quarta-feira, outubro 24, 2007

Gonçalo M. Tavares



Gonçalo M. Tavares não é um mago das palavras. Não tem uma escrita poética nem melódica. As palavras que correm nos livros de Tavares são curtas, escassas e científicas. «A ciência da carne, do metal, do osso» - poderia ser o lema deste escritor. Não é um escritor que escreva calhamaços para o Nobel ou para a crítica política. Não é. Mas garanto que nunca nenhum escritor me fez pensar como Gonçalo M. Tavares me faz pensar depois de ler um livro seu. Para qualquer escritor, então, é uma leitura obrigatória: um dínamo da mente humana.

[João Carlos Silva]

8 comentários:

manuel a. domingos disse...

plenamente e completamente e positivamente de acordo

Paulo Rodrigues Ferreira disse...

dicordo. o m tavares não escreve à V. Ferreira, claro que não. Mas não se pode dizer que não é melódico ou poético. depende dos livros. Em poesia 1, temos disso. O mesmo acontece no livro da dança. depois, a questão do Nobel ou da crítica política. Isso está tudo na obra dele. Ele, como sabes, é um autor do «prémio» e tudo o que é feito em política - e na natureza humana- está na obra dele. penso que essas perspectivas não são as mais correctas.

João Carlos Santana da Silva disse...

A minha opinião mantém-se, Paulo. Talvez o manuel a. domingos concorde comigo. E mantenho a minha perspectiva porque a questão da crítica política, por exemplo, é uma muito vaga nas obras de Gonçalo M. Tavares. Ou seja, é mais do foro da interpretação antropológica e social do que propriamente uma crítica política com tempo e espaço - e neste ponto lembro-me do homem de Lanzarote (Jangada de Pedra ou Ensaio Sobre a Cegueira, por ex.), mesmo que este tenha o objectivo da «universalização» das obras através das personagens e locais sem nome. Em relação ao Nobel, não sei bem, mas penso que só a partir dos primeiros prémios é que Tavares terá pensado nessa hipótese. Porque os Nobéis precisam de «tratados» (muitas vezes com um verdadeiro conteúdo de 100 páginas num livro de 400) e de contextualização política. Acho que a publicação de Gonçalo M. Tavares na Caminho não é por acaso, mas não o estou a ver a lançar umas vaias a George W. Bush para entrar no historial do Nobel.

Quanto à «escrita melódica», de facto, o Poesia I é um bom livro. Mas não tem aquela fluência de escrita, de riqueza do texto, que outros têm. A verdadeira riqueza da obra de Tavares está nas entrelinhas, no espaço infinito que uma ou duas palavras de M. Tavares costumam deixar. Mas isso é a minha opinião.

Um abraço aos dois,

João

manuel a. domingos disse...

não gosto da poesia dele. gosto da prosa.

Paulo Rodrigues Ferreira disse...

´Pois, não deixas de ter a tua razão. Mas esses argumentos parecem-me um pouco simples. por exemplo, o beckett não fala de Bush mas levanta questões políticas. claro que não vais apanhar nomes nem ninguém aponta sistemas eleitorais nesses autores. mas a coisa está lá. além disso, essa linguagem deturpa o conceito de Nobel. nem sempre o nobel é político.

percebeo o que queres dizer com escrtia científica. acontece que não se pode dizere «apenas» isso. o philip roth ou o rubem fonseca são líricos? o moura pereira é lírico? explica-me o que é isso da melodia, por favor. é escrever à século XIX? nesse caso, Spnínola tem melodia. é escrever palavras complicadas? julgo que toda a gente conhece o carácter «científico» do Tavares,só te digo que isso é demasiado linear. não pode ser.

João Carlos Santana da Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Carlos Santana da Silva disse...

Não falei em lirismo, Paulo. Nem faço depender da «beleza» a literatura. O Beckett (embora não seja um autor que que aprecie muito) é um bom ponto de «comparação» - crime máximo - com Tavares. Ou seja, é como se fosse uma escrita «racional», ao sabor do raciocínio instantâneo. E isso é bom. E atenção que não digo que seja escrito em cima do joelho. Muito pelo contrário. É uma escrita pensada e inteligente, mas não «engordada» com muitos outros recursos.

O Philip Roth, por exemplo, ou o Rubem Fonseca, são tudo menos líricos. É a escrita de «personagem». Como se o narrador se tornasse uma personagem saída do próprio livro, seja de bairros brasileiros ou de Brooklyn. E olha que o Roth menciona bastantes nomes, bastantes sítios e bastantes situações histórias. E sem «cantar» de maneira lírica.

ana conda disse...

Pois eu acho, na maior parte dos livros dele, um dinheirão cada palavras.