quarta-feira, julho 30, 2008

Inferno

Em certos dias que por aí têm passado, tenho pedido aos céus que me levem. O meu reino por um cavalo. A minha alma por um sopro de ar fresco que me salve de derreter. Porquê tanta gente com medo de ir parar ao Inferno, quando - paradoxalmente - adoram este calorzinho de fazer bater os dentes e não perdem uma oportunidade para esturricar deitados na areia com o corpinho ao léu? Ir para o Paraíso, escapando assim das chamas e dos graus centígrados do Inferno, devia estar reservado aos mais inaptos para sobreviver nesse destino dantesco dos pecadores. Uma lista de espera, como se faz para os candidatos a transplante, seria uma boa ideia.
Enquanto caminho pelas ruas debaixo deste sol infernal e a roupa se vai pegando ao meu corpo como uma nova pele, vou desatando a pensar em novas coisas para oferecer em troca de algo fresco. «Senhor, leva-me a alma e dá-me uma ventoinha portátil». «Não dou: alma muito herética», responde-me telegraficamente o velho. «Senhor, que maior prova queres da tua omnipotência se sobrevives fresco aí em cima tão perto do Sol?». «Senhor, dai-nos o Outono e leva o Al Gore para tapar o buraco do ozono», e ninguém responde. Pelo menos, vendo as notícias, vejo que não tenho resposta, já que o Al Gore até parece ter voltado à política. Vou tentar uma abordagem budista ou, quem sabe, islâmica. Pode ser que lá para Setembro já me chova na cabeça.

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