Manuel Tiago deve ser, sem dúvida, o pseudónimo menos arisco da história da literatura. Pouco acrescenta ao universo da literatura, pouco nos dá de inteligência na escrita, raramente nos surpreende. No entanto, é pela sua previsibilidade, e pela proximidade óbvia do universo mental que Cunhal queria formar, que merece sempre uma vista de olhos. Na órbita do neo-realismo, não se pode ir mais fundo no pensamento comunista do que com Manuel Tiago. A divisão é linear e cega entre «bons» e «maus», onde todos os pais de família são operários são comunistas são bons homens são heróis. Se há um destes que não é boa pessoa, é um «bufo» e, obviamente, não é comunista - não se «junta à luta». A divisão quase infantil entre quem pratica o bem lutando e quem pratica o mal denunciando os mártires à PIDE é de louvar. Desta forma, Manuel Tiago também. Fica um revelador excerto final de um conto, de levar às lágrimas o líder do PNR:
«Esperando obras, a "Sala 3" ficou deserta. Mais fria e mais triste. Pela ausência de um exaltante colectivo de homens perseguidos mas confiantes no futuro. E porque os pombos deixaram de voar até às janelas gradeadas por não mais aí encontrarem mãos amigas oferecendo pão.»
- Manuel Tiago, Sala 3 e outros contos
[João Carlos Silva]
segunda-feira, abril 23, 2007
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