografia tua no meio do que escrevo, a ver se as gentes que aqui passam dão legitimidade a este pardieiro.




[Paulo Ferreira]

Agradecimento

Também Hernrique Fialho já nos deu os parabéns. Assim, não vale a pena guardar a festa e o choro para daqui a uns dias. O Causa das Coisas faz um ano de vida. Comprem as prendinhas e essas coisas todas, que isto é tudo pessoal carenciado.

[Paulo Ferreira]

Ano velho, Ano velho

A 31 de Dezembro, um comprimido de Ibuprofen foi tomado por este que agora vos escreve. Um dia depois, outro Ibuprofen foi tomado. Hoje, ainda me senti tentado. Talvez amanhã, ou noutro dia qualquer, volte aos duzentos miligramas.

[Paulo Ferreira]

Um ano de existência menos uns dias


Guilherme Roesler, do Gazeta Cultural, deu os parabéns antecipados a este pequeno espaço. Aqui fica um especial agradecimento a este nosso leitor.




[Paulo Ferreira]

segunda-feira, janeiro 01, 2007

2007 - Desejo

Ele queria escrever um livro que mandasse o seu país à merda. Melhor: ele tinha um livro escrito, pronto a publicar, e tinha uma grande vontade de mandar os habitantes do seu país à merda.

[Paulo Ferreira]