sábado, setembro 23, 2006

United 93



É raro haver filmes que nos prendam ao écrã, física e emocionalmente, durante todo o tempo. United 93, no entanto, pertence a esse restrito lote de películas. O filme de Paul Greengrass sobre o que aconteceu no voo 93 da United Airlines e sobre o que se soube e viu do 11 de Setembro em terra (especialmente, pelos controladores do tráfego aéreo) é um que nos catapulta cinco anos para trás sem nos darmos conta disso, e que nos desperta novamente sentimentos que surgiram à pele, com todo o seu fulgor, nesse dia 11.

A forma como os tripulantes e passageiros do voo 93 são apanhados de surpresa é, de facto, arrepiante. Mas o que realmente nos deixa de rastos (imaginando o que pensariam essas pessoas) não é o desvio do avião em si, mas o desvio do avião no contexto dos ataques terroristas de Nova Iorque. Ao entrarem em contacto com famílias e alguns cidadãos anónimos (civis e autoridades), os passageiros relatam o que se passa lá dentro e ficam a conhecer o que se passou nessa manhã em Nova Iorque e Washington. Ou melhor, ficam a conhecer o que se passou nessa manhã na América: um ataque terrorista de uma magnitude sem precedentes.

A «luta» dessas pessoas (no ar e em terra) para manter o auto-controle e a forma como o conseguem e decidem enfrentar a situação - lutando, verdadeiramente - é, portanto, o principal fio da interpretação do realizador, que tentou, com todos os documentos disponíveis, retratar o que realmente se passou. Como um filme que recorda o 11 de Setembro de 2001 e evoca a memória dos passageiros do voo 93, em toda a sua coragem e recusa de perecer por um plano terrorista de que acabavam de ter conhecimento, United 93 traz-nos algumas das lágrimas que ficaram por cair com as primeiras imagens da tragédia do World Trade Center. Mas é sobretudo enquanto relato da vontade de lutar, pela defesa das suas vidas e dos que o rodeiam, dos passageiros que o filme mais nos comove, e mais nos deixa devastados nas cadeiras de cinema. Sem tiques de filme épico, mas ainda assim digno da galeria dos filmes mais respeitáveis do último ano.

[João Carlos Silva]

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