domingo, dezembro 28, 2008
terça-feira, dezembro 23, 2008
Falta de ideias
Eu já nem me surpreendo com a alegria que parece dominar, transversalmente, as fileiras do PSD na última semana, graças à confirmação de Santana Lopes como candidato à Câmara de Lisboa. A maioria do PSD apoiou a troca de um líder competente (Marques Mendes) por um líder incompetente que até mediaticamente, na sua área, falhou (Menezes). Não será inédito, pois, que aplaudam o regresso de um dos homens que destruiu o partido nos últimos quatro anos. Pedro Santana Lopes volta com um sorriso vencedor, que lhe parece ser impossível esconder, batendo o pé à liderança de Manuela Ferreira Leite. É que, como eu já disse recentemente acerca da figura, não é uma questão de não ganhar as eleições autárquicas (acho que, caso o PS não faça uma coligação, até tem grandes hipóteses de ganhar a Câmara), mas sim de voltar a ser uma figura proeminente e representativa de um partido dividido, ou seja, voltando simbolicamente a tempos ainda piores de crise identitária. No PSD, começa a ser óbvia a falta de ideias, de valores e, pior ainda, de um plano para o país. Quando, face ao governo que temos, deveria ser exactamente o PSD a alternativa credível. Não é. E isso só deixa entrever um futuro próximo trágico para os portugueses.
segunda-feira, dezembro 22, 2008
quinta-feira, dezembro 18, 2008
O teste da liberdade
A liberdade é um problema tremendo. É um teste impiedoso à nossa maturidade, e à nossa qualidade humana. É uma prova sem recurso à nossa generosidade, e à nossa capacidade de trabalho. É um desafio frontal à nossa criatividade, e à nossa dedicação às causas em que acreditamos. É, sem dúvida, um exame decisivo à nossa coragem e à nossa decência. Quando ficamos livres para escolher, temos pela frente um futuro todo em branco onde ainda não estão inscritas regras - e por isso, de repente, não há nada que não seja possível. Nestes momentos-limite, ou estamos bem preparados para lidar com os milhares de opções que se nos deparam e nos mantemos permanentemente atentos ao pulso da sociedade que nos rodeia, ou nos perdemos completamente e acabamos por ficar cilindrados.
Com toda a franqueza, acho que foi isso mesmo que nos aconteceu em trinta anos de experiência democrática.
Clara Pinto Correia, Trinta Anos de Democracia: E Depois, Pronto
Com toda a franqueza, acho que foi isso mesmo que nos aconteceu em trinta anos de experiência democrática.
Clara Pinto Correia, Trinta Anos de Democracia: E Depois, Pronto
quarta-feira, dezembro 17, 2008
sexta-feira, dezembro 12, 2008
O mito do «investimento público»
If taxes are taken from individuals and corporations, and spent in one particular section of the country, why should it cause surprise, why should it be regarded as a miracle, if that section becomes comparatively richer? Other sections of the country, we should remember, are then comparatevely poorer. The thing so great that «private capital could not have built it» has in fact been built by private capital - the capital that was expropriated in taxes (or, if the money was borrowed, that eventually must be expropriated in taxes).
Henry Hazlitt, Economics in One Lesson
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Grécia
Os deputados e as jantaradas
Não percebo porquê tanto afã com esta questão das faltas dos deputados. Ou melhor, não percebo porque é que se estão a criar duas trincheiras opostas ou porque é que gente com mediatismo ou responsabilidade (algumas vezes, ambos) como Pedro Santana Lopes têm razão para dizer seja o que for a não ser para uma justificação, nos casos em que as há. É que, para mim, é muito simples: quando um trabalhador da Autoeuropa, um professor, um bibliotecário, um assistente de livraria e qualquer outro trabalhador por conta de outrém falta ao trabalho é óbvio que tem de justificar essa ausência, mais não seja pelo respeito pelo bom funcionamento da empresa, oficina ou loja. Agora gente que se justifica, indignada, como tendo estado em jantares na noite anterior «em trabalho político» (o deputado Jorge Neto aparentemente esteve num jantar do Boavista, que é um trabalho político lindo, mesmo à boa maneira portuguesa, misturando política e futebol) fazia melhor em estar calada e ver se começa a responder melhor às responsabilidades. O mínimo que podiam fazer para merecer o ordenado era aparecer lá e ler o jornal. Ao menos compunha o quadro habitual.
