Dois passageiros num compartimento de comboio. Não sabemos nada do seu passado, origem ou destino. Instalaram-se como se estivessem em casa, ocupando mesinhas, cabides, cubículos para bagagem. Há jornais, casacos e malas de mão espalhados pelos lugares vagos. Abre-se a porta e entram dois novos viajantes. A sua chegada não é bem-vinda. Há uma evidente má-vontade por terem de se chegar , retirar as coisasdos lugares vagos e partilhar o espaço disponível. Neste caso, os primeiros passageiros comportam-se de forma particularmente solidária, apesar de não se conhecerem. Confrontam, como grupo, os recém-chegados. É o «seu» território que está a ser disputado. Qualquer um que apareça é visto como intruso. Consideram-se nativos e revindicam a totalidade do espaço. Esta atitude não se pode explicar de forma racional, parece estar profundamente enraizada.
Hans Magnus Enzensberger, A Grande Migração
segunda-feira, julho 21, 2008
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