quinta-feira, abril 17, 2008
Election
Há já uns meses, tinha apanhado o filme no canal Hollywood. Um liceu como cenário, Reese Whiterspoon a fazer de menina mimada, um actor (Chris Klein) saído do boçal American Pie (filme que, apesar de tudo, aprendi a respeitar), mais uma personagem martirizada de Matthew Broderick, enfim, tudo o que parecia ser um filme sobre liceus americanos. Passados alguns minutos de má vontade minha, mudei de canal para nunca mais voltar.
Voltei lá, no entanto, há poucas semanas. Sem querer, claro. Apanhei o início. O filme chamava-se Election (realizado em 1999). Só aos poucos fui percebendo que era o mesmo que tinha apanhado cerca de um mês antes. Outros olhos o viram. Até mesmo Broderick, actor com o qual não vou à bola, me pareceu ter profundidade. Comecei a gostar da personagem dele. Do filme também. Fiquei a saber também que o realizador é Alexander Payne, e então tudo começou a encaixar-se. Para quem viu About Schmidt e Sideways, a personagem de Broderick faz todo o sentido.
Jim McAllister, tal como Warren Schmidt (Jack Nicholson), Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), é um homem em queda. Jim tem uma vida pacata e controlada, e é o quebrar dessa normalidade que o leva a uma completa mudança. Tal como a viagem de Miles e Jack e a outra «viagem espiritual» de Schmidt, a «viagem» de Jim é, precisamente, querer «endireitar» as coisas à sua maneira. Pode mudar um pouquinho o seu dia-a-dia e fazer justiça, mas os pequenos actos acabam levando a consequências catastróficas, seja com os resultados das eleições da escola, seja com o seu casamento.
É este efeito de «bola de neve», de como os pequeninos delitos (misdemeanors) se podem transformar em pecados que nos perseguem uma vida inteira, que arrasta Jim McAllister ao longo do filme. Alexander Payne, tal como voltou a fazer nos filmes seguintes, trata este tema com a maior subtileza, com o cuidado de não deixar descambar para a tragédia de levar às lágrimas, mas sim para os filmes tragicómicos que, estranhamente, nos deixam sempre a reflectir acerca da vida. A questão em Election é: afinal, acabamos sempre por ser apanhados ou não? É ver o filme.
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