sábado, maio 26, 2007

Parabéns



Parabéns ao John Wayne, que faz 100 anos. Durante a maior parte da minha vida, achava John Wayne um actor ridículo. Pesadão, inexpressivo, monocórdico, demasiado castiço para ser verdade. Quando largava frases fortes (ou melhor, «curtas e grossas», como ele prvavelmente diria se fosse português), eu tinha vontade de rir, pela aparente caricatura que seria um homem assim - um actor assim - tentar ser «sério».

Com o tempo, e com a aproximação da minha condição de macho dominante, digo, de homem adulto, Wayne surgiu aos meus olhos de forma algo diferente. Apercebi-me que ele era o ídolo de todos os homens. Aquele que todos os homens quereriam ser, mais tarde ou mais cedo, numa ou noutra altura, mesmo sem realmente quererem ser como ele, ou ser ele. Qualquer homem que se preze sabe que dentro de si há uma natureza mais animal, mais primitiva, de ser visto como «macho», como o homem que a todos guarda, que lidera e protege o seu grupo nas migrações pela selva. John Wayne simboliza essa vontade escondida. A «personagem» que deu ao mundo, e que simbolizava a sua própria noção dessa natureza primitiva, confundiu-se com o homem. Em parte, talvez se tenha, de facto, tornado o homem. Cá no fundo, penso que todos nós, em algum dia das nossas vidas, já quisemos ou quereremos ser um pouco como John Wayne. O próprio cinema viveu dele, viveu disso, durante muito tempo. E viveu bem, diga-se de passagem.

Parabéns ao John Wayne, que faz 100 anos. Se o virem na rua, se o virem por aí, dêem-lhe um valente aperto de mão, que o homem bem merece.

[João Carlos Silva]

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