Quando, há quase um ano, me veio a notícia de que David Fincher preparava um novo filme, fiquei curioso. Curiosidade essa que aumentou quando me actualizei acerca do tema: uma história de Scott Fitzgerald acerca de um homem que nascia velho e rejuvenescia com o passar dos anos, contrariando a tendência natural do envelhecimento. «Brilhante», pensei eu. A bizarria da situação combinada com a visão negra de Fincher poderia resultar num bom trabalho. Poderia. Enganei-me, não resultou.
The Curious Case of Benjamin Button é um filme muito fraco, uma verdadeira desilusão. Beneficia do «calor do momento» que os Óscares trazem, o que claramente o sobrevaloriza, mas não passa de um desperdício de um belo conto do universo do fantástico. Em vez de enveredar por um tratamento de imagem e da história mais «cinzentos», como é seu costume, resolveu criar uma obra mais «luminosa», uma epopeia bonita sobre os trabalhos da vida de Benjamin Button (Brad Pitt), nascido velho e abandonado pelo assustado pai, da forma mais dickensiana possível (no conto é diferente).
The Curious Case of Benjamin Button é uma espécie de saga de um homem «curioso» (como o próprio título indica) que, precisamente por surgir na história como uma memória de Daisy (Cate Blanchett) e autor de um diário que a filha desta (Julia Ormond) descobre e lê, permite que haja um certo véu de dúvida, de fantástico, sobre o seu passado. Pelo menos seria essa a ideia. Mas não funciona. Em Big Fish, Tim Burton conseguia misturar realidade e lenda muito bem, numa obra sobre a imaginação. Em Benjamin Button, a mesma técnica narrativa talvez fosse escusada, até porque não traz melhoria alguma à história.
O filme resulta assim numa espécie de reprise de Forrest Gump, como bem se apontara noutro blog: um protagonista naïve atravessa algumas etapas históricas da América (nasce no dia do armistício da Grande Guerra, por exemplo, e participa na Segunda Guerra Mundial) e, embora não tenha qualquer atraso mental, fá-lo com uma expressão algo apreensiva de quem não percebe o que anda cá a fazer. Como de desiludido ou perdido não tem nada, apenas se depreende que Fincher (ou Eric Roth, que adapta o argumento) quis deixar uma imagem de um Brad Pitt tão bondoso quanto ingénuo. Não é realmente a direcção de actores mais bem conseguida.
Com múltiplas nomeações para os Óscares, de facto só me confirma (nada de novo) que estes prémios não distinguem a qualidade mas o status quo. E é, de facto, o status quo que segura a honra deste filme. Brad Pitt é competente mas fraquinho (para quê a nomeação para o Óscar?); Cate Blanchett, apesar de estar bem, repete uma personagem que me parece já ter visto algures no seu currículo; Julia Ormond é das mais competentes no filme; e a nomeada para Melhor Actriz Secundária, Taraji P. Henson, com todos os seus maneirismos, fica a milhas de distância de Marisa Tomei (que está quase perfeita em The Wrestler). A David Fincher, que tem uma carreira sem nódoas, desculpar-se-á este deslize na qualidade, já que The Curious Case of Benjamin Button é, de longe, o filme mais fraco da sua carreira. Salva-se a imagem, a banda sonora e, claro, a caracterização, que não passará ao lado de ninguém e, a sermos justos, já terá o Óscar reservado em seu nome.
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