terça-feira, julho 08, 2008

A good WC is hard to find


As casas de banho públicas deixam-me a tremer até ao osso. Nunca pensei que isto chegasse a este ponto. Para ser científico, deixam-me em completo estado de paranóia. A aventura repete-se sempre da mesma forma: entro no sítio, normalmente, empurrando a porta para o lado (que se vem a fechar automaticamente atrás de mim), dirijo-me ao local do crime e faço o que tenho a fazer. Até aqui é sempre perfeito, tal como se fazia antigamente nas esquinas das ruas e nas árvores da escola quando se era pequeno. Tempos em que o pragmatismo se sobrepunha à funcionalidade. Por mim tudo bem, mijo num complexo construído em laboratório, de regra e esquadro, para o efeito, como mijo do alto de um penedo para o centro da colónia de formigas, exercendo ocasionalmente o meu direito darwiniano de abuso dos mais fracos (pelo que sei e sinto quando me sento na base de uma árvore, no campo, as formigas comer-nos-iam a todos vivos se tivessem mais metro e meio de altura).

Mas toda a expressão que traga «público» ou «pública» no comboio, normalmente no fim do mesmo, é sinal de tempestade. As casas de banho não são excepção. O cheiro a urina, que mais parece estar espalhada pelas paredes e, não raras vezes, pelo espelho, pauta o ritmo acelerado que qualquer pessoa normal leva para acabar o mais rápido possível o seu trabalho e sair dali. As figuras sinistras que, uma ou outra vez, povoam estes locais quebrando (durante largos segundos) a regra de nunca cruzar o olhar com outro homem dentro do teatro de guerra. As torneiras que se desligam sozinhas após três segundos. O sabonete esgotado. O papel inexistente. O secador avariado. São todos ecos da única palavra que pode qualificar uma casa de banho pública: obsoleto.

Mas o pior, o meu pesadelo, é mesmo, a partida. Como tirar os habitantes desta colónia de férias de bactérias das mãos? Mexe-se na torneira, lava-se as mãos, mexe-na caixa do sabonete, lava-se, seca-se. E depois, quem abre a porta? Já alguém pensou que, invariavelmente, todas as almas que já entraram numa determinada casa de banho pública tiveram de abrir a porta para sair? O que quer dizer que pelo menos uma mão, de cada uma das pessoas que já usaram essa casa de banho, esteve no puxador da porta. Como mexer no puxador sem estragar a meticulosa missão de lavagem? Ninguém sabe. Para minha contínua perdição psicológica, ainda nenhum arquitecto pensou nisso a fundo.

Antes a única coisa com a qual nos preocupávamos era se estaria alguém à vista ao pé da árvore de eleição. Na idade selvagem dos anos 80 e 90. Tempo em que o homem usava o meio-ambiente à vontade. Hoje em dia, é o meio-ambiente que usa o homem. Ou, pelo menos, me usa a mim.

1 comentário:

António disse...

"Como mexer no puxador sem estragar a meticulosa missão de lavagem?"

Caro João, quando o lavatório é colocado fora da casa-de-banho o problema fica imediatamente resolvido. Pena que a maior parte dos arquitectos não pense nisso, mas sim em como fazer os cubículos cada vez mais apertados e com menos segurança.

Coisas da vida...


Abraço