Victor Cunha Rego não é um dos meus cronistas favoritos. De todo. O tom de Cunha Rego é muito mais suave do que o mínimo por mim exigido para se poder, realmente e decididamente, discordar de algo. Não que se deva ser sempre ácido ou apontar para o sarcasmo forçado, que acaba sempre na graçola fácil, tão banal nos dias que correm. Mas por vezes é essencial lançarmo-nos de cabeça na crítica, comprometermo-nos a sério, e Cunha Rego, talvez por hesitação, talvez por estilo, chegava mesmo a ser imperceptível em algumas questões, tal era a sua brandura.
Por outro lado, é uma voz crítica importante. Falecido em 2000, Victor Cunha Rego deixou no mercado, justamente no ano anterior, 1999, um livro que reúne muitos dos seus artigos escritos no Diário de Notícias entre 1992 e 1999, data em que saiu. Os Dias de Amanhã demonstram bem a importância de haver uma voz de esquerda que seja igualmente capaz de criticar a lógica de mercado (de forma previsível) como os partidos e políticas de orientação socialista (de forma saudável). Cunha Rego, ele próprio um socialista, ou ex-socialista, que ajudou a fundar o Partido Socialista em Portugal e chegou mesmo a ser compagnon de route de Mário Soares, conseguiu distanciar-se do centro ideológico e partidário. Ou seja, conseguiu ser (ou continuar a ser) um jornalista sem nunca ter deixado de ser um socialista e, usando da palavra sem qualquer desrespeito, um político. Ao contrário da suposta ética que por aí reina nas novas «escolas» do jornalismo, esta relação directa e pessoal entre política e jornalismo é possível e até saudável para a capacidade crítica do próprio leitor, se houver honestidade e transparência.
Os anos de Guterres são o grande alvo de Victor Cunha Rego nestes seus anos do Diário de Notícias. Compreensível, claro, se tivermos em conta que são os anos da «governação de Guterres», mas louváveis porque vão além das críticas que a esquerda faz aos governos: não ser «suficientemente de esquerda». Cunha Rego critica as incompatibilidades de Guterres (discordo da oposição entre ser socialista e ser católico), as políticas fiscais, a posição política do governo, a relação entre Guterres e o PS. Mas discorre também sobre Cavaco, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Ferreira do Amaral e outras figuras gradas do PSD. Não concordo a maior parte das vezes, mas o facto de o poder ler sem me rir ou sem me irritar só demonstra o quão importante ele era, e a falta de qualidade da maior parte dos cronistas à esquerda do PSD nos dias que correm.
Porque é que valia a pena lê-lo? A resposta dá-a ele mesmo, resumindo em boa parte o seu estilo de cronista: «Porque não abdicamos das revoltas relativas. Cépticos sim. Indiferentes não».
Por outro lado, é uma voz crítica importante. Falecido em 2000, Victor Cunha Rego deixou no mercado, justamente no ano anterior, 1999, um livro que reúne muitos dos seus artigos escritos no Diário de Notícias entre 1992 e 1999, data em que saiu. Os Dias de Amanhã demonstram bem a importância de haver uma voz de esquerda que seja igualmente capaz de criticar a lógica de mercado (de forma previsível) como os partidos e políticas de orientação socialista (de forma saudável). Cunha Rego, ele próprio um socialista, ou ex-socialista, que ajudou a fundar o Partido Socialista em Portugal e chegou mesmo a ser compagnon de route de Mário Soares, conseguiu distanciar-se do centro ideológico e partidário. Ou seja, conseguiu ser (ou continuar a ser) um jornalista sem nunca ter deixado de ser um socialista e, usando da palavra sem qualquer desrespeito, um político. Ao contrário da suposta ética que por aí reina nas novas «escolas» do jornalismo, esta relação directa e pessoal entre política e jornalismo é possível e até saudável para a capacidade crítica do próprio leitor, se houver honestidade e transparência.
Os anos de Guterres são o grande alvo de Victor Cunha Rego nestes seus anos do Diário de Notícias. Compreensível, claro, se tivermos em conta que são os anos da «governação de Guterres», mas louváveis porque vão além das críticas que a esquerda faz aos governos: não ser «suficientemente de esquerda». Cunha Rego critica as incompatibilidades de Guterres (discordo da oposição entre ser socialista e ser católico), as políticas fiscais, a posição política do governo, a relação entre Guterres e o PS. Mas discorre também sobre Cavaco, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Ferreira do Amaral e outras figuras gradas do PSD. Não concordo a maior parte das vezes, mas o facto de o poder ler sem me rir ou sem me irritar só demonstra o quão importante ele era, e a falta de qualidade da maior parte dos cronistas à esquerda do PSD nos dias que correm.
Porque é que valia a pena lê-lo? A resposta dá-a ele mesmo, resumindo em boa parte o seu estilo de cronista: «Porque não abdicamos das revoltas relativas. Cépticos sim. Indiferentes não».
2 comentários:
roubei-te uma img... espero que ñ leves a mal...
Ora, esteja à vontade... Com certeza também a «roubei», originalmente, do Google.
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