quinta-feira, abril 24, 2008

Warriors

Em Warriors, Max Hastings traz-nos um retrato de homens e mulheres em guerra. Tanto podem ser militares de carreira, como pessoas «arrastadas» para o conflito pela força das circunstâncias. O objectivo é narrar, como o próprio subtítulo indica, Extraordinary Tales from the Battlefield. No entanto, não se julgue que todas são personagens apaixonantes. Algumas serão falhadas, irracionais, azaradas ou politicamente subservientes. Mas todas trazem algo comum: coragem debaixo de fogo. E isto Hastings sublinha: «No warrior should be promoted to higher command merely because he is brave. A skilled and eager fighter is best rewarded by decorations rather than promotion. He should be retained in a role in which he can make himself useful in personal combat, rather than advanced beyond the merits of the rater limited gift - even for a soldier - of being good at killing people». Ou seja, um «guerreiro de coragem» não resulta, necessariamente, num bom comandante - pelo contrário, normalmente resulta num líder irracional, insensível a esse medo tão normal e compreensível: o medo de morrer.

O primeiro desses retratos é o do Barão Marcellin de Marbot, jovem comandante napoleónico que participou em campanhas desde Portugal à Rússia. Combatente valoroso, fazia-se aos adversários com a ferocidade típica de um militar de carreira inspirado por grandes campanhas. A quase misoginia era um atributo comum: «men such as Marbot became so absorbed in the business of war that they perceived women merely as a source of amusement during leaves, and as childbearers when duty granted an officer leisure to think of such marginal matters as procreation». Marbot atirou-se ao rio, inclusivamente, para salvar inimigos russos, que agitavam a bandeira branca da rendição. E isto diz muito do homem, apesar de militar nas fileiras imperiais. A ética militar não foi suplantada pela vertigem conquistadora de Bonaparte. E, de facto, em muitas alturas Marbot parece não ter sido totalmente cegado por esta, já que diversas vezes discordou do imperador e duvidou dos grandes generais napoleónicos. No entanto, quando a batalha contra ingleses, austríacos e russos chamou, lá foi o Barão.

Menos misógina é a história de Harry Smith e Juana. O brigadeiro das 95th Rifles esteve também em diversos palcos desde América do Sul aos conflitos napoleónicos, inclusivamente no sangrento cerco de Badajoz (1812) e em Waterloo. Combatera, curiosamente, contra Marbot, se bem que seja impossível saber se alguma vez se encontraram fisicamente, frente a frente, no campo de batalha. Mas numa coisa vencera Marbot: acima da vitória militar, estava a sua dedicação a Juana, jovem espanhola que perdera a família em Badajoz com a sua irmã mais velha e que agora procurava clemência. Os oficiais ingleses, ao contrário da sua infantaria - selvagem e destruidora como quase sempre as infantarias em guerra são -, foram sensíveis a isto e acederam ao pedido. Harry Smith foi mais longe, apaixonou-se por Juana, que tinha então 14 anos. A beleza da rapariga foi sublinhada por um camarada de armas de Smith, Johnny Kincaid, se bem que esta não seja comprovada senão por alguns relatos e um retrato incluído na autobiografia de Smith. Um ponto a favor de Hastings: a reflexão acerca do «amor» de Juana por Harry Smith. Até que ponto não seria uma relação maternal retribuída com aquela dedicação? Juana passou uma vida inteira dedicada ao brigadeiro das 95th, mas na sua origem esteve uma paixão dedicada a um oficial que a poderia salvar da ruína completa e mesmo da morte. Assim que se juntou a Smith, foi inclusivamente excomungada da sua cultura católica espanhola, que nunca aceitaria de volta uma mulher que tivesse casado com um herético anglicano. O medo de Juana de perder Harry era, muitas vezes, igualmente, o medo de perder a sua própria vida. Dizer que Juana vivia para Harry Smith era dizer isso mesmo: a «vida dela» era ele.

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