terça-feira, setembro 25, 2007

A ausência do debate


O debate mensal no Parlamento foi, para mim, bastante elucidativo do estado em que está a política nacional. Sentado num trono «dourado», José Sócrates respondia às questões (legítimas) levantadas pela oposição com um ataque baixo e pessoal ao carácter desses deputados. É fácil ver como a comunicação pessoal, e a opinião pública em geral, sofre a manipualação do governo: Sócrates respondia às questões insultando o seu interlocutor e rematando «não vale a pena atacar-me pessoalmente», quando é o próprio Primeiro-Ministro quem tem esse estilo. Projectando nos outros o que ele próprio faz, passa para uma opinião pública desinformada a ideia, e o «soundbyte», dos «ataques pessoais da oposição».

A determinado ponto, Heloísa Apolónia (figura que nem me agrada particularmente) refere uma questão específica e simples: a do amianto utilizado na construção de escolas - por contraponto às maravilhas tecnológicas que o PM garante estarem a brotar do chão escolar em pleno recreio - que seriam nefastas para a saúde dos petizes. Relevante ou não, a questão era simpoes. Mas Sócrates resolveu responder com um insulto à relevância política da senhora e à «questão Verde Eufémia», que não sei como se poderia relacionar com aquele caso.

Já Francisco Loução e Jerónimo de Sousa (figuras que também não me agradas, respectivamente, a nível pessoal e a nível ideológico) levantaram questões essenciais das relações próximas entre Estado e privado (concordo que estes não devem estar promiscuamente envolvidos em quase nada, apesar de esta não ser a visão do sr. Louçã) e depararam com ataques à validade dos seus partidos e ao carácter de Louçã. Independentemente do que possam merecer, nem Apolónia, nem Louçã, nem Jerónimo viram as suas perguntas respondidas.

Com Marques Mendes e Paulo Portas, adversários naturais, o mesmo se passou, não sendo isso novidade, mas com a particularidade de terem dado um belo «contra» ao histerismo de José Sócrates. Gostei da intervenção de ambos, especialmente da de Mendes (com mais conteúdo e mais argumentado).

Por isto tudo, da próxima que ouvirem alguém referir que os políticos da oposição fazem «ataques pessoais» ao Primeiro-Ministro, mostrem-lhes a última sessão de debate mensal no Parlamento. Só acredito nisto: num Parlamento britânico, Sócrates teria sido trucidado politicamente, sem hipótese de escapar às questões. E será que iriam dizer que os deputados tinham sido malcriados? Acho que não.

P.S.- a propósito de aliados do Governo no Parlamento, Alberto Martins tem um rival na sua disputa pelo amor do Primeiro-Ministro. A relativa brandura de Sócrates para com o Bloco de Esquerda deixa entrever uma coisa: o PS não está a fechar aquela porta para 2009, ou seja, o Bloco está na lista de amigos de Hi5 do PM. A rever dentro de meses.

[João Carlos Silva]

3 comentários:

Anónimo disse...

"Já Francisco Loução e Jerónimo de Sousa (figuras que também não me agradam, respectivamente, a nível pessoal e a nível ideológico)..."

Quererá isto dizer que Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa te agradam, respectivamente, a nível ideológico e a nível pessoal???

Paulo Alves

João Carlos Santana da Silva disse...

Pois, acho que não... Apenas me referi, de forma mais enfática, às características que mais adoro detestar em cada um. Felizmente, não me revejo em nenhum deles em nenhum nível. Com uma «senão»: o Jerónimo, fora do capote sombrio da máquina comunista, parece-me um tipo afável...

Anónimo disse...

Just joking...

Paulo Alves