Era uma vez um homem que se apaixonava como quem tem enxaquecas. Mas, como era muito feio e ninguém o queria, o homem nunca se envolvia fisicamente com ninguém (alimentava os seus amores exclusivamente a partir de casa).
E tudo o que era verdade na vida deste ser era a preponderância da não desistência.
«Não desistir, nunca desistir», pensava abundantemente.
Mas ninguém mantém uma persistência inabalável quando muito se caminha e poucas vezes se consegue manter o equilíbrio. Mas ele queria tanto. Mas ele precisava tanto. E ninguém olhava para ele. O seu telefone, quando tocava, ou anunciava um curso de línguas fantástico ou simplesmente reafirmava o inexorável caminho de um desgraçado: «Enganei-me no número.» Os seus familiares, quando o visitavam, apenas davam conta das tragédias do mundo. O seu trabalho não existia (secção: desemprego).
No entanto, como nem tudo na existência desta aberração poderia correr mal, um dia deu-se o amor. E o resultado foi: três balas com partida do maxilar para o tecto.
Muito carinho recebeu o senhor daquela pistola. Sim senhor.
[Paulo Ferreira]
quinta-feira, junho 08, 2006
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1 comentário:
Perdoa-me, mas eu gostaria de acompanhar-te. Será que me podes ajudar? Esta tua partilha confunde-me. Enxaquecas, paixões, tiros, desistências, preserveranças, marginalidades, suicídios? Falas de amor??? Falta dele? Senti vontade de saber se sabes oque é uma enxaqueca, já tiveste uma? Bem-hajas!
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