terça-feira, novembro 07, 2006

Um ser violento II

Procurava causas para justificar um temperamento violento, até que Primo Levi me abriu as portas de Auschwitz-Birkenau e me explicou que nem tudo precisa de razões. Nem a violência. Nem a morte. Nem a sobrevivência:

«Lutámos com todas as nossas forças para que o Inverno não chegasse. Agarrámo-nos a todas as horas tépidas, a cada fim de dia procurámos reter o Sol no céu mais um pouco, mas tudo foi inútil. (...)

Em Birkenau a chaminé do Forno Crematório fumega há dez dias. Estão a arranjar lugar para um enorme transporte que está prestes a chegar do gueto de Posen. Os jovens dizem aos jovens que serão todos os velhos a ser escolhidos. Os sãos dizem aos sãos que serão só os doentes a ser escolhidos. Os especialistas serão excluídos. Os judeus alemães serão excluídos. Os Números Baixos serão excluídos. Tu serás escolhido. Eu serei excluído.» (Se isto é um homem, 1958)

[João Carlos Silva]

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