sexta-feira, março 21, 2008
Da Frente Popular
Para os homens de esquerda, a Frente Popular é uma grande data da história social e da reforma social em França. Pensam evidentemente nas manifestações, no entusiasmo, nas férias pagas. Pensam na redução da duração do trabalho, no aumento dos salários. Houve certamente durante algumas semanas para muitos, uma ilusão lírica de semi-revolução pacífica. Mas há uma metade da França, uma metadezinha da França, que se lembra por seu lado daquela espécie de anarquia, da ocupação das fábricas, do pôr em causa da sua ordem. Aqueles que não são de direita nem de esquerda, ou quando muito se esforçam por estar acima de ambas, são, como eu próprio, partilhados entre dois fortes sentimentos. De um lado, sem sombra de dúvida, foi um grande movimento de reformas sociais e do outro aquilo foi uma política económica absurda, cujas consequências foram lamentáveis. Agora quando se celebra a Frente Popular na esquerda é um tanto a propensão da esquerda para celebrar as suas derrotas, porque, ao cabo de seis meses ou de doze meses, a Frente Popular estava perdida, e a derrota era devida a uma política económica insensata.
Raymond Aron, O Espectador Comprometido
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