quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Napoleão como personagem literária


«'Bring me the eagles which have led us through so many perils and so many glorious days.' His command was followed, and as the birds of war and empire perched before him seemingly for the last time so Napoleon lifted the silk square hung below one of them and, for a full minute, buried his face among the names of battles embroidered in gold upon it. Tears had begun to trickle down the faces of the Old Guard and now, as he bade them farewell, many were openly sobbing.»

O universo bibliográfico/biográfico de Napoleão Bonaparte talvez seja, juntamente com o de Hitler, um inerentemente saturado. Quase se pode dizer que não há espaço para mais um livro sobre o mesmo. Mas a biografia de Stephen Coote sobre o último (sejamos realistas) imperador francês, pelo menos na sua verdadeira dimensão e glória, é uma obra que merece alguma atenção. Napoleão, quer queiramos quer não, é uma figura capaz de, pelo bem ou pelo mal, obscurecer mesmo a tenebrosa mas curiosa figura de Hitler. As suas qualidades são reconhecidas, militares e diplomáticas. Os seus defeitos, ironicamente, não derivam de qualquer falha de julgamento, mas de um exacerbamento das próprias qualidades já referidas. De um mau cálculo não de um mundo que o rodeava mas de uma França que não podia durar e combater eternamente apenas pela «Pátria».
Stephen Coote escreve uma biografia geral, pessoal, como um romance - em Napoleon and the Hundred Days -, com uma fluência mais literária do que histórica. E, confesso, para mal da «seriedade académica»: é esta fluência que prefiro.

[João Carlos Silva]