O embaixador tranquilo em Havana
Na Visão História (que curiosamente, pouco tem de história mas não deixa de ser interessante) deste mês, dedicada aos 50 anos da revolução castrista em Cuba, a serem completados no próximo dia 1 de Janeiro, vem acoplado um artigo de opinião que me baralhou: eu não sabia se era parte da revista ou se era apenas publicidade, do género da que vem no saco do Expresso. Por via das dúvidas, e porque estava mesmo agarrado à revista, decidi deixá-lo por lá e lê-lo. A razão pela qual fiquei confuso vou passar a explicá-la.
O artigo é assinado pelo antigo embaixador português em Cuba (1999-2004) Alfredo Duarte Costa - que, curiosamente, agora foi designado embaixador em Atenas, em plena «guerra civil» (revela pontaria para se meter em cada trinta e um) - e é das coisinhas mais doces e comoventes que já li acerca de um ditador, neste caso o de Cuba, país e homem sobre os quais o artigo do Duarte Costa versa. Apesar de tudo, as suas primeiras impressões de Fidel Castro como sendo «um homem superiormente inteligente, intuitivo, dotado de grande perspicácia, consciente do carisma que possui» e «acima de tudo, um sedutor» provavelmente estarão inteiramente correctas. Fidel nunca me sugeriu inferioridade intelectual, mas sinceramente Estaline também não. Já acerca da atitude de contemplação que o embaixador deve a Fidel por este ser «afectuoso e cortês» com ele em jantares a dois (talvez fosse o vinho na cabeça do doutor, não sei) e acerca do suposto «sentido de humor», devo dizer que tanto Al Capone como Pinto da Costa são conhecidos por ter piada e por saber ter piada nos momentos certos, quebrando gelo e baixando defesas. Muito bem, Fidel Castro tem o perfil de um psicopata no poder. Excelente. O que tem mais o embaixador Duarte Costa para nos contar?
Diz ele que o povo cubano «não o vê como um ditador, mas como um familiar mais velho, que na maior parte dos casos admira e respeita» e que, surpreendentemente, «não era comum ouvi-los criticar o seu Presidente». Eu sempre tive consciência de que os embaixadores, na sua maioria, são escolhidos para essas posições por não fazerem ondas e por não primarem pela inteligência e sentido crítico, mas esta era demais: um diplomata sem a capacidade de perceber que numa ditadura nunca se vê contestação. Nunca. Pelo menos nada que realmente comprometa o poder e a imagem do poder.
Duarte Costa deve ter chorado de emoção quando escreveu que Fidel viajava num carro velho dos anos 70 e num avião decrépito, que recusou trocar porque «considera que seria inaceitável que se gastassem milhões de dólares na aquisição de uma nova aeronave, quando esse dinheiro pode ser utilizado na compra de medicamentos ou material escolar». É um gesto muito bonito. Por vezes, durante a leitura do artigo, pensei que se escrevia sobre Jesus Cristo ou sobre o Padre Américo.
Todo o artigo é fenomenal como extensão da propaganda oficial de Cuba e poderia estar aqui imenso tempo a dissecá-lo. O embaixador diz que não há «esquadrões da morte» nem tortura, diz que recebeu líderes da oposição e que estes nunca referiram essas torturas e assassinatos (risível se avaliarmos as condições em que vive e «existe politicamente» a possível oposição), diz que não há perseguições a padres e que os homossexuais, longe de ser perseguidos, até são protegidos e que «existe um bairro na capital cubana, perto do Capitólio, onde estes se reúnem e convivem em total liberdade». Isto é só uma hipótese e uma completa especulação, mas este «bairro» soa-me mais a gueto que a outra coisa.
