sexta-feira, setembro 29, 2006

Rompendo o bloqueio


Confesso que tenho um fascínio enorme por Hugo Chávez. Aliás, muita gente na minha cidade e, especialmente, na minha rua também o tem. Antes do mais, gosto muito da figura física do sr. Hugo Chávez. Faz lembrar o corpo do Karl Rove no final dos faustosos banquetes das campanhas eleitorais do presidente Bush, mas com a cabeça de um defesa central da selecção de futebol colombiana. E atenção que realço a cabeça, e não apenas a expressão facial, pois todos sabemos muito bem o que vai na cabeça do Rove (que «pôs lá o outro não sei como»), e como tal decidimos compará-lo antes a um intelecto digno do melhor regime democrático sul-americano.

Mais a mais, a minha rua gosta imenso do Hugo Chávez porque ele poderia muito bem misturar-se no café do sítio e beber minis seguidas sem ser reconhecido. Sendo ele um líder internacional de grande habilidade retórica, saberia adaptar o discurso a nós, que temos menos estudos, e falar connosco do Diabo e do có-bói do Texas que facilmente arranjava um lugar na lista do plantel da sueca. E por falar em có-bóis, ficámos muito impressionados quando, encontrando uma revista Time no chão do Estádio do Bonfim, lemos com atenção (e estupefacção) uma entrevista ao Presidente Chávez onde ele respondia que gostava mais dos filmes do Danny Glover do que dos do Clint Eastwood, o que é uma coisa louvável nos dias que correm, sendo o Danny Glover de raça negra e tudo o mais.

E como ele gosta tanto de nós, pobres e minoritários, não pode escapar a uma admiração mútua, e a uma homenagem que agora, voluntariamente, quisemos fazer. Acima de tudo, queríamos Hugo Chávez como candidato à Câmara Municipal, agora que mandaram o outro embora. Era mesmo isso que nós queríamos. Ou ele o Diego Maradona, ou mesmo o Professor Neca, que, para além de ter mais estudos que os outros, deve governar mais à esquerda e até já deve ter estado em Lisboa. Mas pronto, «só cá estão os que já contámos»... Como era mesmo aquela expressão?

[João Carlos Silva]*

*em representação de uma ínfima, muito sumida, parcela da cidade de Setúbal

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