Não aprecio carros. Não percebo nada de velocidades. Para dizer a verdade, nem gosto de corridas em geral. Mas sempre tive um certo apego aos fins-de-semana de Fórmula 1 na RTP. Ora, Michael Schumacher acaba hoje, em princípio, a sua actividade. Ou melhor, hoje reforma-se um mito vivo. Para muita gente, Schumacher é (ou foi) o Diabo em pessoa. Lúcifer em carne e osso, dentro de um carro de Fórmula 1. Provavelmente, têm razão: Schumacher raramente se preocupou, na sua carreira, em reservar um lugar no céu. Aliás, ao contrário dos homens santos, nunca se lembrou que poderia ser amado pelos fãs. Só se preocupava com uma coisa: a vitória. Vencer vencer vencer. E isso teve os seus contras: alguns acidentes, muitos ódios.
Mas o que o fez odiado também dele fez um dos melhores automobilistas de sempre. Desde que comecei a ver Fórmula 1, à parte Damon Hill, apenas Schumacher mostrava claramente aquilo que todos tinham: a vontade de vencer. E, também ao contrário de quase todos, não se fazia rogado em «abrir» o seu próprio espaço na pista. Se hoje (na sua última corrida) não ganhar, azar. Mas amanhã a Fórmula 1 já estará mais pobre. Uma espécie de desmoronar do império de Alexandre, em que todos lutarão pelo ceptro mas sem nunca um só merecê-lo como o antecessor. Na melhor das condições, nenhum deles conseguirá, tão cedo, igualar a carreira de um dos únicos «boches» decentes do século XX.
[João Carlos Silva]
domingo, outubro 22, 2006
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