O que me chateia em Portugal Hoje - O Medo de Existir, o popular livro de José Gil, é a forma como o autor conceptualiza banalidades, complicando-as e, por vezes, enevoando-as. O que aos menos distraídos parecerá óbvio - a falta de civismo e de memória dos portugueses, o seu conformismo, o seu descomprometimento - surge nas entrelinhas de um livro de conceitos que peca por alguma arrogância «afrancesada» que hiperboliza a realidade e falha em perceber o essencial: o «ser português» não é novo.
Por outro lado, gosto da tentativa de um filósofo enveredar pela reflexão sobre a actualidade, coisa que faz muita falta. Hans Magnus Enzensberger (embora seja arriscado rotulá-lo como filósofo ou ensaísta, para alékm da obra poética) fá-lo de forma crua e directa, sobretudo quando «pensa» o terror e o conflito que pairam nas sombras da Europa dos últimos trinta/trinta e cinco anos. José Gil fá-lo mal, mas merece a atenção devida pela sua intenção, muito louvável, de ameaçar sair do fechado círculo académico dos filósofos. «Ameaçar sair» porque, de facto, acaba por não sair, visivelmente demasiado preso à fenomenologia. Por vezes, torna-se gritante que Portugal é um planeta distante da vista de José Gil. Tal como José Gil (e por isso sempre estranhei o «best-sellerismo» do livro) será, sem dúvida, um planeta estranho à maioria do leitor médio em Portugal.
Por outro lado, gosto da tentativa de um filósofo enveredar pela reflexão sobre a actualidade, coisa que faz muita falta. Hans Magnus Enzensberger (embora seja arriscado rotulá-lo como filósofo ou ensaísta, para alékm da obra poética) fá-lo de forma crua e directa, sobretudo quando «pensa» o terror e o conflito que pairam nas sombras da Europa dos últimos trinta/trinta e cinco anos. José Gil fá-lo mal, mas merece a atenção devida pela sua intenção, muito louvável, de ameaçar sair do fechado círculo académico dos filósofos. «Ameaçar sair» porque, de facto, acaba por não sair, visivelmente demasiado preso à fenomenologia. Por vezes, torna-se gritante que Portugal é um planeta distante da vista de José Gil. Tal como José Gil (e por isso sempre estranhei o «best-sellerismo» do livro) será, sem dúvida, um planeta estranho à maioria do leitor médio em Portugal.
2 comentários:
Pois é, já dizia o Eça que estar longe é uma lente para se ver a pátria. No caso eciano, a distância servia para olhar as virtudes, no caso vertente, as fragilidades. Acredito, de facto, que o distanciamento, emocional e geográfico, acorda visões que os portugueses de Portugal não terão ou não verbalizarão. Eu, estrangeirada que não sei bem de que terra sou e distribuo lealdades nacionais entre dois países, não discordo muito da visão gileana (e será que isto se diz?).
Cara Blondwithaphd,
Refiro-me não à distância física de José Gil em relação ao país, mas de outra distância, uma que impede uma certa sintonia com as reais potencialidades dos portugueses. Aquela distância que leva muitos a sonhar com a possibilidade de fazer uma Inglaterra em Portugal, ou uma França em Portugal (sendo que, neste último caso, ficaríamos a perder).
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