Muitas das gravações eram filmes eróticos que, observava António, pareciam eivados de terror metafísico. Rostos avermelhados escancaravam os olhos, grandes sexos pendiam entre coxas de velhos prestes a desfazer-se, e as mulheres jaziam, com falsas tatuagens a que o calor do estúdio derretia os contornos, e abriam as vulvas que ofereciam a cor de carne retalhada.
E António Eliseu, que sempre tinha achado ser a pornografia um recurso menor para pobres solitários, via-se a partilhar com os outros a atenção, o olhar gelado, severo, com que todos seguiam a tormenta dos corpos, a sua dança obscena e tão desesperada, essa aflita matéria uivante e só.
- Hélia Correia, Soma
[João Carlos Silva]
quarta-feira, maio 09, 2007
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