Mas, entre todas estas barbaridades que saíram da caneta de Alfredo Duarte Costa, a que mais me chocou e levou à náusea foi este ter dito que a prostituição existe em Havana, sim, «como em qualquer outra cidade do mundo» mas «em muito menor número» comparativamente (suponho) a essas grandes urbes do mundo desenvolvido. E, o pior de tudo, é o ex-embaixador em Havana dizer isto: «as que recorrem a este tipo de vida são jovens que não querem trabalhar e que aspiram a comprar artigos de luxo, como roupas de marca, perfumes e outros bens de consumo estrangeiros». Que a estupidez fazia parte do carácter do embaixador e do património português que o homem aparentemente levou para Havana já eu tinha percebido, mas não pensei que chegasse a uma atitude que tem tanto de machista como de desumano como de ignorante. Porque ofende centenas ou milhares de pessoas que vivem na miséria. Pessoas que se prostituem por mais uns quantos sabonetes ou bens de consumo alimentar (não esquecer o racionamento) ou mesmo médicas que, por não ganharem o suficiente para se sustentarem a si e às suas famílias, escolhem a via da prostituição (com turistas, suponho) como a única maneira de terem uns dólares ou pesos extra ao fim do mês.
Alfredo Duarte Costa pode ser visto como «doutor» e «Sua Excelência» pela lente institucional, mas de mim não me merece um pingo de respeito. Não por ser amigo de Fidel Castro - já que a amizade, sempre aleatória, não escolhe propriamente o carácter ou a obra - mas por ser completamente cego, ignorante, desumano e desrespeitador do sacrifício que milhões de cubanos têm feito para sustentar, uns com esperança e outros com uma enorme angústia, a «Revolução» de Castro que supostamente lhes traria uma sociedade justa. O antigo embaixador acaba mesmo com uma frase da Grécia clássica que revela bem como o cérebro veio de lá impregnado de propaganda: «é desejável alcançar a felicidade individual, mas é muito mais belo alcançar o bem comum». Do ponto de vista psicológico, é curioso ver como alguém atribui a Fidel Castro um carisma do outro mundo e não se consegue enxergar como uma «vítima» desse carisma, como um apaixonado por Fidel.
Até posso estar a atirar no escuro, mas algo me diz que, se Alfredo Duarte Costa tivesse vivido uns cinquenta ou sessenta anos antes e tivesse sido embaixador na Alemanha de Hitler, teria saído de lá nazi e com uma carteira de pele judaica no bolso, oferta de Adolf, que afinal se tinha revelado uma excelente companhia para jantar. E nunca ninguém disse o contrário. Se calhar Adolf até teria umas piadas giras sobre judeus que animassem uma bela ceia de rosbife com um licor qualquer da Bavária.
O artigo é assinado pelo antigo embaixador português em Cuba (1999-2004) Alfredo Duarte Costa - que, curiosamente, agora foi designado embaixador em Atenas, em plena «guerra civil» (revela pontaria para se meter em cada trinta e um) - e é das coisinhas mais doces e comoventes que já li acerca de um ditador, neste caso o de Cuba, país e homem sobre os quais o artigo do Duarte Costa versa. Apesar de tudo, as suas primeiras impressões de Fidel Castro como sendo «um homem superiormente inteligente, intuitivo, dotado de grande perspicácia, consciente do carisma que possui» e «acima de tudo, um sedutor» provavelmente estarão inteiramente correctas. Fidel nunca me sugeriu inferioridade intelectual, mas sinceramente Estaline também não. Já acerca da atitude de contemplação que o embaixador deve a Fidel por este ser «afectuoso e cortês» com ele em jantares a dois (talvez fosse o vinho na cabeça do doutor, não sei) e acerca do suposto «sentido de humor», devo dizer que tanto Al Capone como Pinto da Costa são conhecidos por ter piada e por saber ter piada nos momentos certos, quebrando gelo e baixando defesas. Muito bem, Fidel Castro tem o perfil de um psicopata no poder. Excelente. O que tem mais o embaixador Duarte Costa para nos contar?
Diz ele que o povo cubano «não o vê como um ditador, mas como um familiar mais velho, que na maior parte dos casos admira e respeita» e que, surpreendentemente, «não era comum ouvi-los criticar o seu Presidente». Eu sempre tive consciência de que os embaixadores, na sua maioria, são escolhidos para essas posições por não fazerem ondas e por não primarem pela inteligência e sentido crítico, mas esta era demais: um diplomata sem a capacidade de perceber que numa ditadura nunca se vê contestação. Nunca. Pelo menos nada que realmente comprometa o poder e a imagem do poder.
Duarte Costa deve ter chorado de emoção quando escreveu que Fidel viajava num carro velho dos anos 70 e num avião decrépito, que recusou trocar porque «considera que seria inaceitável que se gastassem milhões de dólares na aquisição de uma nova aeronave, quando esse dinheiro pode ser utilizado na compra de medicamentos ou material escolar». É um gesto muito bonito. Por vezes, durante a leitura do artigo, pensei que se escrevia sobre Jesus Cristo ou sobre o Padre Américo.
