Para além de ter o tipo de paixão pela escrita que se alimenta da própria vontade, e não só do trabalho, e da sua escrita equivaler a uma respiração por longos movimentos ininterruptos, Raduan Nassar tem um pormenor particular, mas não inédito, de ter decidido «parar de escrever» depois de deixar um espólio de enorme qualidade. Lavoura Arcaica é parte desse espólio. O tema da obra: «assim que entrei, fui me pôr atrás dela, passando eu mesmo, num murmúrio denso, a engrolar meu terço, era a corda do meu poço que eu puxava, caroço por caroço, "te amo, Ana" "te amo, Ana" "te amo, Ana" eu fui dizendo num incêndio alucinado, como quem ora, cheio de sentimentos dúbios, e que gozo intenso açular-lhe a espinha, riscar suas vértebras, espicaçar-lhe a nuca com a mornidão da minha língua». O tema mesmo? Ana é irmã de André, personagem tentada e narrador.
[João Carlos Silva]
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