Um dos problemas da adaptação de livros para o cinema é a necessidade de apelar ao público. O que poderia ser uma muleta para criar excelentes obras de cinema, muitas vezes pode levar à mutilação parcial da «lição» de um livro. O livro Relatório Minoritário, de Philip K. Dick, é um desses casos. Por um lado, temos um autor que se pautava pela paranóia pessoal e que esteve perto da esquizofrenia, mas o reflexo literário dessas condições resultara num exercício de reflexão essencial do século XX: o questionamento da necessidade e impulso de controlo das sociedades modernas. Por outro lado, temos a adaptação homónima que Steven Spielberg fez do livro, com Tom Cruise como protagonista, que, embora seja um filme muito bom (ao nível de Blade Runner, curiosamente também do mesmo escritor), sente a necessidade de romancear e criar uma rede de sentimentos que «humanize» a obra, apesar de este sentimentalismo ser comum em Spielberg. A nota negativa é que se perde um pouco a centralidade absoluta do dilema que é colocado a John Anderton: «Tens de ser preso para que a Agência Precrime possa sobreviver. (...) O que é que tem mais significado para ti: a tua segurança pessoal ou a existência do sistema?». E a questão derradeira é esta: Hollywood, no meio da acção de um filme, baralha o espectador e esquece-se de lhe fazer essa mesma pergunta, que é a mais importante do livro de Philip K. Dick. O que é mais importante: a segurança individual ou a segurança da sociedade?
quinta-feira, janeiro 29, 2009
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