Todo o artigo é fenomenal como extensão da propaganda oficial de Cuba e poderia estar aqui imenso tempo a dissecá-lo. O embaixador diz que não há «esquadrões da morte» nem tortura, diz que recebeu líderes da oposição e que estes nunca referiram essas torturas e assassinatos (risível se avaliarmos as condições em que vive e «existe politicamente» a possível oposição), diz que não há perseguições a padres e que os homossexuais, longe de ser perseguidos, até são protegidos e que «existe um bairro na capital cubana, perto do Capitólio, onde estes se reúnem e convivem em total liberdade». Isto é só uma hipótese e uma completa especulação, mas este «bairro» soa-me mais a gueto que a outra coisa.
Mas, entre todas estas barbaridades que saíram da caneta de Alfredo Duarte Costa, a que mais me chocou e levou à náusea foi este ter dito que a prostituição existe em Havana, sim, «como em qualquer outra cidade do mundo» mas «em muito menor número» comparativamente (suponho) a essas grandes urbes do mundo desenvolvido. E, o pior de tudo, é o ex-embaixador em Havana dizer isto: «as que recorrem a este tipo de vida são jovens que não querem trabalhar e que aspiram a comprar artigos de luxo, como roupas de marca, perfumes e outros bens de consumo estrangeiros». Que a estupidez fazia parte do carácter do embaixador e do património português que o homem aparentemente levou para Havana já eu tinha percebido, mas não pensei que chegasse a uma atitude que tem tanto de machista como de desumano como de ignorante. Porque ofende centenas ou milhares de pessoas que vivem na miséria. Pessoas que se prostituem por mais uns quantos sabonetes ou bens de consumo alimentar (não esquecer o racionamento) ou mesmo médicas que, por não ganharem o suficiente para se sustentarem a si e às suas famílias, escolhem a via da prostituição (com turistas, suponho) como a única maneira de terem uns dólares ou pesos extra ao fim do mês.
Alfredo Duarte Costa pode ser visto como «doutor» e «Sua Excelência» pela lente institucional, mas de mim não me merece um pingo de respeito. Não por ser amigo de Fidel Castro - já que a amizade, sempre aleatória, não escolhe propriamente o carácter ou a obra - mas por ser completamente cego, ignorante, desumano e desrespeitador do sacrifício que milhões de cubanos têm feito para sustentar, uns com esperança e outros com uma enorme angústia, a «Revolução» de Castro que supostamente lhes traria uma sociedade justa. O antigo embaixador acaba mesmo com uma frase da Grécia clássica que revela bem como o cérebro veio de lá impregnado de propaganda: «é desejável alcançar a felicidade individual, mas é muito mais belo alcançar o bem comum». Do ponto de vista psicológico, é curioso ver como alguém atribui a Fidel Castro um carisma do outro mundo e não se consegue enxergar como uma «vítima» desse carisma, como um apaixonado por Fidel.
Até posso estar a atirar no escuro, mas algo me diz que, se Alfredo Duarte Costa tivesse vivido uns cinquenta ou sessenta anos antes e tivesse sido embaixador na Alemanha de Hitler, teria saído de lá nazi e com uma carteira de pele judaica no bolso, oferta de Adolf, que afinal se tinha revelado uma excelente companhia para jantar. E nunca ninguém disse o contrário. Se calhar Adolf até teria umas piadas giras sobre judeus que animassem uma bela ceia de rosbife com um licor qualquer da Bavária.
Adão e Eva em Cuba
Os habitantes da maior ilha das Caraíbas gostam de dizer que são dos povos com maior sentido de humor da América Latina. E, para o provar, recordam que Adão e Eva eram cubanos: não tinham roupa, andavam descalços, não os deixavam comer maçãs e ainda lhes explicavam que viviam no paraíso.
