O actor manchado de sangue (tinta vermelha) ri-se para o público, demonstrando, dessa forma, que também os que morrem têm direito a momentos de felicidade.
Mas que tipo de felicidade terão os moribundos, os verdadeiros moribundos, aqueles que sofrem a vida real?
Será preciso espetar um punhal no peito para se compreender a felicidade dos que partem?
Voltemos ao actor. Retiremos-lhe o palco e a tinta vermelha e incutamos-lhe um pouco de dor física (basta uma forte enxaqueca). Rir-se-á ele para os espectadores quando já não tiver palco que o ampare ou fingimento que lhe sirva para atenuar a dor? Se for bom actor, sim, rir-se-á. Actuar também é esconder a própria agonia, pelo menos se a personagem tiver que morrer com um sorriso nos lábios.
Mas nem toda a gente morre com dor. Nos filmes, morre-se com um friozinho na espinha e diz-se adeus aos amados com um «amo-te muito». O mesmo acontece na vida real. O velho desdentado que afaga os cabelos do neto antes de partir para outro mundo nunca pode ser esquecido.
Fingir a alegria, portanto, é o que todos nós fazemos quando já ninguém nos dá oportunidade para prolongarmos o ar e a respiração. Ou tudo o que fazes na vida tem que corresponder exactamente àquilo que és e sempre foste, cá dentro e lá fora?
[Paulo Ferreira]
segunda-feira, junho 12, 2006
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