domingo, setembro 16, 2007

Scolari naturaliza-se português



Eu já há muito tempo que vinha a gostar menos de Scolari. Aliás, nunca o achei um treinador particularmente empenhado nos treinos e no domínio táctico e técnico (isso, aliás, vê-se no campo), mas gostava da inteligência com que ele manipulava emocionalmente os jogadores, os adversários e o público para certos jogos. O jogo psicológico é uma parte importante do futebol. Ainda assim, nunca alinhei na corrente «anti-Scolari». O homem foi um trunfo importante na mudança de mentalidade da equipa. De outsiders patéticos (o Euro 2000 pode ser visto como um acidente de percurso com o sebastiânico Humberto Coelho) passámos a equipa temida por qualquer outra selecção. Isso ninguém lhe tira.

O seu tempo acabara há muito, na minha opinião. No entanto, e ao contrário da tese geral de que «se deve aproveitar este momento (o do soco) para expulsar Scolari», acho que a chapadinha amorosa a Dragutinovic veio complicar as contas. É que eu lembro-me de pouca coisa boa na selecção, lembro-me de muitos fracassos, mas nada me entra tão bem na memória como os momentos que importalizaram tantos jogadores portugueses. As cabeçadas de Paulinho Santos ao João Pinto, o murro do próprio João Pinto ao árbitro (Mundial 2002) e o saudoso soco do Sá Pinto ao Artur Jorge faz agora 10 anos. Nada nos faz mais portugueses do que esmurrar quem não gostamos. É viril, é de homem e é sincero. Faz bem à saúde e dizem que evita o cancro. Para quem tinha dúvidas se devíamos ter um brasileiro a treinar a selecção, pode estar descansado. Depois deste dia, Scolari é português.

[João Carlos Silva]

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