Como nunca ninguém me pergunta nada e como eu gosto muito de escrever sobre assuntos que não interessam a ninguém, aqui fica mais um texto, desta vez sobre as modas e modinhas que, de tempos a tempos, inundam as mentalidades colectivas. Ou melhor, sobre quem as faz.
Assim, começo por dizer que nunca fui muito de seguir a moda. Não é que eu tenha algo contra quem gosta de seguir as modinhas que se vão mostrando, de tempos a tempos, mas nunca fui de as seguir. A verdade é que a expressão «estar na moda» me irrita. Irrita-me tanto como aquelas pessoas que se julgam vividas, mas que nunca viveram nada que ultrapasse o haxixe juvenil ou as histórias de Jack Kerouac. Se algumas pessoas se julgam vividas, maduras, ou o que quer que seja, só por frequentarem discotecas e o ambiente social que as rodeia, imagine-se o que significará vivido para alguém que passa a sua vida a matar crocodilos ao murro no Amazonas. Nada. Ou muito. Depende da perspectiva e do grau de importância que as coisas têm. Pois bem, não sei ao certo identificar as razões que me levam a afirmar isto, no entanto, parece-me que as modas estão inteiramente relacionadas com o abstracto convencimento da maturidade. Isto é, parece-me que o acto de seguir a moda, tanto no vestuário como em coisas mais simples como a literatura, representa a afirmação social de pessoas que nada de útil fizeram na vida, mas que, devido a razões que desconheço, se julgam muito experimentadas. Por exemplo, quantas não serão as pessoas extremamente vividas que se saem com um «fizestes» no momento de abrir a boca? Poucas? Duvido. Além disso, quem é que segue as modas? Os ricos que são ricos e que, por conseguinte, se podem dar ao luxo de comprar tudo o que querem, ou as pessoas pobres que, como não têm dinheiro suficiente para pensarem naquilo que mais lhes convém, tentam imitar os padrões sociais dos ricos com modinhas mais em conta? Cá para mim, as modas não estão inteiramente dependentes do estatuto social dos indivíduos. Não. Estão, isso sim, relacionadas com o grau de formação e de educação das pessoas. É por isso que defendo que os grandes seguidores das modas são os novos-ricos, os que são ricos por fora e pobres por dentro. São esses os que são capazes de gastar seiscentos euros num casaco de pele de galinha absolutamente ridículo, só por a pele de galinha estar na moda. É certo que este é um exemplo um tanto ou quanto inverosímil, mas julgo que deu para passar a ideia.
As modas são modas porque estão sempre a aparecer novas modas, dizem alguns. Outros afirmam que as modas são modas porque nunca passam de moda e, então, cada um pode fazer a sua própria moda. Quem é que tem razão? Se este blogue fosse o oráculo de Delfos e eu uma representação de Apolo, diria que é verdade que as modas são modas porque estão sempre a aparecer novas modas. Porém, diria também que é por estarem sempre a aparecer novas modas que as pessoas dotadas de mais informação cultural (e a cultura não se restringe só aos livros) não seguem as modas. Admito que um indivíduo com muito dinheiro nos bolsos possa vestir bem ou comprar roupas caras. Agora, é-me completamente absurda a ideia de que alguém siga as modas que se vão alternando sucessivamente só porque é possuidor de uma grande margem de manobra a nível financeiro. Exemplificando, quem é que compra carros da moda? O novo-rico que vem com o dinheiro da França ou o rico que gosta de se deitar na cama a ler António Ramos Rosa? O novo-rico, até porque num BMW novinho fica sempre bem um sistema de som modernaço. Outro exemplo, quem é que faz uma vivenda género «será que as casas desta aldeia serão todas iguais?», o pobre, o rico, ou o novo-rico? A resposta reside neste último, que, por ser rico e ao mesmo tempo pobre, quer apagar a sua ignorância extrema com uma casa da moda. Acrescente-se ainda que são estes novos-ricos os indivíduos que se julgam muito vividos.
[Paulo Ferreira]
terça-feira, fevereiro 07, 2006
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