sábado, setembro 27, 2008

Paul Newman (1925-2008)



Paul Newman pertence a um lote de actores aos quais nunca apontarei defeitos. É um dos grandes, dos verdadeiramente Grandes de Hollywood, que soube deixar a sua marca indelével na indústria, no imaginário e, sobretudo, na memória do público. Deixa muitos fãs - eu sou um deles -, mas deixa, sobretudo, sem dúvida, muitos amigos no meio. Soube envelhecer e tornar-se mais do que um velhote simpático, soube tornar-se um senhor. Depois de Marlon Brando, poucos conseguiram imprimir um verdadeiro carácter sexual à sua figura dramática. Passaram por cá James Dean, Steve McQueen, Bogart e outros, mas Paul Newman sobrevivia como o último grande «sex-symbol» de (na minha opinião) uma das épocas douradas de Hollywood. Era um homem, um «Homem com H grande» e isso definia a sua presença em frente às câmaras.

Deixou-nos o inesquecível Eddie Felson de The Hustler (1961) e The Colour of Money (1986), dois dos meus filmes favoritos, o segundo sendo uma sequela feita por Scorsese naquele que é uma das mais brilhantes revitalizações de uma personagem da história do cinema. Deixou-nos Cool Hand Luke (1967), um belo filme e um simpático herói outlaw. A mim, impingiu-me uma ou duas boas aparições do mal-amado Robert Redford (não aprecio) em The Sting (1973), recuperando a aura de Eddie Felson e profetizando a sequela de Scorsese, e em Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969). Entre os vários westerns que protagonizou, marcou a estreia de Arthur Penn na realização de longas metragens com The Left Handed Gun (1958), um western simpático mas ainda sem a perfeição de Bonnie and Clyde que Penn viria a demonstrar. Não são menos bem sucedidas as suas transições para personagens mais sérias, mais estabelecidas, como aconteceu com Frank Galvin em The Verdict (1982), trabalhando com Sidney Lumet, ou mesmo na sua última grande aparição no grande écrã, em Road to Perdition (2002) de Sam Mendes.

Paul Newman foi, era, é para mim um dos mais perfeitos actores de sempre do cinema. As personagens todas levam algo de si. Os filmes perdem muita da sua mediocridade quando Newman entra em cena. Qualquer argumento pobrezinho passa despercebido quando interpretado por Newman, cuja energia e sexualidade enchia o écrã sem grande esforço. Paul Newman não precisava, aliás, de falar muito para chamar a atenção. Nisso é tão bom quanto McQueen. Mas não é algo que se aprenda, é algo que se tem. Pouco outros actores não desapareciam à entrada do Eddie Felson. Scorsese sabia isso e massacrou Tom Cruise/Vincent em The Colour of Money. As opções políticas de Paul Newman pouco me interessam. Até poderia ter sido um Presidente Democrata. Interessa-me o seu legado em Hollywood, e a maneira simpática como se relacionou com o mundo, fora do show-biz. O maior elogio que se lhe pode fazer é mesmo reconhecer isto: que ele foi um dos verdadeiros Grandes do cinema. E que, com os filmes e personagens que nos deixa, é certo que, em Hollywood, Paul Newman nunca morrerá.

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