Filipe Fialho, Visão História (Dezembro 2008)
Filipe Fialho, Visão História (Dezembro 2008)
México
Há algumas semanas atrás assisti a uma pequena palestra de um historiador mexicano sobre o liberalismo no México do século XIX. No final, perante um silêncio ignorante e ensurdecedor, ninguém ousou colocar uma única dúvida em toda aquela mescla de acontecimentos. Eu próprio sou réu nesta situação. As únicas coisas que me vinham à cabeça eram o Nacho Libre (ainda por cima com o Jack Black, que é americano), o Juan Rulfo, o Pancho Villa e uma pergunta deveras pertinente, que obviamente nem passou do cérebro para a boca: «o Zorro existiu mesmo?». Com tudo isto, resta perguntar: o que sabemos mesmo nós do México ou da esmagadora maioria dos países fora da Europa? É bom avaliar antes o nosso conhecimento da história e cultura de outros países quando nos apetecer lançar umas farpas para a suposta «ignorância desses americanos». Ainda que a imagem do México que mais me vem à cabeça quando penso «México» é mesmo a do Nacho Libre. Ignorante me confesso.
Influenza
Os últimos dias tenho-os passado inteiramente dedicado a um «caso» com uma senhora descendente de espanhóis: a gripe. Ou pelo menos assim o parece, pela maneira como se agarrou a mim e não quer sair. O cérebro fica lento e preguiçoso, o corpo fica torpe e envelhecido, o espírito fica bem debilitado e escondido debaixo da pilha de lenços de papel usados. Provavelmente dir-me-ão que é normal, mas a verdade é que já estou farto dela como se tratasse de um familiar que, desde que nasci, me visita algumas vezes por ano e, de uma forma realmente irritante, não me deixa trabalhar enquanto cá está. Embora nunca chegasse a ter asma, em pequeno cheguei a estar algumas vezes com os pés para a cova. Como prémio de sobrevivência, ganhei a capacidade de me tornar num verdadeiro instrumento meteorológico infalível na detecção de mudanças climatéricas. Em suma, se eu fosse Aquiles, o sistema respiratório seria o meu calcanhar. E a prima espanhola, a «influenza», sabe-o.
sábado, dezembro 06, 2008
Estado de natureza
Uma das grandes questões da Humanidade é a de saber se o homem é naturalmente bom ou naturalmente mau. Sempre apostei na segunda - uma crença, aliás, empiricamente confirmada - mas, ao fim de tantos anos, começo a pensar que haverá uma «natureza humana» bastante mais absoluta num outro plano, numa dimensão bastante diferente. Ou seja, não tem nada a ver com intenções, tem a ver com destino: o estado natural do homem é o fracasso. O falhanço. Felicidade e sucesso serão sempre excepções a aplaudir. Vivam segundo as expectativas naturais do ser humano e vão ver que a mó de baixo não virá de forma surpreendente.
Cidre
Cidre fascinava-os e repelia-os no mesmo e mero acto de estar presente, e na obcecada concentração com que o acometiam poderíamos sem dificuldade encontrar semelhanças com o estupro que um hotentote robusto e desinibido inevitavelmente praticará na pessoa esguia duma princesa sueca, se um e outra se encontrarem numa azinhaga à noite, para desgraça de ambos.
Nuno Bragança, Estação
sexta-feira, dezembro 05, 2008
Tudo na mesma
Ontem, um dos fiéis de Barack Obama, em comovente profissão de fé, garantiu-me que «a escolha do Gates [secretário de Estado da Defesa actualmente, e futuramente, em funções] foi muito inteligente, porque assim faz com que o problema do Iraque continue com quem o criou». Ora, para além da cegueira óbvia, a afirmação deixa-me a pensar no que se diria se fosse John McCain a tomar essa decisão de manter o secretário de Estado da Defesa. De seguida, curiosamente, e num momento de rara clarividência, quem disse a frase certa no momento certo foi Odete Santos, que se encontrava nas redondezas. Citando Lampedusa, tirou-me as palavras da boca: «É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma». E eu surpreendido, sem querer acreditar que tinha acabado de concordar com Odete Santos.
segunda-feira, dezembro 01, 2008
Chuva purificadora
No suposto dia da independência de Portugal, o céu está cinzento, pouca luz há, e chove como há muitos meses não chovia. Não sou supersticioso nem me considero um crente, mas isto há-de querer dizer alguma coisa, não? Já dizia o perturbado Travis Bickle em Taxi Driver: «Thank God for the rain to wash the trash off the sidewalk». Pense nisto antes de pôr a bandeirinha à janela.
Subscrever:
Mensagens (Atom)