quinta-feira, julho 03, 2008
Lester Ballard
Lester Ballard é uma das figuras mais sinistras, mais assustadoras, mais violentas, mais desequilibradas e mais imprevisíveis que já conheci. E é também uma personagem de Cormac McCarthy, saída do livro Filho de Deus (Child of God). Ballard deambula pelas montanhas, pelos bosques e pelas cavernas de uma região no Tennessee (estado, aliás, que McCarthy bem conhece, já que foi lá que nasceu), levando uma vida solitária, sem afecto nem qualquer tipo de solidariedade. Um assassino impiedoso, mas que não mata por qualquer razão específica, nem por obsessões, mas por uma série interminável de ódios bem primitivos encavalitados uns nos outros. O facto de Ballard ser visto, de vez em quando, a passear com um vestido de mulher e a cabeleira (e escalpe) de raparigas assassinadas talvez ajude a explicar um ou outro comportamento (rever o Psico de Hitchcock também ajuda a estabelecer pontes), que Lester leva a cabo sem qualquer escrúpulo, mágoa ou remorso. São, aliás, os casais de namorados clandestinos nos carros que param em sítios desertos para o namoro que figuram entre as principais vítimas. E são as raparigas que lhe parecem insinuar sexualidade que lhe despertam o instinto mais primário, que oscila entre a predação e o ódio ressabiado.
Ballard é, para muitos leitores, uma personagem abjecta que vai despertando simpatias ao longo da obra. A mim, o homem não me despertou qualquer abjecção, mas simplesmente um sentimento bem vincado: Ballard é a personagem humana mais selvagem que me lembro de ter conhecido num romance.
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