quarta-feira, outubro 03, 2007

Fuck

Outra coisa fantástica em Roth é a sua utilização da linguagem, do calão. Não há palavras proibidas no vocabulário (à excepção, talvez, de «amor»). Em geral, nos livros de Philip Roth, página sim página não lá está «cunt», «fuck her/him», «cock», e por ai fora. Coisa mais rara na literatura lusitana. Há vergonha de explorar as palavras tabu. Eu incluo-me neste grupo, como bom filho ateu de católicos, de cuja influência e limites não consigo fugir.

Coisa melhor ainda é que a tradução de Deception (na Bertrand Editora) não tem piedade do leitor e traz à letra as palavras de Roth. As personagens fodem e vêm-se, assim mesmo sem aspas. As palavras são palavras e é preciso descrever a acção. É preciso falar como em Brooklyn. Aplaudo a tradução para português. Para não acontecer como nas traduções de séries (Sopranos incluídos) que transformam uma frase «they were fucking» num «estavam a fazer aquilo». O estilo depende do autor, mas a partir daí o tradutor deve deixar de ser tímido. Nisto da literatura crua nunca se mata o mensageiro: numa tradução nunca se mata o tradutor pelo vernáculo; num diálogo nunca se mata o narrador pela escolha de vocabulário. E Roth, felizmente, sabe isso.

[João Carlos Silva]

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