sexta-feira, setembro 14, 2007

Estado das coisas: Hobsbawm


Tendo acabado de ler Revolutionaries, de Eric Hobsbawm, posso afirmar que não tenciono voltar a pegar tão cedo neste livro. Tal como em Indústria e Império, a sensação de enfado é constante. Lembro-me de adormecer na página noventa e nove e acordar duas ou três páginas depois. Hobsbawm não é um historiador com o charme da piada. Não faz rir, não faz o leitor reflectir, não coloca grandes questões. Niall Ferguson, por seu lado, usa e abusa do humor. Conta piadas como quem coloca perfume para ir ter com mulheres. É de outra geração e de outra facção. Hobsbawm tem um passado de marxista e é nessa condição que nos são apresentados os ensaios de Revolutionaries. São ensaios comprometidos politicamente com uma causa que acabou. Quando escreve sobre o anarco-sindicalismo, Hobsbawm não esconde o seu pendor marxista. O seu nojo pelos desviantes anarquistas que colaboraram na Guerra Civil Espanhola é quase tão grande quanto o fervor que alguns tiveram durante os combates da II Internacional. Até Bernstein, um revisionista, leva com a farpa do historiador. Não se pense, todavia, que o autor não tem os seus méritos, porque os tem. Basta consultar a sua bibliografia para se perceber que, provavelmente, mais ninguém escreveu tanto sobre a época contemporânea do que Hobsbawm.

[Paulo Ferreira]

Sem comentários: