sábado, fevereiro 11, 2006

Previsões



Se nunca acreditei na existência de Messias, sempre acreditei na existência de pessoas que, pela sua perspicácia, cultura e inteligência, conseguem prever aquilo que o futuro traz. Um exemplo bastante concreto do que estou a afirmar é Edmund Burke, um homem que, sensatamente, conseguiu prever aquilo que se passaria no tenebroso mundo da Revolução Francesa. Outros indivíduos tentam prever o futuro do mundo, mas nenhum o conseguiu fazer da mesma maneira que Burke conseguiu. No mundo de hoje, no mundo em que as notícias se sucedem a velocidade quase devastadora, existem pessoas que tentam prever os sinais do tempo, como se esses sinais fossem prenúncios do Apocalipse. Uma boa personagem dotada de espírito profético é Boaventura de Sousa Santos, uma espécie de sociólogo alimentado por pozinhos de previsão política. Recordo-me especialmente do nobre Boaventura quando penso num artigo em que o sociólogo demonstrava toda a sua preocupação com a ascensão de «um espectro negro conservador» no mundo ocidental (isto passou-se há cerca de três anos atrás). Infelizmente, ao contrário do que o senhor julgava, o espectro negro conservador não apareceu e nem sequer tomou conta do poder. Ora, mesmo no seio da política portuguesa, temos figuras que conseguem prever o final dos mundos através dos seus pensamentos geniais. Veja-se o caso do bom Francisco Louçã e perceba-se que, por vezes, a previsão política não deixa de se associar a certas lucubrações internas, que dizem respeito à esfera do sonho ou do desejo. Portanto, quando se pensa em imaginação e previsão, o melhor que se tem a fazer para não se cair no azar de dizer asneira é ler-se muito e falar-se pouco.

Em The Roads to Modernity, genial livro de Gertrude Himmelfarb, encontramos precisamente algumas referências à referida perspicácia de Burke. Passo a citar: Even more remarkable is Burke’s anticipation of the more momentous events that were to come. Regicide, war and terror are all prefigured in the Reflections, as if they had already happened. Burke took the measure of the Revolution at the outset. It was then, when the Paris mob marched to Versailles and seized the king, that «the most important of all revolutions» took place, «a revolution in sentiments, manners, and moral opinions». This moral revolution was later to become the rationale and dynamic of the Terror, an event that Burke dramatically foretold.

[Paulo Ferreira]

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