terça-feira, setembro 18, 2007

O lobo camuflado de cordeiro

A camuflagem atingiu pontos graves. O Governo (atenção, sublinho «Governo» e não apenas «Estado», porque o agressor tem cara) decidiu pôr na rua, há já algum tempo, um cartaz de propaganda às acções governativas. sob uma máscara de solidariedade, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto - Laurentino Dias - decidiu pôr este cartaz esparrachado nas paredes de algumas avenidas da capital: «Quando vês deficiência física ou mental não vês a pessoa». Aplausos, por favor - o Governo é franciscano e solidário com toda a gente.



Até aqui tudo muito bem, tudo pintadinho dentro das linhas, sem borrar a imagem. Toda a gente gosta de ver isto: o pai (Estado) dando a mão às crianças (nós), para que um dia mais tarde as crianças agradeçam. O problema é que isto não passa de uma manobra de diversão. No Correio da Manhã de 16 de Setembro surge uma notícia num sentido bem diferente. A partir de agora, para se ter direito às «facilidades de acesso» (assim entre aspas, porque a «facilidade» não é mais que uma atenuante) e de locomoção, já não basta ter 60% de incapacidade. Assim mesmo, em percentagem, que é a desgraça é percentual e objectiva.

Ou seja, para uma pessoa com deficiência poder ter acesso a isenções fiscais (logicamente que os automóveis, por exemplo, ou outros bens devem estar isentos de cargas fiscais como o Imposto Automóvel, já que, se um carro não é um luxo, muito menos o é para quem precisa dele para chegar são e salvo ao emprego, por impossibilidades físicas), deve-se sujeitar à avaliação de uma junta médica - mas que raio é uma «junta médica»? - que deverá, por sua vez, declarar como «elevada» a dificuldade que tal pessoa tem em mexer-se. Se uma pessoa não tiver uma das pernas, é bem possível que seja declarado que 50% das pernas ainda mexem bem, logo pode muito bem apanhar o autocarro para o emprego. Se quer carro, pague o mesmo que os outros.

Se quer continuar a apoiar este governo de mentirosos, tem todo o meu respeito. A liberdade de escolha é bonita eu gosto. Se não se importa de que um governo lhe roube (e ao seu vizinho) direitos e que, com o dinheiro que também lhe rouba, faça falsa propaganda para limpar a sua imagem, então muito bem. Mas devo avisar-lhe que não precisa de fazer muito parceber que há algo mal neste quadro: basta reparar nas pequenas incongruências (que a propaganda não deixa ver à «primeira vista» mas que a realidade deixa por vezes a nu) e dizer que «Não» a José sócrates. É muito fácil deixar de ser enganado.

[João Carlos Silva]

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